Loja da Alpargatas: a empresa obteve 13,5% de rentabilidade no ano passado (Germano Lüders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2014 às 06h00.
São Paulo - De perfil conservador, a caderneta de poupança não tem sido uma aplicação das mais atraentes. Em 2013, rendeu 5,8%, abaixo da inflação no período, de 5,9%. Apesar do retorno baixo, muitos empresários que tivessem aplicado seu capital na poupança teriam ganhado mais no ano — ou perdido menos — do que conseguiram mantendo o dinheiro na atividade produtiva.
De acordo com dados preliminares da edição MELHORES E MAIORES, que EXAME publicará em junho, a rentabilidade média das maiores empresas do país girou em torno de 5,4% no ano passado.
A taxa, se confirmada pelos números finais do levantamento, representará uma leve reação em relação à rentabilidade de 2012, que foi de 4,1%. Mas ainda estará bem abaixo da média dos anos anteriores — menos da metade do índice que as empresas obtinham há uma década.
“A tartaruga se mexeu, mas andou de lado”, diz o economista Fabiano Guasti Lima, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, ao comentar a dificuldade das empresas em recuperar os lucros em meio ao lento avanço da economia.
Para melhorar o retorno, as empresas têm basicamente duas saídas: aumentar a receita ou cortar a despesa. Com a economia do país patinando, a primeira opção se torna menos provável. Resta, então, apertar os cintos, como fez a distribuidora de energia AES Eletropaulo.
Com o impacto da redução das tarifas de eletricidade — medida adotada em 2013 após um duro embate entre o governo e as concessionárias do setor elétrico —, a AES fechou o ano com receita de 9 bilhões de reais, quase 1 bilhão a menos que no ano anterior.
Ainda assim, lucrou 198 milhões de reais, três vezes mais que um ano antes. Contribuiu para esse bom desempenho a redução dos custos com a transferência, em julho de 2012, das operações de três escritórios da empresa em São Paulo para um único edifício em Barueri, na região metropolitana — só com aluguel e IPTU, a economia é de 150 milhões de reais por ano.
“O momento atual nos obriga a reduzir custos e a buscar a eficiência de forma obsessiva”, diz Gustavo Pimenta, vice-presidente financeiro da AES. A empresa fechou o balanço de 2013 com uma rentabilidade sobre o patrimônio de 11,2% — acima da média do setor, de 3,7%, segundo levantamento feito pela consultoria Economatica com companhias de capital aberto.
A mágica do hedge
Em um ano no qual o dólar subiu 15% frente ao real, apertar os cintos pode não ser o suficiente, em especial para empresas com dívidas em moeda estrangeira. Com a alta do dólar, a petroquímica Braskem caminhava para fechar 2013 com um prejuízo de 1 bilhão de reais.
Conseguiu reverter o cenário ao adotar o mecanismo contábil do hedge, que permite usar a receita futura de exportação — que demora mais a entrar no caixa — para reduzir o efeito imediato da variação cambial no montante da dívida. Resultado: a Braskem fechou o ano com lucro contábil de 507 milhões de reais.
De uma rentabilidade negativa de 11% em 2012, a petroquímica passou para uma taxa positiva de 8,6% em 2013. A Alpargatas, do setor têxtil, trilhou caminho semelhante ao adotar o hedge em suas operações contábeis a partir do segundo trimestre do ano passado.
De imediato, a empresa ampliou em 5% as margens de vendas em dólar em mercados como Estados Unidos e Europa, amenizou o impacto da oscilação dos preços de matéria-prima importada e liberou o caixa para os investimentos na construção de uma nova fábrica em Montes Claros, Minas Gerais, concluída no fim de 2013.
Com os gastos sob controle, a Alpargatas encerrou o ano com 13,5% de rentabilidade. “Fortalecemos nossa base para que, a partir de agora, com maior volume de produção, a empresa volte a estabilizar as margens de vendas”, diz Márcio Utsch, presidente da Alpargatas. Ao que parece, com ou sem hedge, essa é a expectativa de boa parte das empresas brasileiras em 2014.