Manifestantes contra medidas de austeridade do governo argentino: o baixo crescimento na última década aumenta a instabilidade na América Latina (Agustin Marcarian/Reuters)
Filipe Serrano
Publicado em 22 de novembro de 2019 às 05h10.
Última atualização em 22 de novembro de 2019 às 14h44.
Entra ano, sai ano, e a economia da América Latina continua a decepcionar. Em 2019, os principais países da região (Brasil, México, Argentina, Colômbia, Chile e Peru) devem registrar um crescimento de apenas 0,5%, de acordo com as projeções recentes do banco suíço UBS. É a menor taxa de crescimento entre todas as regiões do mundo. Se o resultado se confirmar, será o oitavo ano seguido em que o desempenho econômico da América Latina fica abaixo da média mundial.
Segundo os analistas do UBS, este já é o mais longo e mais aprofundado ciclo de baixo crescimento latino-americano desde o início dos anos 90, quando a maioria dos países enfrentava uma inflação descontrolada. O resultado é ainda pior do que durante a “década perdida” dos anos 80, quando a maioria dos países sofreu uma crise da dívida externa. Com exceção da Colômbia, todas as demais grandes economias latino-americanas devem desacelerar em 2019. Para uma região que já sofre com desigualdade de renda, baixos níveis de investimentos e má qualidade da educação, o fraco crescimento contribui para a instabilidade política e social vista nos últimos meses.
“A América Latina parece estar presa em um redemoinho de mal-estar econômico e agitação social”, diz o banco. Para 2020 e 2021, a expectativa é de uma ligeira recuperação — puxada principalmente pelo Brasil —, mas ainda abaixo da média mundial. Deve levar tempo para a região decolar novamente.
ESPANHA
Apesar das medidas de austeridade e do rápido crescimento econômico nos últimos anos, a Espanha até hoje não conseguiu equilibrar as contas públicas totalmente. Em 2019, o déficit fiscal — a diferença entre gastos e arrecadação — deverá ficar perto de 3% do produto interno bruto. Segundo a consultoria britânica Oxford Economics, parte do problema tem relação com o desequilíbrio nas contas da Previdência. Ainda que os partidos PSOE e Unidos Podemos, de esquerda, consigam apoio para formar um novo governo até o fim do ano, o ambiente político conturbado dificilmente permitirá a realização de reformas.
ESTADOS UNIDOS
A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China tem atingido em cheio um setor específico da economia americana: a agricultura. Desde que as tarifas de importação foram impostas pelos Estados Unidos no ano passado e, em seguida, retaliadas pela China, houve uma queda brusca nas vendas de produtos agrícolas americanos para os chineses.
As exportações acumuladas em 12 meses caíram de 15 bilhões de dólares, em agosto de 2018, para 4,5 bilhões, em abril de 2019 — um nível que não era visto havia uma década, segundo uma análise da agência de classificação de risco Moody’s. As vendas recuperaram-se um pouco de lá para cá, mas continuam baixas. Segundo a Moody’s, a queda nas vendas, acompanhada de um fraco desempenho nos preços internacionais de produtos agrícolas, foi um golpe nos rendimentos dos agricultores americanos. Desde a crise de 2008 não se via um número tão alto de pedidos de falência de agricultores nos Estados Unidos quanto agora.