Revista Exame

Onde investir e lucrar mesmo com o país em crise

Recessão, instabilidade política, desemprego e inflação. A crise é feia, sem dúvida. A boa notícia é que dá para ganhar dinheiro mesmo assim


	Protesto contra o governo: na dúvida, os investidores estão mais conservadores
 (REUTERS/Paulo Whitaker)

Protesto contra o governo: na dúvida, os investidores estão mais conservadores (REUTERS/Paulo Whitaker)

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Da Redação

Publicado em 8 de outubro de 2015 às 10h24.

São Paulo - Os economistas gostam de dizer que “não se deve desperdiçar uma boa crise”. Em geral, estão mandando um recado aos governos de países com problemas — mas, atualmente, o conselho serve também para os investidores brasileiros.

É quase impossível encontrar boas notícias na economia: as previsões mais recentes indicam que o PIB vai encolher 2% neste ano e mais um pouco em 2016, o desemprego e a inflação estão em alta e muitos analistas já consideram certa a perda do grau de investimento, selo dado pelas agências de risco aos países considerados bons pagadores.

Enfraquecido, o governo luta para aprovar as poucas reformas que se dispôs a fazer. Para completar o drama, a situação da China voltou a preocupar. No final de agosto, em apenas quatro dias, a bolsa de Xangai caiu 22%, derrubando as bolsas de todo o mundo naquela que foi instantaneamente apelidada de “segunda-feira negra".

É cedo para prever as consequências de longo prazo de todas essas dificuldades para a economia. Mas elas já chegaram ao mundo dos investimentos, e nem todas foram ruins. A principal delas é a possibilidade de investir em aplicações de baixo risco recebendo um rendimento elevado.

Ao contrário do que aconteceu nos países desenvolvidos em 2008 — que reduziram drasticamente os juros para estimular a economia —, aqui, as taxas subiram para conter a inflação. Em julho, o Banco Central aumentou os juros pela sétima vez consecutiva, o que tornou as aplicações em renda fixa mais vantajosas, e muitos investidores já perceberam isso.

Hoje, o total aplicado em produtos de renda fixa (papéis públicos e títulos da dívida de empresas) chega a 8 trilhões de reais, 67% mais do que em 2010. A crise também está derrubando o preço de imóveis e das ações de dezenas de empresas brasileiras. É hora de sair às compras? Nem tudo que está barato vale a pena, mas há uma série de pechinchas interessantes no mercado. Para quem tiver estômago, claro.

Veja a seguir as melhores opções de investimento para atravessar a crise, na opinião de 25 gestores de fundos, analistas e grandes investidores consultados por EXAME.

É hora de ser conservador ao investir? Ou é melhor aproveitar a crise para tentar comprar de ações a imóveis com preços menores?

Vale a pena ser conservador. Com a alta dos juros, o rendimento das aplicações de renda fixa subiu — e o risco é baixíssimo. Os fundos DI rendem, hoje, aproximadamente 11% ao ano (já descontados uma taxa de administração estimada em 1% ao ano e um imposto de renda de 20%).

Há alternativas ainda mais rentáveis no mercado, como os CDBs de bancos de médio porte, que chegam a pagar 18,5% ao ano aos investidores, e outras com isenção de imposto de renda, como as debêntures ligadas a obras de infraestrutura. Para ter acesso a essas opções mais rentáveis, porém, é necessário deixar o dinheiro aplicado por alguns meses ou anos.

Os assessores financeiros mais radicais acham que a renda fixa ficou tão vantajosa que é melhor ficar fora da bolsa e aplicar tudo nesse segmento. “Com um juro desse tamanho, o risco da bolsa não compensa, mesmo para quem tem um perfil mais arrojado”, diz Luiz Eduardo Portella, sócio do banco Modal.

Para a maioria dos consultores, porém, é melhor diversificar, ainda que a parcela dos recursos destinada à bolsa seja pequena. Segundo os profissionais ouvidos por EXAME, os conservadores devem colocar 3% do patrimônio em ações; os agressivos, 10%. Mais do que isso é arriscar demais.

“Ninguém sabe quando a bolsa vai começar a subir. O ideal é ter uma carteira de investimentos diversificada, sempre com um pouco de ações. A quantidade depende do perfil do investidor”, diz Eduardo Levy, gestor da Rio Bravo, gestora do ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco.

A situação do mercado imobiliário é parecida. Ainda que os preços de alguns imóveis — especialmente dos comerciais — tenham caído, o risco de investir nesse setor agora é altíssimo, na opinião dos especialistas. Quem planeja comprar para alugar pode ter dificuldade em conseguir inquilino num momento de recessão.

Quem pretende revender pode ter de esperar alguns anos para conseguir fechar um negócio com lucro. As melhores oportunidades desse setor, segundo os especialistas, estão nos fundos imobiliários que aplicam em shopping centers e agências bancárias.

Se é hora de ser conservador, quais são os melhores investimentos de baixo risco?

Depende do prazo do investimento. Para quem pretende deixar o dinheiro aplicado por até três meses, as opções são fundos DI e títulos públicos pós-fixados, que acompanham a variação dos juros de mercado.

O conselho dos especialistas é buscar fundos com taxa de administração inferior a 1% para não comprometer o rendimento. Com a alta dos juros e da inflação, a caderneta de poupança tornou-se um péssimo negócio. A rentabilidade em 12 meses foi de 7,6%, enquanto a inflação ficou em 9,5%.

Para quem planeja investir por períodos que variam de três meses a quatro anos, as alternativas se multiplicam. Uma delas são os CDBs de bancos de médio porte. CDBs são títulos que os bancos emitem para se financiar. Com dificuldade para captar recursos em meio à crise, as instituições menores estão oferecendo, em média, um rendimento anual de 115% do CDI (o equivalente a 16% hoje) para os investidores que aplicarem a partir de 25 000 reais em seus CDBs. Algumas chegam a pagar até 130% do CDI (ou 18,5% ao ano).

Mas não é arriscado? O risco diminui se o investimento for de até 250 000 reais — caso o banco emissor passe por problemas, o Fundo Garantidor de Créditos ressarce os investidores que tiverem até esse valor em CDBs. Outra opção para quem vai investir por um a quatro anos são as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e as Letras de Crédito Agrícola (LCAs).

Ambas são emitidas pelos bancos: as LCIs têm como lastro financiamentos imobiliá­rios; e as LCAs, empréstimos agrícolas. Assim como acontece com os CDBs, contam com a garantia do Fundo Garantidor. A vantagem desses papéis é a isenção de imposto de renda.

A desvantagem, atualmente, é que os bancos têm oferecido retornos mais baixos aos investidores: com a freada da economia, não precisam de tantos recursos para financiar o mercado imobiliário ou a agricultura. Para que o investimento nesses títulos compense, é preciso buscar um rendimento anual de, no mínimo, 90% do CDI (ou 13% ao ano, já isento de imposto), segundo os especialistas.

Para investimentos de prazo mais longo, a melhor alternativa são as debêntures ligadas a obras de infraestrutura. Esses títulos são emitidos por empresas que estão construindo de estradas a hidrelétricas — e são isentos de imposto de renda desde 2011, quando foi sancionada uma lei para incentivar projetos de infraestrutura.

Ao contrário do que está acontecendo com as LCIs e as LCAs, a emissão dessas debêntures está crescendo — em um ano, aumentou 31%, para cerca de 15 bilhões de reais e, segundo a empresa de investimento XP, devem ser lançados mais 7 bilhões de reais até o fim do ano. Há muitas obras em andamento no país e os empréstimos do BNDES minguaram: para conseguir se financiar, as empresas têm sido obrigadas a emitir títulos.

A rentabilidade das debêntures depende do prazo de vencimento e do risco da empresa emissora. Os especialistas aconselham buscar papéis de companhias com baixo risco de crédito segundo as agências de classificação de risco (Fitch, Moody’s e Standard & Poor’s) e que paguem, no mínimo, 15% ao ano ou 7,25% ao ano mais a variação da inflação.

O retorno é alto, mas o risco é maior do que o das demais alternativas da renda fixa. Não há a garantia do FGC: se a empresa emissora passar por problemas financeiros, o investidor pode ficar no prejuízo. Além disso, é difícil vender esses papéis antes do vencimento, que costuma variar de quatro a dez anos.

Quem quiser ter mais liquidez pode aplicar em fundos que compram debêntures de infraestrutura. Eles também são isentos de imposto, mas cobram taxa de administração, que geralmente varia de 0,75% a 1% ao ano.

A inflação vai beirar os 10% em 2015. Como proteger o patrimônio da alta de preços?

a melhor opção são os títulos públicos atrelados à inflação — chamados hoje de Tesouro ­IPCA+ (até o ano passado, eram conhecidos como NTN-Bs). O rendimento médio é de 7% ao ano mais a variação do IPCA — o que daria um retorno anual­ de aproximadamente 17% considerando a inflação projetada para 2015.

O risco desses papéis é a vola­tilidade. Quando há alguma mudança na política monetária ou na trajetória da inflação, a rentabilidade de curto prazo pode cair. O investidor consegue evitar isso mantendo os títulos até a data do vencimento — que varia de 2017 a 2050

Na data escolhida, ele recebe o valor que aplicou mais o rendimento acordado no momento da compra (alguns papéis também pagam juros semestralmente). Esses títulos podem ser comprados no site do Tesouro Direto. Antes de aplicar, é preciso fazer o cadastro em uma corretora.

Para quem pretende investir por apenas um ano, os especialistas recomendam os fundos DI ou os títulos públicos do Tesouro Selic (antigas LFTs). Ambos acompanham o comportamento dos juros de mercado e, por esse motivo, a volatilidade é baixa. O risco é a inflação não cair como o esperado, o que corroeria o rendimento dessas aplicações. Hoje, a maioria dos analistas prevê que a inflação, que está em torno de 9% neste ano, caia para cerca de 5% em 2016 — e que os juros passem de 14,25% para 12% ao ano.

Supermercado em São Paulo: os analistas esperam que a inflação caia apenas em 2016 (Alexandre Battibugli / EXAME)

O país corre o risco de perder o grau de investimento. Existe a possibilidade de o governo dar calote nos compradores de títulos públicos?

a chance é remota. títulos públicos são considerados uma aplicação de baixo risco porque, mesmo que o país chegue a uma situação-limite, em que não haja dinheiro para rolar a dívida, o governo pode pedir ao Banco Central que emita moeda e, assim, pagar o que deve. Apesar da piora nas contas públicas, o Brasil está longe desse extremo, segundo os especialistas.

“Para isso acontecer, o governo teria de estar totalmente incapacitado de gerar um superávit primário, e a dívida teria de ser mais alta e mais custosa”, afirma o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (hoje presidido por Alexandre Tombini). A única vez em que o governo deixou de pagar os detentores de títulos públicos, e apenas por um período, foi em 1990.

Na época, as aplicações em papéis públicos e nas cadernetas de poupança foram parcialmente bloqueadas por 18 meses. Hoje, o governo conta ainda com outro recurso para ajudar a fechar as contas: os 370 bilhões de dólares das reservas internacionais. Numa situação-limite, poderia converter esses dólares em reais e pagar o que deve.

As aplicações em renda fixa deram um retorno bem maior do que o da bolsa nos últimos 20 anos — e com um risco muito menor. Devemos desistir de comprar ações?

não. ainda que o desempenho médio da bolsa tenha sido muito pior do que o da renda fixa nas últimas décadas, alguns fundos e também algumas ações subiram bem mais do que o CDI (juro de mercado). É o caso dos fundos das gestoras Dynamo, Fama e Investidor Profissional e do banco Opportunity.

Desde 1996, esses fundos renderam entre 2 400% e 7 000%, enquanto o Ibovespa subiu 670%, e o CDI, 1 570%, de acordo com um levantamento feito pela empresa de informações financeiras Economatica, a pedido de EXAME. Nesse mesmo intervalo, as ações da fabricante de motores WEG subiram 20 000%; as da varejista Lojas Americanas, 11 000%; e as da companhia de cigarros Souza Cruz, 10 500%.

“O investidor deve fugir do índice, não da bolsa”, diz Otávio Vieira, sócio da gestora carioca Fides. No passado, o fato de haver ações de empresas do grupo X, do empresário Eike Batista, no Ibovespa puxou seu desempenho para baixo.

A bolsa melhorou os critérios de seleção de companhias que fazem parte do indicador, mas, ainda assim, ele continua bastante concentrado em ações de produtoras de commodities, como as da mineradora Vale e da petroleira Petrobras — justamente as empresas que mais sofrem com a desaceleração da economia da China.

O conselho número 1 de qualquer guru financeiro é comprar ações quando o mercado vai mal — que é a situação da bolsa brasileira agora. Apenas em agosto, o Ibovespa caiu 12%. Em cinco anos, a baixa é de 30%. Em dólar, o índice está num patamar inferior ao atingido durante a crise de 2008.

O problema é que, como há muita incerteza — na economia e na política —, ninguém consegue prever se as ações vão cair ainda mais. Por isso, quem está comprando ações agora está fazendo isso aos poucos. O fundo da Dynamo, por exemplo, tem 33% do patrimônio aplicado em renda fixa, o máximo permitido pela legislação para um fundo de ações — e investe na bolsa quando avalia que há boas oportunidades.

Recentemente, comprou papéis da incorporadora Cyrela, que já caíram quase 50% em dois anos. “O mercado imobiliário está num momento horrível, mas a Cyrela está capitalizada e é bem gerida”, diz Pedro Damasceno, sócio da ­Dynamo. “De toda forma, trata-se de um investimento de longo prazo, porque o mercado pode continuar ruim por mais de um ano.”

Outra ação que já caiu demais, na opinião do mercado, é a do banco Itaú. Hoje, 14 dos 20 analistas que acompanham o banco recomendam comprar seus papéis. A avaliação é que a carteira de crédito do Itaú é saudável e a instituição deve conseguir manter seus bons resultados mesmo se a inadimplência subir.

A gestora AZ Quest — cujo fundo de ações rendeu quase 480% nos últimos dez anos, ante 200% do CDI e 70% do Ibovespa — vem comprando papéis de companhias de alimentos, vestuário, energia elétrica e serviços financeiros. “É claro que a bolsa pode cair mais, principalmente se o país perder o grau de investimento. Mas é impossível acertar o momento exato de comprar e, hoje, já há empresas baratas”, diz Walter Maciel, presidente da AZ Quest.

A imensa maioria dos analistas recomenda evitar as ações de produtoras de commodities. A exceção são as fabricantes de celulose, cujos preços estão subindo porque a demanda está crescendo nos Estados Unidos e na Europa.

Com a crise, o lucro de várias empresas deverá cair. faz sentido comprar ações de boas pagadoras de dividendos?

 apesar da crise, dá para ganhar dinheiro com dividendos. A estratégia de Luiz Barsi, que se tornou um dos maiores investidores individuais da Bovespa investindo em ações de empresas que pagam dividendos elevados, é procurar companhias que tenham uma política estruturada de distribuição de lucros — e cujos papéis tenham caído nos últimos meses.

Sua preferida é a empresa de energia elétrica Taesa, que distribui, no mínimo, metade do lucro aos acionistas. “Para reduzir esse percentual, a Taesa precisa negociar com a Cemig (companhia de energia elétrica de Minas Gerais), que é sua maior acionista e, claro, não quer abrir mão dos dividendos”, diz Barsi.

Outra ação que ele diz estar comprando é do Banco do Brasil (BB), que caiu 40% em 12 meses e ficou barata. Hoje, os dividendos respondem por 7% do preço da ação do BB, o que significa que, se o preço do papel não sair do lugar, esse é o retorno anual que os investidores terão. As corretoras também recomendam as ações das administradoras de programas de fidelidade Multiplos e Smiles e das empresas de energia elétrica Copel e Cemig

Para os analistas, as incertezas em relação à regulação do setor elétrico diminuíram bastante em agosto, quando o governo anunciou um novo programa que prevê concessões de geração e transmissão de energia no valor de 186 bilhões de reais. A expectativa é que as empresas consigam elevar suas receitas com os novos contratos.

Em 2014, as ações do setor caíram fortemente quando o governo represou os reajustes das tarifas. Neste ano, os preços subiram, o que contribuiu para elevar a inflação, mas está permitindo que as companhias do setor melhorem sua situação financeira.

O dólar já valorizou 55% em apenas um ano. Investimentos cambiais ainda valem a pena?

para quem espera conseguir grandes retornos com esse tipo de investimento, não. Na opinião da maioria dos economistas, o dólar deverá valorizar mais, só que num ritmo menor. A previsão média do mercado é que a moeda, que hoje está cotada a 3,60 reais, chegue a 3,70 reais no fim de 2016 — o que resultaria numa alta de cerca de 3% em mais de um ano se a projeção se confirmar.

Como os juros estão em 14,25% ao ano e ninguém espera que caiam muito tão cedo, há mais chance de ganhar dinheiro na renda fixa do que num investimento cambial. Esse tipo de aplicação só renderá mais do que o CDI se o dólar passar de 4 reais. Em seu último relatório enviado a clientes, Luis Stuhlberger, gestor do Verde, fundo multimercados mais rentável do país, afirma que o câmbio “parece estar no preço justo”. O Verde apostou pesadamente na valorização do dólar até o começo do ano.

Os especialistas recomendam fundos cambiais ou compra de dólares para quem quer proteger o patrimônio dos altos e baixos da moeda — ou porque tem algum compromisso em dólares ou porque quer preservar seu poder de compra no exterior. As melhores alternativas são os fundos multimercados que aplicam fora do país.

“Bons gestores conseguem captar as mudanças de tendência e melhorar o rendimento do fundo mesmo quando o câmbio não ajuda tanto”, diz Maílson Hykavei, sócio da assessoria financeira FinPlan. Para quem tem mais de 1 milhão de dólares, há a opção de mandar dinheiro para fora do país e investir diretamente no exterior (para valores inferiores a esse, os custos são muito elevados).

A vantagem é proteger o patrimônio de mudanças de legislação no Brasil — o principal temor é o aumento de impostos sobre os investimentos. O banco BTG Pactual recomenda a compra de títulos da dívida de empresas brasileiras emitidos no exterior — segundo a instituição, é possível comprar papéis de grandes companhias que pagam entre 4% e 5% ao ano acima do CDI (no Brasil, as taxas variam de 1% a 2% ao ano acima do CDI).

“Os estrangeiros estão exigindo retornos maiores em razão do aumento da percepção de risco do Brasil”, diz Albano Franco, responsável pela área de crédito do banco BTG Pactual.

Zona oeste de São Paulo: o preço dos apartamentos costuma cair lentamente (Germano Lüders / EXAME)

O preço dos imóveis parou de subir nas capitais brasileiras — em alguns casos, está caindo. É hora de comprar?

Não agora. O preço de casas e apartamentos costuma cair lentamente, segundo os especialistas, porque os proprietários relutam em dar descontos, mesmo quando não conseguem vender. “Com mais um ano de recessão pela frente, muita gente deve ficar com a corda no pescoço e acabar concordando em vender por valores mais baixos”, diz George Wachsmann, sócio da assessoria financeira GPS, que é especializada em clientes de alta renda e tem 22 bilhões de reais de patrimônio.

Espera-se ainda que as incorporadoras continuem dando descontos em imóveis já prontos e encalhados. O número de casas e apartamentos devolvidos por compradores sem condições de pagar está aumentando em razão da alta dos juros dos financiamentos.

Neste ano, o preço médio dos imóveis residenciais diminuiu 5% em termos reais no país — foi a primeira queda desde 2008, quando a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas começou a fazer o levantamento. Para quem quer comprar um imóvel, é um bom momento para começar a procurar — e negociar bastante antes de fechar negócio, segundo executivos de mercado.

Com os descontos oferecidos por incorporadoras, é bom negócio comprar um imóvel para alugar?

Não é mais. o valor dos aluguéis residenciais está diminuindo — a queda foi de 1,3% neste ano (em termos reais, a queda foi de 7,6%), de acordo com a pesquisa mais recente da Fipe. Em meio à crise econômica, a possibilidade de recuperação é pequena.

Com isso, o rendimento obtido com o aluguel, que chegou a ser de quase 8% ao ano em 2009, baixou para cerca de 4% (ou seja, o valor da locação representa 4% do preço do imóvel). É um percentual próximo ao da maioria dos países desenvolvidos. O problema é que, no Brasil, como os juros são muito mais altos, esse tipo de investimento não compensa.

Atualmente, é possível conseguir um retorno de 7% ao ano acima da inflação comprando títulos públicos, cujo risco é muito menor. Pesquisas mostram que a inadimplência dos inquilinos aumentou e há mais imóveis vazios por causa da recessão: somente na cidade de São Paulo, o número de imóveis novos desocupados aumentou 59% em dois anos (são quase 30 000 apartamentos vagos).

A situação é ainda mais crítica no segmento de imóveis comerciais. Em São Paulo, cerca de 40% das “salinhas” — escritórios pequenos geralmente alugados para médicos e outros profissionais liberais — estão vazias. Além disso, cerca de 20% dos grandes escritórios estão sem inquilino nas principais capitais, e os preços, em determinados bairros, chegaram a cair 50% no último ano.

Para valer a pena, segundo os especialistas, o retorno com o aluguel deveria ser de, pelo menos, 7% ao ano. Como está difícil aumentar o valor dos aluguéis atualmente, a única chance de conseguir um rendimento desses é comprar um imóvel muito, mas muito barato. Se não for esse o caso, é melhor ficar na renda fixa.

Muitos investidores tiveram prejuízo aplicando em fundos imobiliários nos últimos anos. Existem boas opções no mercado?

sim. o ponto de partida é procurar os fundos imobiliários que estão baratos. Os principais fundos do mercado são negociados na bolsa como se fossem ações. Atualmente, pelo menos 63 deles valem em bolsa menos do que a soma do valor dos imóveis em que investem, segundo um levantamento da corretora Coinvalores.

De forma simplificada, isso significa que quem colocar dinheiro nesses fundos estará comprando, com desconto, uma parcela dos imóveis em que eles aplicam — que podem ser escritórios, armazéns, agências bancárias, shoppings, prédios residenciais e até hospitais. Os especialistas alertam, porém, que nem tudo que está barato se torna uma boa alternativa de investimento, especialmente em meio à recessão.

Os fundos mais indicados são os que aplicam em agências bancárias — porque os contratos de locação são de longo prazo e o risco de inadimplência é considerado baixo — e em shoppings antigos, que já têm um perfil de público definido e todos os espaços ocupados por lojistas (é possível ter acesso aos detalhes da política de investimento nos prospectos dos fundos).

“Ainda que sejam boas opções, esses fundos podem render menos do que a renda fixa por um ano ou mais, em razão da crise econômica”, diz Sergio Belleza, consultor especializado nesse segmento. Por isso, a recomendação dos assessores financeiros é aplicar, no máximo, 5% do patrimônio nesse setor — e com a possibilidade de deixar os recursos investidos por mais de dois anos.

A maioria dos fundos imobiliários ganha dinheiro com o aluguel dos imóveis em que aplica. Alguns buscam lucrar revendendo prédios e armazéns. Uma vantagem para o investidor é que são isentos de imposto de renda. Na média, o desempenho dos fundos neste ano está razoável: a valorização foi de 9% de janeiro a meados de agosto, enquanto o CDI subiu 8% e a inflação ficou em 7%.

Segundo executivos de mercado, os fundos de maior risco, hoje, são os que investem em edifícios comerciais. Com a recessão, cerca de 20% dos escritórios nas principais capitais estão vazios, o valor dos aluguéis está caindo e executivos de mercado acham cedo para dizer se o pior já passou.

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