Consumidores em revenda de carros: crédito mais rigoroso para reduzir o risco de calote (Daniela Toviansky/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2013 às 14h03.
São Paulo - Os bancos brasileiros estão entre os mais rentáveis do mundo. Nada indica que eles percam essa condição no curto prazo, mas, nos últimos anos, seus lucros em relação ao patrimônio vêm caindo significativamente.
Em 2012, a rentabilidade média dos sete maiores bancos — com ativo superior a 50 bilhões de reais — foi de 17%, ante 20% no ano anterior. Foi a menor taxa de retorno desde 2000, segundo levantamento do Inepad, instituto que reúne professores de administração de várias universidades brasileiras.
Entre as instituições financeiras de médio porte, que oferecem menos produtos e precisam manter margens mais baixas para atrair clientes, a rentabilidade caiu de 8%, em 2011, para 6%, em 2012, a menor taxa desde o início da série histórica, em 1996. Os dados serão analisados em detalhe na 40ª edição de Melhores e Maiores, que EXAME publicará no início de julho.
Um conjunto de fatores explica a perda de rentabilidade. Um deles é a redução da taxa básica de juro, a Selic, que caiu de 19% ao ano, em 2001, para 7,5%, atualmente. A queda dos juros leva os bancos a ganhar menos nos empréstimos concedidos aos clientes. Outra causa da perda é a desaceleração do ritmo de crescimento da economia do país.
De 2007 a 2010, as principais carteiras de crédito dos bancos, como a de financiamento para a compra de carros, cresceram à média anual de 20%. Nos últimos 12 meses, a expansão não passou de 6%.
A combinação de menor volume de empréstimos com aumento da inadimplência e custos mais altos resultou em carteiras com margens mais enxutas.
“Nos tempos de juros mais altos, os bancos ganhavam muito com um número reduzido de clientes”, diz Alberto Matias, professor da Universidade de São Paulo. “O desafio agora é ganhar menos em cada operação, mas com um número maior de clientes.”
Redução da inadimplência
O Bradesco, que obteve 17,3% de rentabilidade em 2012 — a maior taxa entre os bancos brasileiros segundo a consultoria Economática —, aposta em tecnologia para ampliar a base de clientes. Do início de 2012 a março deste ano, investiu 5 bilhões de reais em novos sistemas e produtos. Os resultados começam a aparecer.
Em 2012, seus clientes realizaram 380 milhões de transações por meio de celulares, um crescimento de 285% em relação ao ano anterior.
Com mais pessoas fazendo operações via celular, o banco diminui as despesas operacionais. “O avanço tecnológico reduz os custos, o volume de transações cresce e o banco ganha escala”, diz Luiz Carlos Angelotti, diretor de relações com o mercado do Bradesco.
Para ampliar o volume de negócios, o banco investe também no aumento da capilaridade — nos últimos dois anos abriu mais de 1 000 agências e hoje tem um total de 4 600 unidades no país.
Em busca da recuperação da rentabilidade perdida, os bancos estão mais criteriosos na concessão de crédito. É o caso do Itaú Unibanco, que passou a focar mais os empréstimos nas carteiras imobiliária e de crédito consignado. “São produtos com menor grau de inadimplência”, diz Rogério Calderón, diretor de controladoria do Itaú.
Já o Santander redesenhou produtos. Um dos lançamentos é uma conta-corrente que cobra juros reduzidos e oferece pacotes de serviços sem custos.
Com isso, o Santander espera ganhar em volume, pois a tendência é que o cliente recorra mais a cartões e empréstimos. “Os grandes bancos estão numa cruzada para redefinir suas vocações”, diz Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento. O tempo dirá se eles estão no caminho certo.