Satya Nadella, entre Bill Gates e Steve Ballmer, quando foi apresentado aos funcionários como CEO da Microsoft: para a transformação da empresa, ele contou com um enorme manancial de talentos (Microsoft/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 28 de fevereiro de 2019 às 05h24.
Última atualização em 28 de fevereiro de 2019 às 05h24.
“Antes cair das nuvens que de um terceiro andar”, já dizia o personagem Brás Cubas, de Machado de Assis. Para a Microsoft, está valendo o reverso: é melhor subir às nuvens do que a um 20o andar. A aposta na computação em nuvem levou a empresa à ressurreição. Não que estivesse morta; mas era considerada uma “vaca leiteira”, aquela da qual se extrai o leite enquanto leite houver. Agora, não. Já há algum tempo os analistas advertiam que não se podia descartar a Microsoft do clube das empresas que vão dominar o futuro. Pois o prognóstico se realizou: ela é, novamente, a companhia mais valiosa do mundo.
Pisar nas nuvens foi apenas o primeiro passo, uma aposta do executivo-chefe Satya Nadella. Para fazer justiça, a aposta foi encaminhada por seu antecessor, o histriônico Steve Ballmer, mas ele era incapaz de levá-la a cabo — daí a escolha de Nadella, que já cuidava da divisão de serviços na nuvem da empresa. O dilema era abandonar a monstruosa receita advinda do pacote Office (a vaca leiteira, e sagrada). A Microsoft tomou a corajosa decisão de transformar em serviço — nas nuvens — o que era produto, aceitando perdas de receita no curto prazo para brigar por receitas maiores no futuro. E o futuro chegou mais rápido do que se previa.
O segundo passo foi entrar na briga da inteligência artificial; o terceiro, ainda em implementação, recuperar o charme do hardware, com investimento em estilo capaz de competir (ultrapassar, dizem alguns críticos) com a excelência da Apple. A gestão de Nadella tem resultados impecáveis para mostrar: no início de 2014, assumiu uma empresa que valia cerca de 290 bilhões de dólares. Cinco anos depois, ela vale mais de 850 bilhões de dólares, praticamente o triplo.
A lição que se pode extrair da revolução da Microsoft é bem mais geral do que preceitos de gestão. E é, basicamente, que derrota não é destino. A Microsoft perdeu o bonde da internet; e depois perdeu o bonde da mobilidade. Foi quase patético o espetáculo comandado por Ballmer, de colocar a empresa inteira para correr atrás dos vagões que aceleravam à sua frente. O que Nadella fez foi reagrupar a empresa e preparar-se para tomar o próximo bonde. De preferência, no primeiro vagão. E na janelinha.
A reviravolta lembra a história da IBM, nos anos 90, quando foi tornada irrelevante pela própria Microsoft no mercado de computadores e soube se reinventar como consultoria e prestadora de serviços. Num caso, o líder foi alguém de fora (Louis Gerstner); no outro, uma prata da casa. Um buscou ideias novas; o outro liderou o que chama de retorno à essência da companhia. O que havia em comum, nas duas situações, era um enorme manancial de talentos humanos, carente apenas de direção e motivação.
E está aí o cerne da mensagem que o sucesso da Microsoft pode transmitir, tanto para nossa vida pessoal quanto para a empresa ou o país que construímos: quem investe no talento, na capacidade humana, sempre tem a chance de pegar o próximo bonde.