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“Podem faltar investidores nas concessões de infraestrutura”

Para o presidente do conselho do banco Goldman Sachs no Brasil, os leilões do setor de infraestrutura só vão atrair os estrangeiros se o governo mudar as condições


	Paulo Leme: sem elevar os investimentos e sem reformas, não conseguimos crescer nem 3%
 (Marisa Cauduro)

Paulo Leme: sem elevar os investimentos e sem reformas, não conseguimos crescer nem 3% (Marisa Cauduro)

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Da Redação

Publicado em 24 de setembro de 2013 às 13h55.

São Paulo - Há 20 anos no banco americano Goldman Sachs, o economista Paulo Leme é especialista em orientar investidores de países ricos a aplicar na América Latina.

De volta ao Brasil desde 2012, após mais de 30 anos fora, Leme está preocupado com o plano de concessões no setor de infraestrutura. “Algumas regras estipuladas pelo governo não estão em linha com as práticas de mercado em outras partes do mundo”, diz Leme.

1) EXAME - Por que há tanto debate sobre as taxas de retorno das concessões que o governo planeja fazer? 

Paulo Leme - Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que os projetos de infraestrutura em curso no Brasil são de uma escala ímpar hoje no mundo e, pensando no longo prazo, me parece inevitável que eles se tornem realidade. Porém, no curto prazo, é preciso ajustar o modelo de leilões e concessões. A tentativa de colocar objetivos adicionais é prejudicial.

2) EXAME - O que o senhor chama de objetivos adicionais? 

Paulo Leme - Um exemplo é a inclusão do critério de quanto menor a tarifa do pedágio, melhor. Isso muda a taxa de retorno e reduz a atratividade de alguns projetos. 

3) EXAME - O senhor quer dizer que alguns investidores podem desistir de participar das concessões? 

Paulo Leme - Não dá para generalizar. Alguns projetos, como os de aeroportos no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, são oportunidades quase únicas. Certamente vão atrair interesse. Mas não se pode dizer o mesmo de outros segmentos, como o de rodovias. Existe uma oferta global maior de projetos nessa área.

Um fundo de infraestrutura tem um leque de opções semelhantes em várias partes do mundo. Por que viria para o Brasil se as condições são melhores no México? É nessa hora que a clareza das regras e o alinhamento com as práticas de mercado fazem a diferença. 

4) EXAME - É possível que projetos sejam engavetados?

Paulo Leme - Em algum momento, eles serão feitos. Caso o governo exagere, depois aprende e corrige. O problema é o tempo. Pode demorar mais do que seria necessário. 

5) EXAME - O governo elevou a taxa de retorno para 7,2% no caso das rodovias. Esse é um bom patamar?

Paulo Leme - O governo tem de liberar a taxa de retorno. Não tem de intervir ou criar empecilhos ao mecanismo de preço. A qualidade dos projetos é que vai refletir o retorno ideal. Quanto mais restrições forem impostas, menor será a demanda.

Apesar de nosso programa de infraestrutura ser único em termos de tamanho e abrangência, há uma grande concorrência por investimentos. Países emergentes e até mesmo os Estados Unidos e a Europa estão nessa briga.

6) EXAME - Os critérios da taxa de retorno serão mudados? 

Paulo Leme - É inevitável. Só não sei em quanto tempo. Depende da vontade do governo de destravar os gargalos de infraestrutura. O Brasil precisa investir algo entre 40 bilhões e 50 bilhões de dólares por ano. No momento, estamos aplicando de 8 bilhões a 10 bilhões de dólares por ano. 

7) EXAME - Esse aumento do investimento será suficiente para elevar o ritmo do crescimento econômico?

Paulo Leme - Não. Além das melhorias na infraestrutura, o país carece de reformas importantes nas áreas fiscal, tributária e trabalhista. Sem isso, o crescimento potencial de nosso PIB, que já foi de 4,5% e hoje gira em torno de 3%, poderá cair ainda mais.

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