Negócio da China: em centros como Xangai, estrangeiros já ganham 30% mais do que no país de origem (Fritz Hoffmann)
Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2013 às 19h46.
São Paulo - O quadro não é novo, mas hoje está mais claro do que Em qualquer outra época. Pela primeira vez na história, possivelmente, trabalhar como executivo — em português simples, como chefe de alguma coisa, e não como operário imigrante — pode estar sendo melhor no mundo pobre, ou pelo menos no que se chama de “emergente”, do que no mundo rico.
A regra não é clara, mas os números são. Os resultados da pesquisa mundial mais recente sobre o tema, fruto de estudo feito por 20 000 especialistas em remuneração que trabalham em 70 países, comprovam que os executivos dos quatro Brics, e algumas dezenas de nações com características parecidas, terão em 2013 altas salariais maiores do que em qualquer lugar do Primeiro Mundo.
Dentro de três anos, os salários dos executivos na Ásia deverão ser superiores aos dos Estados Unidos. Já agora, na China, um gestor vindo de fora ganhará logo de saída 30% mais do que recebia no país rico de onde veio. O Brasil, nesse pelotão, é um dos que apresentam os maiores aumentos.
Tirando os mandarins da primeiríssima linha das megaempresas americanas e multinacionais, sobretudo na área financeira, a remuneração dos executivos no Brasil está se aproximando, já igualou ou passou à frente da que é paga a profissionais do mesmo nível em países ricos.
É precisamente isso, por sinal, que tem trazido ao Brasil e países semelhantes um número cada vez maior de executivos estrangeiros. A compensação para os riscos provocados pelas incertezas políticas do mundo “emergente” (com o consequente risco para a manutenção do emprego), as ameaças sempre presentes da inflação e o crescente aumento do consumo nesses países estão na base do movimento que está à vista de todos.
Os grandes vetores dessa “transferência mundial” dos rendimentos mais altos, porém, parecem claramente movidos por duas forças: a oferta maior que a demanda dos empregos superiores, fruto da ruindade geral da educação em países como o Brasil, e o marasmo, às vezes quase o estado de coma, no mercado de trabalho no mundo desenvolvido.
A primeira situação está mais do que demonstrada na economia brasileira: falta, pura e simplesmente, gente qualificada para ocupar os postos oferecidos.
A indústria, principalmente, não consegue encontrar os profissionais de que precisa, seja para projetos de expansão, seja para a simples manutenção de suas operações normais; mesmo para um crescimento econômico que não chega nem a 1% ao ano, as empresas vivem à procura, sempre demorada e frequentemente malsucedida, de executivos que sejam realmente capazes de executar as tarefas exigidas por seus cargos.
Falta pessoal em centenas de atividades, sendo a área de engenharia a mais dramática. O ambiente na maioria dos países ricos, porém, já é coisa cercada por nevoeiro grosso.
A França talvez seja o melhor exemplo dessa situação. A renda média, número algo discutível diante de sua co–habitação com uma “renda mediana” criada pelos estatísticos, é geralmente colocada em 2 400 euros por mês, ou cerca de 6 250 reais.
Só 10% das famílias ganham mais do que o equivalente a 14 000 reais por mês — havendo contas ainda mais rigorosas, segundo as quais os 90% restantes recebem mensalmente menos de 3 300 euros, ou 8 500 reais. Enfim, apenas 1% ganha mais do que 7 600 euros, ou 20 000 reais por mês. São cifras altamente equilibradas, às quais se juntam excelente educação e serviços públicos de primeira qualidade.
No entanto, nunca os franceses estiveram tão insatisfeitos com seu bem-estar — e têm demonstrado isso com as pernas. Contando apenas os que se registram nos consulados, há hoje 1,6 milhão de franceses vivendo no exterior, um número que pode estar próximo a 3 milhões, na contabilidade real.
Não querem os poucos empregos que a França pode oferecer e não se interessam pelo estado de bem-estar social que tanto esforço, tanto imposto e tantas décadas custou ao país.
É um caso que dá o que pensar.