Revista Exame

Os gigantes SteveJobs e Meg Whitman pisaram na bola

Steve Jobs, da Apple, e Meg Whitman, do Ebay, pareciam não errar nunca. Até agora

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Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2011 às 21h17.

O iPhone foi mostrado pela primeira vez em janeiro, e nos meses seguintes a Apple e seu fundador, Steve Jobs, tornaram-se protagonistas de um dos maiores fenômenos de marketing da história. Muito antes de chegar às lojas, a mágica tela multitoque do produto ganhou espaço sem precedentes no imaginário dos consumidores.

A história da volta por cima da empresa foi contada e recontada à exaustão, assim como a virada pessoal de Jobs, que saiu em desgraça da companhia que fundou e voltou como seu salvador anos mais tarde. Sua obsessão pelo design foi esmiuçada nos mínimos detalhes.

Um artigo do The Wall Street Journal creditou a elegância dos produtos da Apple a uma repulsa que Jobs teria a qualquer tipo de botão em aparelhos eletrônicos -- o que explicaria a tecla solitária na superfície do iPhone.

O frenesi midiático gerado pelo produto criou a impressão de que a Apple e seu criador eram incapazes de errar, e o preço da ação da empresa acompanhou o entusiasmo: nos dez meses que se seguiram ao anúncio do iPhone, os papéis subiram 70%. Mas, no início de outubro, o amor começou a dar sinais de cansaço.

Primeiro, o preço do iPhone foi reduzido de 599 para 399 dólares, somente dois meses após a chegada do produto às lojas. Depois, a Apple deu a entender que os desenvolvedores independentes não poderão criar software para o aparelho, ou seja, só programas da própria empresa poderão tirar proveito da tecnologia e da crescente base de iPhone em uso. Os fanáticos e fiéis consumidores não gostaram nem um pouco -- e as reclamações começam a ecoar pela internet.

Quando a redução de preço foi anunciada, Jobs saiu-se com a seguinte frase: "É assim mesmo no mundo da tecnologia". Ele fazia referência à velocidade da queda dos custos de produção da indústria, mas poderia também estar falando do status dos grandes inovadores no negócio da tecnologia.


No início desta década, o sistema logístico desenvolvido pela Dell era considerado imbatível, e aos outros fabricantes de PC restava apenas a opção de buscar a consolidação para concorrer com o genial Michael Dell. Mas a queda na qualidade da assistência técnica, aliada a uma insistência no modelo de vendas diretas, desprezando o varejo, fez a Dell perder a liderança mundial para a HP.

O Google ainda não perdeu a posição dominante que ocupa na web, mas a boa vontade dos usuários de que o gigante das buscas desfrutava certamente não é mais a mesma.

Das concessões aos censores chineses às preocupações com o acúmulo excessivo de informações pessoais dos usuários, as dúvidas a respeito da sinceridade do lema do Google -- "Não seja do mal" -- não param de crescer. Agora, é a vez de Jobs tentar superar os arranhões em sua imagem.

O iPhone é um computador sofisticado, que tem um sistema operacional semelhante ao que equipa os computadores da Apple. Quem compra um Mac tem total liberdade para escolher um provedor de acesso à internet e para instalar programas em seu computador. Quem compra um iPhone, não.

A operadora tem de ser obrigatoriamente a AT&T, nos Estados Unidos, a O2, no Reino Unido, ou a T-Mobile, na Alemanha. Software para o aparelho? Só aquele que já vem de fábrica ou novidades lançadas pela própria empresa. Hackers conseguiram desbloquear iPhones para usá-los em redes celulares diferentes e instalar novos programas, mas uma atualização do software do celular-computador anulou as modificações e reafirmou o modelo de controle absoluto da Apple sobre o aparelho.

MUITAS PESSOAS TIVERAM os aparelhos inutilizados, e pelo menos dois consumidores decidiram processar a empresa. Um deles, o americano Timothy Smith, exige 1 bilhão de dólares como reparação, além de indenizações pelo que caracterizou como práticas monopolistas da Apple.

"É como se você comprasse uma TV da Sony e a empresa o proibisse de ver a programação da Fox", diz a ação movida por Smith. Blogueiros comparam a amarração de aparelho e software à do sistema Windows e seu navegador, o Internet Explorer, o que motivou o processo antitruste movido pelo governo americano contra a Microsoft.


"A Apple hoje tem a reputação de monopolista que pertencia à Microsoft", escreveu o colunista Mike Elgan, da revista PC World. A comparação é exagerada; afinal de contas, estima-se que a Apple tenha vendido pouco mais de 1 milhão de iPhones, uma porcentagem ínfima dos mais de 2 bilhões de celulares em uso no mundo. Mas a imagem de Steve Jobs, sempre visto como o executivo de tecnologia que pensa diferente, já saiu manchada do episódio.

A executiva-chefe do site de leilões Ebay, Meg Whitman, também sofreu no início de outubro o primeiro grande revés de uma carreira até hoje estelar. Num anúncio que muitos consideravam inevitável, o Ebay admitiu ter pago dinheiro demais pelo serviço de telefonia pela internet Skype, adquirido em 2005 por 2,6 bilhões de dó lares.

No comunicado divulgado aos acionistas, a empresa assume um prejuízo de nada menos que 1,4 bilhão de dólares no negócio. Desse total, 530 milhões de dólares serão pagos aos acionistas do Skype, que, pelo acordo inicial, poderiam ter recebido até 1,7 bilhão conforme a performance do serviço.

O problema é que o Skype não atingiu as metas combinadas. Embora tenha uma base de 220 milhões de usuários em todo o mundo, o serviço de telefonemas pela rede gerou apenas 90 milhões de dólares em receitas nos três primeiros meses do ano, muito aquém das expectativas de Whitman -- a maioria das ligações feitas pelo Skype, diga-se, é de computador para computador e, portanto, gratuita.

Mas o outro problema, talvez mais danoso para a imagem da executiva, foi a dificuldade de integrar o Skype ao negócio do Ebay, que são as comissões cobradas pelas vendas realizadas pelo site. A idéia inicial era permitir que compradores e vendedores pudessem se comunicar diretamente por um canal de voz, em vez de usar mensagens de e-mail.

Com mais troca de informações, maior a chance de que negócios seriam fechados, o que, portanto, geraria mais comissões. Mas a tal integração nunca deu certo. "O Ebay finalmente admitiu o que o mundo já sabia havia um ano", disse o analista de internet Henry Blodget.

"A aposta foi um fracasso. O Ebay deveria vender imediatamente o Skype para alguém como Yahoo! ou Google e concentrar-se em seu negócio, que é o comércio eletrônico." Não se trata de um lugar-comum. No último ano, o Ebay viu uma redução no número de produtos à venda no site. Foi a primeira vez que isso aconteceu nos 12 anos da empresa.

Ninguém acredita que Whitman, que tem 51 anos de idade e dirige o Ebay há quase dez, vá perder o emprego por causa do fracasso da compra do Skype. Mas sua reputação certamente foi abalada. Uma das principais críticas que ela sofreu foi ter concordado em pagar um valor exagerado por um serviço que até então praticamente não gerava receitas.

A negociação, para muita gente, lembrou os tempos da bolha da internet. "Parece uma volta aos erros do ano 2000", disse Aaron Kessler, analista do banco de investimento Piper Jaffray. "As empresas de internet estão voltando a comprar audiência em vez de receitas e lucratividade."

Para uma executiva que vivenciou os anos de irracionalidade da bolha e que é freqüentemente listada entre as mais poderosas do mundo -- Whitman chegou a concorrer ao cargo de presidente mundial do grupo Disney, mas desistiu --, é uma crítica e tanto.

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