Revista Exame

Para a música entrar no ritmo

Atraídas pelo crescimento do mercado de música digital no mundo, empresas inovam para criar no país um serviço relevante de venda de música na internet

A cantora Rihanna: recordista mundial com 3 milhões de músicas baixadas (Ethan Miller /Getty Images)

A cantora Rihanna: recordista mundial com 3 milhões de músicas baixadas (Ethan Miller /Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h40.

Em um vídeo gravado para promover o 1º Prêmio de Música Digital, realizado em novembro no Rio de Janeiro, o cantor e produtor Nando Reis é visto falando com entusiasmo sobre o evento: “A internet é o meio mais usado para a difusão da música hoje, e esse prêmio é uma maneira de chamar a atenção para isso”. A relevância comumente atribuída à internet para a música nos dias de hoje, porém, está longe do tamanho do negócio da música digital. Pelo menos no Brasil. Em 2009, o país contribuiu com 0,6% da receita global do setor, que movimentou 4,2 bilhões de dólares. No ano passado, apenas 12% das vendas de música foram feitas por canais digitais, ante 40% nos Estados Unidos.

Vender música em formato de CDs e discos em lojas físicas é um modelo de distribuição que funciona, em maior ou menor grau, no mundo inteiro. No mercado de música digital, ao contrário, não há soluções universais. Modelos como o Amazon MP3 e o iTunes, da Apple, consagraram-se em anos recentes como a salvação da indústria fonográfica de países que, durante muito tempo, sucumbiram à pirataria. Contrariando a expectativa de muitos, empreendimentos como esses nunca aportaram por aqui. Com 25% de todo o mercado de música americano nas mãos, a Apple não tem planos de trazer sua loja virtual ao Brasil. Segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), há no país 28 serviços locais de comercialização de música digital. O número supera até mesmo o do mercado americano. Ainda assim, o Brasil segue como um dos países em que o negócio da música mais sofre com a pirataria — e, por consequência, arrecada pouco. Por uma simples razão: nenhum serviço de venda de música digital, até agora, emplacou. “Muitas tentativas dão errado no Brasil, e as pessoas culpam a pirataria ou a dificuldade de lidar com direitos autorais, mas são negócios mal planejados”, diz Paulo Rosa, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD).


Diante dos números do segmento no exterior, porém, cresce por aqui o interesse de gravadoras, artistas e empresários em mudar esse cenário. Criado em 2006, o Sonora, do portal Terra, é o maior serviço de venda de música digital do Brasil. Sozinho, detém 40% do mercado. Em muitos aspectos, o Sonora pode ser considerado um negócio visionário. A transmissão de músicas via streaming e a cobrança de assinatura mensal, hoje conceitos amplamente aceitos, fazem parte do Sonora desde o primeiro dia de sua operação. O serviço possui hoje 4 milhões de usuários e mais de 320 000 assinantes no Brasil. Em novembro, o Terra fez a maior investida no serviço desde sua criação — um modelo híbrido de assinatura e venda de música, apresentado como inédito em todo o mundo, que promete mudar para sempre o mercado de música digital no Brasil. Mudar para sempre, aqui, significa uma coisa em especial: levar as receitas desse segmento no país para outro patamar.

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Com músicas que podem custar 10 centavos e planos que permitem que o usuário ouça sem limite, via streaming, um acervo de 2 milhões de músicas, a meta é chegar até o fim de 2011 com 1 milhão de assinantes e 10 milhões de usuários. “O novo Sonora é um golpe duro contra a pirataria”, diz Tiago Ramazzini, diretor responsável pelo Sonora. O serviço ganhou mobilidade: o acesso via dispositivos móveis, como iPhone, iPad e outros tablets, também começou a ser oferecido. Mas o Terra não é a única empresa a sugerir novos caminhos para o mercado de música digital legalizada no Brasil. A Som Livre, maior gravadora do país, planeja lançar, em janeiro de 2011, um serviço para concorrer diretamente com o Sonora. Batizada de Escute.com, a nova plataforma terá conteúdo das principais gravadoras no país e um acervo de 3 milhões de músicas. Além da venda faixa a faixa, o modelo deverá contemplar assinaturas, com preço máximo de 19,90 reais por mês.

Mas o fator preço não pode ser apontado como o único responsável pela baixa popularidade de serviços de venda de música digital no Brasil até aqui. Se os casos de êxito em outros países podem servir de exemplo, há algo mais em jogo quando se trata de competir com a gratuidade da pirataria digital: comodidade. “Até pouco tempo atrás, serviços brasileiros de música digital eram tão restritivos que desmotivavam as pessoas a fazer compras de música legítimas”, diz Carlos Affonso Souza, professor da Fundação Getulio Vargas (RJ). Com as novidades e os novos serviços, a expectativa é de lucros maiores. Lucros que poderão soar como música para muitas empresas do setor.

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