Revista Exame

Como resolver o problema da produtividade no Brasil?

Os dados de emprego são os poucos ainda positivos na economia. Mas nem tanto assim: agora criamos mais empregos nos setores menos produtivos do país


	Produção na Bayer: mesmo com ociosidade, opção por reter os qualificados
 (Divulgação)

Produção na Bayer: mesmo com ociosidade, opção por reter os qualificados (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 30 de agosto de 2013 às 16h23.

São Paulo - Os dados oficiais sobre o desemprego divulgados em julho mostram que o mercado de trabalho ainda é um setor de boas notícias na economia brasileira. É verdade que o país não gera mais tantas vagas quanto no passado. O saldo de 658 000 postos do primeiro semestre representou metade da média do período nos melhores anos, como 2008 e 2010.

Mas ainda é um dado positivo, sobretudo tendo em conta que o país assinala o terceiro ano consecutivo de crescimento econômico minguado — é difícil achar quem creia em expansão acima de 2,5% em 2013. A taxa de desemprego subiu levemente, para 6% em junho. Mas, por ora, os analistas não estimam que o indicador dispare.

Ao contrário, deve até recuar um pouco no fim do ano. Continuamos longe do cenário de europeus como a Espanha, onde o desemprego é de 26%, e melhor que os vizinhos Chile, com taxa de 6,4%, e Colômbia, com 9,4%. Apesar das boas notícias, por trás dessa situação invejável há uma realidade preocupante: o que tem segurado a robustez do mercado de trabalho é a nossa atávica baixa produtividade.

O país gerou e ainda gera empregos porque precisa de muitas pessoas trabalhando para fazer a economia crescer — ainda que pouco. Um estudo dos economistas Regis Bonelli e Julia Fontes, da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, mostra que, de 2000 a 2012, os setores que mais contrataram novos trabalhadores estão entre os menos produtivos.

São eles o comércio, a agricultura, a construção e a parte menos qualificada dos serviços. O estudo verificou que, juntos, eles responderam por quase 70% das contratações nos últimos 12 anos, embora contribuam com menos de 40% do PIB. Trata-se de um período longo, que engloba quatro mandatos presidenciais — três anos de Fernando Henrique Cardoso, oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva e dois de Dilma Rousseff.

Uma análise focada nos últimos dois anos e meio mostra que a tendência à baixa produtividade avança. O setor de serviços gerou 47% do saldo positivo no período. O comércio, 20%. E agropecuária e construção, juntos, 17,5%. Para medir a produtividade dos trabalhadores, os economistas calcularam quantas pessoas cada setor precisou para adicionar 1 milhão de reais ao PIB de 2012.

A agropecuária precisou de 96 trabalhadores e os serviços menos qualificados, 63. Para gerar a mesma riqueza, a indústria de transformação precisou de 26 pessoas e a extrativa mineral, de seis. São mais eficientes. Só que, juntos, esses dois setores responderam por apenas 13% do crescimento do emprego desde 2011. “Se os empregos vão para setores menos produtivos, claro que a produtividade é prejudicada”, diz Bonelli.

Crescer pela incorporação de mão de obra em setores pouco produtivos é mais um problema num país que, por questão demográfica, vê cair a oferta de trabalhadores. Desde o ano passado, o grupo de pessoas que está no mercado de trabalho, a chamada população economicamente ativa, cresce a taxas cada vez menores.


Saiu de um ritmo mensal de 3% em dezembro de 2012, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, para 0,7% em junho. Numa economia eficiente como a japonesa, isso não seria problema. No Brasil é. Nossos velhos problemas, como as leis trabalhistas que encarecem demissões e falta de gente qualificada, são ingredientes que puxam a produtividade para baixo.

Veja o exemplo do grupo mexicano Mexichem, dono da fabricante de tubos plásticos Amanco. Desde 2010, o grupo passou a admitir operários com ensino fundamental. Antes, exigia nível médio. Mesmo assim, o Mexichem tem dificuldade para preencher seu quadro. Com 3 000 funcionários, tem 60 vagas em aberto.

Faltam pessoas. A admissão de trabalhadores pouco qualificados prejudicou a produtividade. A queda foi de 6% em três anos. “Antes, para crescer 10%, eu precisava ampliar a mão de obra em 4%”, diz Mauricio Harger, presidente do Mexichem. “Agora, preciso aumentar em ao menos 7%.”

Diante disso, uma saída seria investir em automação. Faz todo o sentido — na teoria. A realidade brasileira contradiz os manuais. Não está fácil uma multinacional convencer a matriz a colocar mais capital aqui. A instabilidade macroeconômica, as discussões sobre mudanças no ICMS e a alta do dólar são alguns fatores de inibição.

“Até que se tenha maior clareza do ambiente, não dá para saber qual vai ser o retorno do investimento em uma nova máquina”, diz Harger. “Enquanto isso não ocorre, vamos postergando os planos e ficamos com uma mão de obra pouco produtiva.”

No cálculo da consultoria econômica Tendências, a produtividade média no país, que caiu 2,1% no ano passado, deve retroceder mais 0,1% em 2013. “Com o nível de capital e trabalho que o Brasil tem, era de esperar um crescimento maior do PIB”, diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências. “Entre outras razões, isso não se dá porque nossa produtividade anda para trás.”

Em alguns setores, o nível de emprego pode estar acima do necessário para a produção. É o caso da Whirlpool, que faz os eletrodomésticos das marcas Brastemp e Consul. Com o mercado fraco, a empresa tem antecipado férias e transferido operários de linhas em baixa para as de maior demanda. Com isso, torna mais eficiente o uso da mão de obra.

A torcida é para que nos próximos meses as vendas cresçam na onda do programa federal Minha Casa Melhor, que vai emprestar 19 bilhões de reais à população para a compra de geladeiras e móveis. “Se o segundo semestre decepcionar, demissões podem ocorrer”, diz Armando do Valle, vice-presidente de relações institucionais da Whirlpool.


Num mercado de trabalho apertado, porém, muitas empresas temem pagar um preço alto se mandarem gente embora. Considere a química Bayer, que investe 10 milhões de reais por ano em treinamento. “Com a produção em baixa, há risco de ociosidade”, diz Theo van der Loo, presidente da Bayer. “Mas nossos trabalhadores são qualificados e demitir pode nos causar problemas à frente.”

Busca pela eficiência

Os exemplos das empresas mostram que não há saída: a fonte de crescimento terá de mudar para o aumento da produtividade — até porque pode faltar mão de obra mesmo com a economia em marcha lenta. Pela projeção de Bonelli e Fontes, se a população ativa avançar à taxa anual de 1,2% e o PIB, à média modesta de 2%, mas calcado nos setores intensivos em pessoal, o Brasil chegará a 2020 com déficit de 2,5 milhões de trabalhadores.

“Temos de passar a crescer não pelo emprego, mas pela produtividade”, diz Bonelli. A varejista Riachuelo quer fechar 2013 com 40 lojas a mais. Abrirá 4 000 vagas. Mas busca mais eficiência. Já cortou os estoques nas lojas, de 500 000 para 180 000 peças, o que demanda menos gente.

Até 2015, a meta é automatizar processos nos centros de distribuição. “O custo de mão de obra aumentou a uma taxa de dois dígitos e o faturamento cresce em um dígito”, diz Flavio Rocha, presidente da Riachuelo. “É fundamental utilizar melhor o pessoal.” Se não for assim, será difícil o país voltar a crescer com vigor.

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