Revista Exame

Paralisar primeiro. Negociar depois. É a central sindical Conlutas

Com esse lema, a radical Conlutas, pequena central sindical criada há um ano, faz barulho e vira onipresente nos protestos em todo o país

Passeata de trabalhadores dos Correios e dos bancários em São Paulo: a Conlutas quer estar na frente das outras 11 centrais (Divulgação/Conlutas)

Passeata de trabalhadores dos Correios e dos bancários em São Paulo: a Conlutas quer estar na frente das outras 11 centrais (Divulgação/Conlutas)

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Da Redação

Publicado em 2 de dezembro de 2011 às 05h00.

São Paulo - Manhã de quinta-feira 17 de novembro. Cerca de 150 representantes de sete centrais sindicais estão reunidos no auditório do Dieese, no centro de São Paulo. O encontro no instituto de estudos econômicos mantido pelo movimento sindical tem o objetivo de discutir as relações de trabalho no setor público.

Entre os presentes está Paulo Barela, de 52 anos, técnico de carreira do IBGE que desde o final da década de 70 milita no sindicalismo. Até poucos anos atrás, ele estaria ali em nome da Central Única dos Trabalhadores, da qual chegou a comandar a regional de Porto Alegre.

Mas, ao lado de outros descontentes com a “nova CUT”, Barela saiu para fundar na metade do ano passado a Central Sindical Popular Conlutas, a mais nova entre as nove entidades do gênero reconhecidas pelo Ministério do Trabalho nos últimos cinco anos. “Buscamos construir algo além da CUT, que é o cúmulo do peleguismo”, diz Barela.

Trata-se de um caso de pedra que se transformou em vidraça. Há 28 anos, a CUT foi fundada por líderes trabalhistas como Luiz Inácio Lula da Silva justamente com a proposta de se contrapor aos sindicatos que taxava de pelegos. Com o Partido dos Trabalhadores no governo há oito anos, a CUT perdeu a aura de radical — agora é chamada de chapa-branca.

A Conlutas surgiu para ocupar o espaço. Seus afiliados repetem como um mantra termos mofados como capital, opressão, Estado autoritário e burguesia. Seus principais dirigentes são membros do PSTU e do PSOL, dois partidos da extrema-esquerda.

Com pouco tempo de atividade, a Conlutas tem despontado tanto quanto as grandes centrais nas greves e passeatas pelo Brasil afora. Esteve à frente das paralisações deste ano em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Ceará, em Rondônia e no Polo Petroquímico de Suape, em Pernambuco.

Também colocou faixas à testa de manifestações de professores, estudantes, marcha dos sem-teto e outros protestos ditos populares. No comando do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, um dos maiores entre seus 76 filiados, a Conlutas comemorou a conquista de um reajuste de 10,8%, superior aos 9,4% conseguidos pelos metalúrgicos do ABC — um dos 2 156 ligados à CUT.

A vitória é atribuída a um estilo de negociação agressivo, que começa com a criação de um clima de tensão. “Primeiro nós mobilizamos e depois negociamos, ao contrário de outras centrais, que negociam para evitar a mobilização”, afirma Barela. Onde se leu mobilização, entenda-se paralisação.


Um exemplo desse modo de agir foi o que se deu na recente greve dos operários que fazem a reforma do estádio do Maracanã. Uma semana depois de um acordo assinado pelo sindicato dos trabalhadores na construção pesada do Rio de Janeiro, ligado à central UGT, a Conlutas formou uma comissão para iniciar outra greve.

“Eles não aceitaram o que foi decidido e queriam uma nova proposta”, diz Paulo Sérgio Rosa, consultor de relações trabalhistas que estava à mesa em nome do consórcio construtor. “O problema teve de ir para a Justiça, que julgou a segunda greve abusiva. O negócio da Conlutas é sempre ir para o confronto.”

O barulho é desproporcional ao tamanho da central. Ela está na oitava posição no ranking das centrais por número de sindicatos associados. Seu orçamento anual, de 660 000 reais, equivale a 2% do que recebem CUT e Força Sindical, aquinhoadas com repasses na casa de 30 milhões de reais pelo Ministério do Trabalho, que recolhe o imposto sindical e o redistribui.

Mas seu lema é participar de todos os embates que envolvam trabalhadores — e mesmo não trabalhadores. Um trunfo da Conlutas é a rapidez em reunir pessoas e tomar decisões. Para isso, em vez de manter uma estrutura vertical, com um presidente no comando, a organização divide suas funções executivas entre 37 secretários — todos considerados líderes com autonomia.

Esse grupo e os sindicatos filiados recebem diariamente um boletim com os temas que estão no radar da central. Sem longas discussões para chegar a um consenso, eles partem para a ação.

Foi esse compartilhamento de informação que fez com que a Conlutas arrecadasse em poucas horas 40 000 reais para pagar a fiança dos 73 estudantes presos pela invasão da reitoria da Universidade de São Paulo, no início de novembro. 

A criação da Conlutas, a 12a central sindical do país, expõe um racha no movimento dos trabalhadores, com grupos disputando poder, influência e, claro, verbas públicas.

“A multiplicação de centrais enfraquece a eficiência do movimento da classe trabalhadora”, afirma o cientista político Paulo Kramer, da Universidade de Brasília. Nesse processo, a Conlutas, como diz Paulo Barela, vai para cima. No final do ano passado, a central venceu a CUT nas eleições do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.

Em Minas Gerais, o Sindicato dos Metalúrgicos de Ouro Branco e Congonhas, filiado à Força, levou a Conlutas à Justiça. Seus dirigentes foram acusados de truculência ao tentar obter nome e telefone de filiados. Parece valer tudo em nome da classe trabalhadora. Mas será apenas em nome dela?

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