55 anos de Exame: capas da revista ao longo das décadas (Arte/Exame)
Lucas Amorim
Publicado em 18 de agosto de 2022 às 06h00.
“Prezado amigo. Sei que você é um homem importante e ocupado. É por isso que preciso de alguns minutos de seu tempo. Para apresentar-lhe uma experiência nova no jornalismo especializado nacional. Trata-se da EXAME, uma publicação com personalidade própria que deverá representar, no Brasil, o papel de Business Week nos Estados Unidos, L’Expansion na França e Management Today na Inglaterra.”
Começava assim a carta ao leitor assinada por Victor Civita na primeira edição própria da EXAME, em janeiro de 1970. A capa, amarela e sem chamadas, trazia apenas, em letras pretas, o texto “Edição especial para homens de negócios”.
O foco no público masculino fazia sentido no contexto da época, mas, claro, precisou ser atualizado com o passar dos anos e das décadas. Assim como evoluiu a EXAME e seu olhar para o mundo. Uma coisa sempre esteve presente ao longo da história da publicação: a ambição de ser uma voz ativa no fortalecimento do empreendedorismo e das instituições brasileiras.
A publicação, que hoje completa 55 anos, nasceu de forma tímida em 1967, como um caderno dirigido aos empresários encartado dentro de revistas do chamado Grupo Técnico da Editora Abril, uma linha importante de negócios da companhia que criou e publicou a EXAME até 2020, ano em que foi comprada pela holding controladora do banco BTG Pactual.
Nos anos 1960, as publicações eram Transporte Moderno, Máquinas e Metais e Química e Derivados, que somavam, na época, tiragem de 67.000 exemplares. Com o sucesso dos cadernos, a marca EXAME ganhou vida própria naquele janeiro de 1970, época em que o Brasil tinha 86 milhões de habitantes e quatro em cada dez adultos eram analfabetos. Metade da população ainda vivia em áreas rurais.
Nesse contexto, nascia “uma revista que ajude o empresário a tomar decisões e que fale de seus assuntos pessoais”, como escreveu o editor Roberto Muylaert.
O primeiro número da nova revista apresentou ao gestor brasileiro o conceito americano de cash flow. “Uma arma de defesa da tesouraria, que a indústria brasileira começou a utilizar para saber quando haverá déficit de caixa e conhecer a evolução do fluxo do dinheiro.”
A segunda edição, além de reportagens de gestão e negócios, ensinava seus leitores a comprar uísque. “O bom scotch tem um suave cheiro de malte e turfa, um vago aroma de flores”, dizia o texto. A ampla gama de assuntos e de abordagens são uma tônica da EXAME desde sua fundação.
Hoje, a reportagem sobre uísque caberia perfeitamente em nossa editoria de estilo de vida, a Casual, que tem 205.000 seguidores no Instagram e milhões de leitores mensais. Mas não estaria apenas em texto. Traria vídeos sobre como provar os uísques, fotos de drinques, entrevistas com bartenders nas redes sociais, um guia com os melhores bares e restaurantes para provar as novidades.
Para além das reportagens, a EXAME e as publicações técnicas em que ia encartada 55 anos atrás ofereciam um serviço de consulta que recebia cartões com dúvidas dos leitores. Um time de sete engenheiros respondia a mais de 600 consultas por mês, fornecendo aos leitores informações essenciais para seu crescimento e, de quebra, para o desenvolvimento do ambiente empresarial brasileiro. É uma visão de negócios que, 55 anos depois, segue norteando os investimentos da EXAME.
Além de reportagens em texto, áudio e vídeo sobre o desenvolvimento do ambiente empreendedor no Brasil, organizamos eventos, desenvolvemos projetos sob medida para empresas e formamos milhares de alunos em nossa frente de educação, a EXAME Academy. São ações que reforçam nossa estratégia de ser protagonistas na construção de conhecimento sobre economia e negócios.
Os anos se passaram, e a EXAME retratou e ajudou a construir um Brasil em franca transformação. Uma leva de reformas controlou a inflação, atraiu investimentos e permitiu ao país crescer até 14% ao ano na década de 1970. A urbanização acelerada transformou o mercado de consumo e turbinou empresas e carreiras, consolidando a EXAME como leitura obrigatória para homens e mulheres de negócios.
Nessas cinco décadas, não só apresentou conceitos de gestão inéditos em sua época como foi testemunha das grandes mudanças econômicas — e se posicionou ativamente pelas pautas que acabariam por mudar o Brasil. No início dos anos 1990, mostrou a revolução da abertura aos importados.
“Quando o Lada desembarcou por aqui, no final de 1990, com preço em torno de 10.000 dólares, o carro mais barato fabricado no país era o Gol CL com motor 1.6, que chegava às concessionárias custando 13.064 dólares”, diz a reportagem da época, assinada por Manoel Canabarro.
“O carrinho russo é, talvez, o símbolo mais eloquente dos efeitos provocados pela abertura comercial sobre consumidores, empresas e, especialmente, sobre o país.” A edição, de maio de 1994, era arrematada por um artigo de Mário Henrique Simonsen, com o título “Fechar não é só uma ideia velha. É tola”.
Projetos relevantes ganharam vida própria e marcam a história da cobertura de negócios no Brasil. Em 1974, a EXAME criou o anuário MELHORES E MAIORES, que até hoje premia as grandes histórias de sucesso empresarial no país. A primeira vencedora foi a Metal Leve, do industrial José Mindlin. A maior fabricante de pistões para motores a explosão do país havia conquistado, no ano anterior, uma rentabilidade de 37,6%.
MELHORES E MAIORES segue como a principal premiação corporativa do país 38 anos depois de sua criação. Em 2021, premiou a siderúrgica Gerdau como Empresa do Ano, graças a um aumento de 60% nos lucros e de 10% na receita. Neste ano, a premiação, em setembro, reconhecerá mais uma vez a empresa do ano e as vencedoras em 18 categorias.
Em 1981 nasceu a marca VIP, a “única revista brasileira voltada exclusivamente para o lado pessoal de quem ocupa posição de destaque”. “VIP analisa as diversas alternativas de investimento, oferece as mais atraentes opções de lazer, conta os segredos de uma carreira brilhante”, dizia o texto de introdução da publicação.
Em 1986, nasceu a revista Info, focada na revolução tecnológica dos computadores pessoais. Em 1998, a Você S/A, dando voz às transformações do mercado de trabalho e da estrutura de gestão de pessoas de empresas cada vez mais conectadas com o mundo.
Em 2000, fomos pioneiros na cobertura ESG com a estreia do Guia de Boa Cidadania Corporativa, refletindo a descoberta progressiva de que “lucro, produtividade e imagem da marca só serão conseguidos e mantidos de forma consistente por empresas genuinamente cidadãs”, como contava o texto assinado por Cláudia Vassallo.
Cinco anos depois, em 2005, chegou ao mercado a EXAME PME, focada nas pequenas e médias empresas em franco crescimento. Dezessete anos depois, contar as boas histórias de empreendedores e ajudar na superação de desafios segue um dos pilares da EXAME. Em julho deste ano, realizamos o evento Negócios em Expansão, em que premiamos 205 pequenas e médias empresas campeãs de crescimento Brasil afora.
Outro tema essencial para a formação econômica do país, e uma das prioridades atuais da EXAME, é o agronegócio. Temos, hoje, newsletters, podcasts, vídeos e reportagens que mostram as histórias de transformação dos grandes empreendedores do campo. Há 16 anos, em 2006, no lançamento de uma publicação dedicada ao agro, já afirmávamos que o Brasil tinha uma “vocação inequívoca para liderar o setor”. E que informação faria a diferença para que os empresários do agronegócio abraçassem as oportunidades e superassem os desafios.
Na edição especial de 50 anos da EXAME, em 2017, a carta ao leitor, de André Lahóz, reforçava que nossa razão de existir era ajudar o leitor a “compreender melhor o mundo a seu redor — e iluminar o que está por vir”. Nosso compromisso segue o mesmo, turbinado por novos produtos, mais dados, mais ambição.
Nas próximas páginas você encontra depoimentos de 55 grandes nomes dos negócios e da economia sobre as transformações essenciais para o Brasil avançar. A EXAME chega a este agosto de 2022 como uma media tech com 55 anos de estrada, que se inspira na história para seguir moldando o futuro. Seguiremos acreditando, como diz o sambista Moacyr Luz, que a tradição é lanterna.