Escolhas distintas: o papa Francisco desfilou em carro aberto nas ruas; as autoridades brasileiras ficaram no Palácio (Roberto Stuckert Filho / presidência)
Da Redação
Publicado em 30 de agosto de 2013 às 16h23.
São Paulo - Há, na maior parte dos setores que compõem o mundo dos negócios brasileiro, uma sensação de que as coisas vão mal — e não prometem melhorar no curto prazo, com os números que vêm saindo pouco a pouco, penosamente, dos computadores do governo.
Rolaram dali, nestes últimos dias, dados mostrando que o primeiro semestre de 2013 teve um déficit recorde nas contas externas brasileiras — próximo aos 45 bilhões de dólares, um aumento superior a 70% em relação ao mesmo período do ano passado. Com alta do dólar e tudo, o saldo na balança comercial encolheu.
Ao mesmo tempo, os brasileiros que viajam para o exterior não tomaram conhecimento do real mais fraco: torraram mais de 12 bilhões de dólares neste primeiro semestre. Os números do mercado de trabalho, único orgulho do governo nestes tempos enjoados, pioraram. Pela primeira vez em quatro anos, a taxa de desemprego parou de cair; na verdade, deu até uma subidinha, para 6%.
O ronco da inflação continua sendo ouvido, vago e persistente, por trás do coro de “tudo bem” que se canta no Palácio do Planalto. A inflação sob controle, que era uma certeza no começo do ano, virou um “talvez” já no meio de julho. Sabe lá Deus o que vai dar no fim do ano.
Nada disso, obviamente, cheira bem. Mais: a situação política não ajuda. A popularidade da presidente Dilma Rousseff vai do bico de um corvo para o bico de outro — na última pesquisa do Ibope feita para a Confederação Nacional da Indústria, notória chapa-branca do mundo empresário-cartorial, os índices da presidente desabaram outra vez.
Sua aprovação pessoal despencou para 45% — o pior número até hoje, e um choque nervoso para quem tinha mais de 70% de “ótimo” e “bom” há apenas um mês, segundo as pesquisas do mesmo Ibope-CNI. Há um caldo ruim cozinhando ao redor da presidente. Os mandarins do PT estão aflitos: uma boa parte deles está contra Dilma, outra boa parte não está a favor e o bloco que sobra tanto pode crescer como diminuir.
A presidente não sabe mais se o ex-presidente Lula, seu criador, está a favor ou contra ela. Fala bem (mais ou menos bem) pela frente, mas não se sabe ao certo o que fala por trás — e o que tem falado diretamente para ela só ela mesmo pode saber.
Em público, os conselhos que Lula tem dado parecem mais com os do Amigo da Onça. Num desses auditórios 100% seguros, os únicos em que pode dar as caras hoje em dia — um “Festival da Mulher Afro, Latino-Americana e Caribenha”, em Brasília e a portas fechadas —, Lula disse que o Brasil precisa ter “mais ministérios, e não menos”.
Será que estava falando sério? Ele começou por afirmar que não lhe cabia “dar palpite” sobre o assunto, depois disse que era “preciso saber o que cada ministério faz” e, por fim, anunciou que não era “nem para diminuir nem aumentar” — antes de decidir que o melhor mesmo é aumentar. A coisa não é mais bonita com os “aliados”.
Estão indóceis, impertinentes, indisciplinados e com fome; vai custar uma fábula botar essa gente toda de volta à linha. Não é nenhuma surpresa, assim, o comportamento atual do governo. De fraco, inepto e desconexo que sempre foi, já mostra sintomas de pânico, visíveis por não estar fazendo coisa com coisa.
A ministra de um desses ministérios que nunca deveriam ter existido decidiu que os beneficiários do Bolsa Família, para receber sua esmola mensal, deveriam fornecer o número de seu celular; logo em seguida, disse que não era bem assim.
O ministro da Saúde foi à Espanha em busca de médicos — mas em sua primeira reunião com os espanhóis descobriu que não sabia informar para onde esses médicos iriam após chegarem ao Brasil. A coisa vai por aí.
O melhor retrato deste governo foi dado por Dilma e suas altas autoridades: ficaram escondidos dentro do Palácio Guanabara, enquanto o papa Francisco fazia um desfile triunfal pelo Rio de Janeiro, porque não podem sair à rua. Foi Sua Santidade quem teve de ir a eles — como se estivesse visitando, num ato de caridade, os presos de uma penitenciária.