Benchimol, sócio da XP: o plano é criar um banco 100% virtual para poucos investidores (Germano Lüders/Site Exame)
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2013 às 15h07.
São Paulo - Para os bancos, assim como para as empresas de varejo, ser grande é uma vantagem e tanto. Quem tem escala para se espalhar pelo país conquista mais clientes e consegue diluir custos com tecnologia e funcionários.
Tamanho ajuda até na hora do aperto — como a crise internacional mostrou, nenhum governo está disposto a deixar gigantes financeiros quebrar, por mais estripulias que tenham feito com o dinheiro dos clientes, já que as consequências para a economia são imprevisíveis.
No Brasil não tem sido diferente: os grandes só ficam maiores. Banco do Brasil, Caixa Econômica, Itaú, Bradesco e Santander respondem por quase 70% dos ativos do sistema bancário. Por tudo isso, o mercado financeiro tem sido um terreno árido para empreendedores.
Quem, afinal, tem disposição para enfrentar uma concorrência tão forte? É surpreendente, portanto, que haja no país uma nova leva de bancos em gestação. O plano dos novatos é justamente atuar no vácuo deixado pelos grandes — sem concorrer em todas as frentes, mas aproveitando-se da crescente insatisfação dos correntistas.
A XP, que surgiu há 13 anos como uma corretora e se tornou a maior empresa de investimento do país, acaba de finalizar o projeto para criar um banco.
O plano, que será apresentado ao Banco Central em junho, prevê que os 120 000 clientes tenham uma conta-corrente “virtual”, que permitirá fazer pagamentos, transferências e saques em caixas 24 horas. “Toda vez que um investidor nosso precisa fazer uma transação bancária, ele tira o dinheiro daqui e manda para um banco.
Queremos concentrar tudo conosco e prestar um serviço melhor”, diz Guilherme Benchimol, um dos fundadores da XP. No papel, a conta faz sentido — mas é preciso ver como tudo se dará na prática. O plano é oferecer mais alternativas de investimento e também empréstimos com juros mais baixos, já que os clientes poderão dar suas aplicações como garantia.
Ao mesmo tempo, o banco XP ficará de fora de segmentos como seguros e cartões de crédito (assim, seus clientes não vão receber ofertas de produtos que não tenham nada a ver com seu perfil). Parte do investimento inicial de 70 milhões de reais no projeto virá dos fundos de private equity Actis e General Atlantic, que têm 41% do capital da XP.
No topo e na base da pirâmide
Há instituições que veem espaço para conquistar a clientela endinheirada e outras que querem ganhar a baixa renda. O banco Original, controlado pela J&F, holding dona do frigorífico JBS, encaixa-se no primeiro grupo.
Henrique Meirelles, presidente do conselho de administração da J&F, está há seis meses contratando parte de sua equipe dos tempos em que dirigiu o BankBoston, na década de 90.
O J&F também está investindo em tecnologia para transformar o Original, especializado em financiar o agronegócio, num banco voltado para a alta renda.
Segundo executivos que acompanham o negócio, o projeto não está finalizado, mas prevê que 90% das transações sejam por internet e que os clientes tenham acesso a novas opções de investimento e assessoria financeira. Procurado, Meirelles não deu entrevista.
Na ponta oposta, há quem busque atrair a classe C. Uma das principais iniciativas nesse campo é a da companhia de telecomunicações Telefônica e da bandeira de cartões Mastercard.
Juntas, elas criaram a MFS, empresa de pagamentos que oferece contas pré-pagas aos clientes da operadora de telefonia móvel Vivo. Funciona assim: o cliente compra um número de conta, assim como compra um número de celular, e coloca créditos nela para fazer depósitos e pagamentos, transferir dinheiro e checar saldo — tudo pelo celular ou via um cartão emitido pela Mastercard, que permite fazer saques e pagamentos.
“Queremos chegar à população que nunca teve conta em banco e não quer gastar o que tem com tarifas”, diz Marcos Etchegoyen, presidente da MFS. A comunicação ocorre basicamente por mensagens de texto, que não são cobradas. Segundo a Vivo, 21 milhões de seus 180 milhões de clientes não têm conta em banco.
Bancos de nicho são uma realidade no exterior. Um estudo da consultoria Accenture mostra que estão em funcionamento pelo menos 20 deles no mundo. O slogan de um deles, o americano Simple, é “O banco que não é uma porcaria”.
Quando um cliente liga para seu call center, é direcionado ao mesmo funcionário que o atendeu anteriormente e tem seu histórico. Outros oferecem serviços de consulta de saldos e pagamentos de contas via TV a cabo.
Outro ponto importante: a maioria só cobra tarifas pelo serviço que o cliente usa, e não um valor fixo mensal que inclui taxas para produtos nunca utilizados. No mundo todo, a prioridade desses bancos é ter mais serviços, e não um grande volume de empréstimos — o que faz com que sejam menos dependentes de capital. Isso é importante: captar recursos é o grande problema dos bancos médios tradicionais do Brasil.
Não é a primeira vez que o país vive uma onda de bancos “alternativos”. Em 2000, o Unibanco criou, em parceria com o grupo de telefonia Portugal Telecom, o Banco Um.Net, cuja proposta era ser uma instituição 100% virtual, mas com todos os produtos e serviços dos concorrentes tradicionais.
O projeto foi abandonado no ano seguinte. Executivos de mercado atribuem o fracasso às limitações de acesso à internet daquela época.
Hoje, quase metade dos correntistas usa algum serviço bancário na internet. E muitos estão insatisfeitos com seus bancos — só em fevereiro, o BC recebeu 5 700 reclamações de clientes das cinco maiores instituições. É improvável, claro, que esses novos bancos mudem a estrutura do mercado nacional.
Como oferecem um número limitado de produtos e serviços, eles dificilmente serão o único banco de seus clientes. Mas podem ser a opção preferida para alguma transação específica — por exemplo, fazer investimentos.
“Os clientes estão atrás de conveniência, e bancos de nicho podem oferecer isso”, diz o consultor Boanerges Freire, especialista em varejo financeiro. Nesse caso, ser pequeno ajuda.