Revista Exame

“Precisamos de cidadãos, não de consumidores”

Para o economista inglês Tim Jackson, o atual modelo, que persegue o crescimento econômico a qualquer custo, incentiva as pessoas a consumir mais do que precisam

Tim Jackson: “Os países ricos deveriam abrir mão do crescimento em favor dos emergentes” (Graham Jepson/EXAME.com)

Tim Jackson: “Os países ricos deveriam abrir mão do crescimento em favor dos emergentes” (Graham Jepson/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de novembro de 2013 às 05h00.

São Paulo - Há alguns anos, as ideias do economista inglês Tim Jackson seriam tratadas como mais um devaneio ecológico. Mas a crise financeira veio e o atual modelo econômico foi colocado em xeque.

Professor de desenvolvimento sustentável da Universidade de Surrey, no Reino Unido, e ex-assessor do governo inglês, Jackson defende a tese polêmica de que o avanço do PIB nos países ricos não resulta em qualidade de vida para as pessoas. Pior: consome recursos naturais de extrema importância para o futuro da humanidade.

No final de outubro, o economista virá ao Brasil para lançar seu livro Prosperidade sem Crescimento, pela Editora Planeta Sustentável.

1) EXAME - Quais são as evidências que dão sustentação à sua tese de que crescimento econômico não é importante?

Tim Jackson - A maior parte das sociedades persegue o crescimento econômico, mas raramente nos perguntamos se isso está resultando em prosperidade, qualidade de vida e comunidades mais fortes. Esse modelo está claramente destruindo o planeta e consumindo recursos naturais vitais para o futuro. Em resumo: pelo modelo atual, buscamos algo que nos cria mais problemas.

2) EXAME - Existe algum país que já tenha testado o novo modelo que o senhor propõe? 

Tim Jackson - Há economias que não cresceram e prosperaram, mas não por escolha própria. É o caso do Japão. Mesmo em um país que não cresceu por uma década, houve aumento de expectativa de vida e melhora nos indicadores sociais. 

3) EXAME - Viver sem crescimento não implicaria menos consumo e, portanto, menos empregos?

Tim Jackson - Nos Estados Unidos, nos anos 40 e 50 do século passado, houve um esforço da indústria em convencer as pessoas de que elas são o que compram. E se estabeleceu que sem consumo não há emprego e sem emprego não há consumo. Precisamos pensar num mundo em que os indivíduos sejam cidadãos, não consumidores.

4) EXAME - Abrir mão de crescimento em países ricos pode até ser discutível. Mas o que dizer dos emergentes? 

Tim Jackson - Nos países ricos, é cada vez mais difícil repetir os níveis de crescimento do passado. Já nos emergentes há uma grande correlação entre expansão da renda e aumento do nível educacional. Meu ponto é que os países ricos deveriam abrir mão do crescimento em favor dos mais pobres. Já os emergentes poderiam se desenvolver de uma maneira muito mais sustentável. 

5) EXAME - Os países europeus estão crescendo pouco, e o que se vê é uma forte crise social.

Tim Jackson - É um erro econômico e moral o que os países europeus têm feito. Premiaram os arquitetos da crise, com o resgate dos bancos, e tiraram dinheiro de investimentos sociais. 

6) EXAME - Qual a principal lição que podemos tirar da crise?

Tim Jackson - A obsessão pela produtividade no trabalho não faz sentido. No caso de médicos e professores, o objetivo não deveria ser atender o maior número de pessoas, e sim melhorar o atendimento. No final, isso criaria mais empregos. 

7) EXAME - Esse modelo ainda seria capitalismo?

Tim Jackson - Já experimentamos um capitalismo de livre mercado que funcionava bem. O problema é que o mercado financeiro tem se comportado como um cassino. É esse o tipo de capitalismo que não queremos.

Acompanhe tudo sobre:ComportamentoConsumoCrescimento econômicoDesenvolvimento econômicoEconomistasEdição 1052Entrevistas

Mais de Revista Exame

Aprenda a receber convidados com muito estilo

"Conseguimos equilibrar sustentabilidade e preço", diz CEO da Riachuelo

Direto do forno: as novidades na cena gastronômica

A festa antes da festa: escolha os looks certos para o Réveillon