A Rolex decidiu neste ano mudar o modelo Explorer, lançado em 1953 como homenagem à conquista do Everest (nesta versão, em ouro e aço) (Rolex/Divulgação)
Ivan Padilla
Publicado em 17 de junho de 2021 às 05h45.
Última atualização em 17 de junho de 2021 às 09h32.
A compra de um relógio é movida a paixão. Sentimentos à parte, porém, há quem mantenha sua coleção pensando em retorno, negociando peças no chamado grey market, ou “mercado paralelo”. Para isso é fundamental entender o comportamento do consumidor. Um exemplo: relógios sociais estão neste momento guardados nos cofres. Nos revendedores particulares, estão mais baratos. Mas há quem aposte na volta da vida social no pós-pandemia. No médio prazo, portanto, podem dar um bom retorno.
A retomada do consumo neste primeiro trimestre está sendo puxada pelos países asiáticos, onde relógios com caixas pequenas têm preferência. Mesmo manufaturas conhecidas pela robustez, como Panerai e IWC, estão indo por esse caminho. Logo, se você é fã de modelos com caixa de 44 milímetros para cima, provavelmente terá de optar entre ser feliz e ganhar dinheiro.
Outro fenômeno está acontecendo no grey market. “Até alguns anos atrás, o preço de um relógio usado era um pouco abaixo de um similar na loja. Era uma opção para quem não queria gastar tanto”, afirma o colecionador e investidor Renoir Vieira, sócio da Aurora Capital. “Hoje o valor do usado é até maior em alguns casos. Os relógios de segunda mão são vendidos com prêmio porque os novos não estão sendo entregues.” Entre as razões está a atual falta de insumos para as fábricas.
Vale mais o relógio raro, diz uma regra do mercado de segunda mão. Algumas manufaturas acabam tirando de linha modelos consagrados para manter em alta o valor da marca e proteger seus clientes mais fiéis. Foi o caso da Patek Philippe, que interrompeu no começo do ano a produção do Nautilus, com fila de espera de anos. Dois meses depois, anunciou o lançamento de novas versões em cores diferentes. Foi um golpe de gênio. Dessa forma, os modelos antigos valorizaram e os novos consumidores continuaram com a chance de comprar sua peça.
O fator imprevisibilidade pode ajudar. A Rolex decidiu neste ano mudar o modelo Explorer, lançado em 1953 como homenagem à conquista do Everest. Saiu a peça com caixa de 39 milímetros, voltou o tamanho de 36 milímetros. Foi um movimento inesperado. Quem tinha a versão maior viu seu relógio valorizar até 50% do dia para a noite. Muito conhecimento e um pouco de sorte ditam as regras do grey market. Nada tão diferente do mercado de capitais.