Da esqueda para a direita: Luis D'Amato, Denise Pavarina de Moura, James Oliveira, Marcos Duarte, Bolivar Moura, José Alberto Tovar, Saulo Sabbá e Carlos Rocha (Germano Lüders, Daniela Toviansky e André Valentim/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2013 às 19h51.
Os oito executivos que aparecem a seguir estão entre as estrelas do mercado brasileiro de investimentos. Premiados por EXAME, esses profissionais são responsáveis pela gestão dos melhores fundos de investimento de 2010, segundo uma pesquisa do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas.
A pesquisa da FGV, que é feita todos os anos desde 1996, analisou 1 000 fundos voltados para pessoas físicas, empresas e investidores institucionais num período de 12 meses. O desempenho dos fundos foi avaliado com notas de 1 a 5 e, com base nisso, foram escolhidos os melhores gestores em 13 categorias diferentes.
EXAME perguntou aos vencedores o que eles esperam para os próximos meses. Em comum, eles têm uma visão otimista para o desempenho da economia brasileira. Acreditam que o risco de descontrole inflacionário, que existia no início do ano, ficou para trás, assim como a expectativa de fortes aumentos dos juros.
Para Bolivar Moura, vice-presidente da Caixa Econômica Federal, a taxa real de juro cairá abaixo dos 5% ao ano — hoje, está em torno de 6%. Quando falam sobre o cenário externo, porém, os executivos são bem mais cautelosos. Para eles, há muita incerteza sobre o desempenho da China, da Europa e dos Estados Unidos. Na avaliação do banco J.P. Morgan, não dá para descartar o risco de as economias americana e europeia entrarem em recessão, o que seria um baque para o mundo.
Diante desse cenário, a maioria dos gestores premiados diz que este é o momento de ser conservador. Isso não significa sair da bolsa, mas manter estáveis os investimentos em ações — eles não esperam grandes altas para o mercado nos próximos três meses. Na renda fixa, os profissionais têm aumentado as aplicações em títulos públicos e papéis privados de baixo risco. Segundo Marcos Duarte, sócio da gestora carioca Polo Capital, é nesse segmento que está a melhor relação de risco e retorno dos próximos meses.
Quem tem medo de inflação
"A economia brasileira tem condições de crescer até 5% ao ano sem que isso gere descontrole inflacionário. Acima desse patamar, podemos ter uma situação semelhante à do começo deste ano, quando parecia haver uma tendência explosiva de alta dos preços. Já dá para dizer que o perigo de uma inflação muito elevada em 2010 passou, mas, para garantir que a taxa ficará dentro da meta neste ano, o Banco Central deverá aumentar os juros nos próximos meses.Não deve ser uma alta drástica, mas a mudança gera impactos para o investidor. Quem vai manter o dinheiro aplicado por poucos meses não pode inventar muito. Arriscar pode ser temerário. As melhores alternativas de investimento são os fundos conservadores de renda fixa, tanto os que aplicam em títulos públicos como os que investem em papéis de empresas, como as debêntures, porque seu rendimento varia de acordo com os juros de mercado." Denise Pavarina de Moura, diretora da gestora de recursos do banco (Bradesco)
Os problemas ficaram para mais tarde
"A última crise mundial mudou redicalmente a percepção sobre o Brasil. Continuamos com problemas sérios, como o desequilíbrio fiscal, mas, como o mundo piorou muito, passamos a ser vistos com bons olhos e essa questão se tornou secundária para muitos investidores. Isso deve continuar por mais alguns meses. A boa percepção dos estrangeiros sobre o país, aliada ao crescimento da economia, deve fazer a bolsa valorizar mais que a renda fixa — não nas próximas semanas, porque o ambiente ainda é de incerteza, principalmente no exterior, mas no longo prazo. Não espero que o comportamento da bolsa seja parecido com o de 2009, quando o Ibovespa subiu mais de 80%, mas ainda vejo espaço para ganhos. As ações dos setores de saúde e de telecomunicações estão entre as nossas preferidas. Essas empresas são benefi ciadas pelo crescimento do PIB e seus papéis ainda estão num preço interessante. É diferente do que tem ocorrido no setor de consumo, em que muitas ações já subiram mais do que deveriam." Luis D’Amato, sócio da gestora (Credit Suisse Heding-Griffo)
Uma estratégia para depois da Copa do Mundo
"O Brasil ainda vai levar alguns anos para corrigir um de seus principais descompassos: os juros elevados, que estão entre os maiores do mundo. Um dia isso vai ter de mudar. Taxas reais de 6%, 7% ao ano não combinam com um país de economia estável e sistema financeiro sólido. Passadas as preocupações de curto prazo com a inflação, os juros reais devem voltar a cair até atingir o patamar de 4% ao ano por volta de 2015. Como ganhar dinheiro nesse cenário? Uma boa opção são os títulos públicos que vencem a partir de 2015. Mas o investidor precisa estar disposto a deixar seu dinheiro aplicado por alguns anos, porque esses papéis costumam oscilar bastante antes do vencimento. Hoje, há títulos que pagam 6% ao ano mais a variação da inflação. O investidor que aplicar nesses papéis agora garante um retorno elevado quando os juros caírem." Bolivar Moura, vice-presidente e responsável pela gestão dos fundos do banco (Caixa Econômica Federal)
Os EUA vão ser o novo Japão?
"Os números recentes sobre a economia americana deixaram a maioria dos investidores apreensiva. Existe o medo de o país ficar parecido com o Japão e ter uma economia estagnada por vários anos. A chance de isso ocorrer ainda é pequena, mas esse é um risco que precisa ser monitorado. No Brasil, o refl exo desse cenário de incerteza é o comportamento errático da bolsa e do mercado de câmbio recentemente. Ninguém se sente confortável em fazer grandes investimentos em ações e moedas, e é natural que seja assim. Temos de analisar cada ação, cada título, cada mercado. Uma boa alternativa para enfrentar os altos e baixos são os fundos multimercados long and short, que compram e vendem ações na bolsa e no mercado futuro e, com isso, podem proteger o patrimônio dos cotistas de grandes riscos. É claro que bons rendimentos dependem da habilidade do gestor, mas é possível ganhar dinheiro nesses fundos tanto na alta quanto na baixa do mercado." James Oliveira, diretor da gestora de recursos do banco (BTG Pactual)
É o preço, estúpido!
"As ações das produtoras de commodities estão, em média, 25% mais baratas que as de empresas voltadas para o mercado interno, como as construtoras, as varejistas e as empresas de infraestrutura. Os papéis fi caram tão baratos que compensam o risco de investir nessas empresas num momento ainda nebuloso para a economia mundial. O cenário externo não é bom para as produtoras de commodities, que são exportadoras, mas não dá para ignorar preços tão baixos. Já começamos a aumentar os investimentos dos fundos em papéis do setor e devemos continuar nos próximos meses. Hoje, boa parte do patrimônio dos nossos fundos multimercados é composta de ações de empresas de consumo, que enfrentam um problema oposto ao das produtoras de commodities. As perspectivas para as empresas de bens de consumo são boas, em razão do crescimento econômico, mas os preços de algumas dessas ações subiram mais de 100% desde o início deste ano, o que pode ter reduzido o espaço para novas altas. É preciso garimpar para achar boas oportunidades nesse setor." José Roberto Tovar, diretor responsável pela gestora (BNY Mellon Arx)
Um presente para os investidores
"Os juros altos no Brasil são um presente para quem tem dinheiro para aplicar. Hoje, as grandes oportunidades de investimento estão na renda fixa privada, composta de títulos de dívida das empresas, não na bolsa. Isso não quer dizer que a renda fixa vá render mais que as ações, mas a relação de risco e retorno dessas aplicações é bastante favorável. A economia brasileira está saudável, as empresas estão pouco endividadas e, ainda assim, os juros pagos por títulos privados são bastante elevados. Um exemplo recente é o de um CRI, título ligado ao setor imobiliário, que ofereceu um retorno de 8,5% ao ano, já descontada a inflação. Para as pessoas físicas, esses papéis ainda são isentos de imposto de renda, o que torna o investimento muito interessante. É um belíssimo rendimento, especialmente num momento em que o cenário internacional está incerto e a bolsa opera sem uma tendência clara. O risco dos papéis privados é a falta de liquidez: é difícil vendê-los antes do vencimento, que pode levar anos." Marcos Duarte, sócio da gestora (Polo Capital)
Não descarte o Armagedom
"O risco de a economia mundial dar um novo mergulho nos próximos meses — com graves recessões nos Estados Unidos e na Europa e desaquecimento na China — é pequeno, mas não pode ser completamente descartado. Os países desenvolvidos continuam muito endividados, e leva tempo para isso melhorar. Sair do módulo de crise sempre é um processo demorado. Como as incertezas externas são grandes, o ideal é ser conservador. Mudamos a estratégia dos fundos de renda fixa para torná-los menos arriscados. Diminuímos as aplicações em títulos de dívida de empresas, que podem ser mais difíceis de ser negociados em momentos de estresse, e aumentamos os investimentos em papéis públicos de curto prazo. Este é o momento de ganhar dinheiro com parcimônia. Só vale a pena fazer um ou outro investimento de maior risco se surgirem oportunidades de alto retorno. Também monitoramos a volatilidade que pode ser gerada pelas eleições. Não esperamos que a disputa mexa demais com o mercado, até porque os principais candidatos têm um compromisso com a política econômica atual. Mas uma frase infeliz pode deixar os investidores apreensivos." Carlos Rocha, chefe de gestão de fundos do banco (J.P. Morgan)
Separe dinheiro para as pechinchas
"Vale a pena separar algum dinheiro para comprar ações baratas ao longo dos próximos meses. O vaivém do mercado tem criado várias oportunidades de compra, que podem dar bons retornos para quem consegue aguentar a volatilidade e pode deixar o dinheiro aplicado por vários meses. Um exemplo de barganha são os papéis da Petrobras, que caíram mais de 20% neste ano com o estresse gerado pelas dúvidas em relação à oferta de ações. Assim que a operação for definida, o que deve ocorrer em breve, esses papéis têm tudo para puxar a alta do Ibovespa. Outra ação que consideramos bastante promissora é a da Plascar, uma fabricante de autopeças. Não sei onde vão caber tantos carros, mas esperamos que, até 2016, o país passe a vender 5 milhões de veículos por ano, mais que o Japão, o que é bom para empresas ligadas à indústria automotiva. Os setores de construção, logística e de máquinas e equipamentos também estão no nosso radar. O país vai virar um canteiro de obras, e estamos atrás de papéis baratos de empresas que possam lucrar com isso." Saulo Sabbá, responsável pelo comitê de investimentos do fundo Máxima Participações (Máxima)