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O vendedor de números da J!Quant

Aos 31 anos, Dionisio Agourakis comanda a J!Quant, uma startup que resolve com fórmulas matemáticas problemas de grandes clientes, como Ambev e McDonald’s

Agourakis: administração e análise de dados lado a lado (Germano Lüders/Exame)

Agourakis: administração e análise de dados lado a lado (Germano Lüders/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de junho de 2019 às 05h38.

Última atualização em 25 de junho de 2019 às 15h29.

O empreendedor Dionisio Agourakis, de 31 anos, comanda uma empresa com nome de operação matemática. É a J!Quant (Jota Fatorial Quant), batizada em homenagem à operação identificada pelo sinal de exclamação e que é um dos pesadelos de estudantes de exatas. Agourakis, formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e com mestrado em ciência da computação pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, encontrou nos problemas e nas equações um filão promissor. “Senti que podia aliar meu conhecimento em administração de empresas com o de analytics, uma área ainda pouco conhecida no Brasil, e criar um negócio novo”, diz Agourakis.

Fundada em São Paulo há cinco anos, a J!Quant analisa massas de dados e cria algoritmos que aumentam a eficiência de aspectos fundamentais de uma atividade, como redução de desperdícios, conquista de clientes, lançamento de produtos e otimização da logística. Com dez funcionários, deve faturar 9 milhões de reais neste ano atendendo a clientes como a rede de lanchonetes McDonald’s e a cervejaria Ambev.

Antes de abrir a empresa, Agourakis trabalhou na controladoria de uma fábrica de móveis, a Alberflex, fundada por seu avô Alberto Chiuratto há 60 anos. A experiência serviu para ele entender melhor os principais desafios da gestão, desde a manutenção do estoque até o fluxo de caixa. A J!Quant atua num mercado em ebulição, mas sui generis. Seus projetos não entregam um produto físico, nem mesmo uma apresentação de PowerPoint — Agourakis vende algoritmos. Em 2014, o mercado de big data faturou mais de 18 bilhões de dólares globalmente. Dois anos depois, chegou a 28 bilhões; neste ano, deve movimentar quase 50 bilhões de dólares. Cada vez mais, grandes empresas criam departamentos internos de dados e contratam startups que as ajudem a encontrar respostas mais rápidas e assertivas para cortar custos e crescer — um grande mercado a ser explorado pela J!Quant. “Pode ser a diferença entre ficar atrás da concorrência e sobressair”, diz Ricardo Santana, sócio da consultoria KPMG.

Em 2014, quando a J!Quant foi criada, o Brasil ainda estava engatinhando no setor, e a startup levou três anos para decolar. O cenário começou a mudar em 2016, quando a Ambev, líder do mercado de bebidas no Brasil, criou um departamento de análise de dados e começou a procurar fornecedores na área. Um funcionário da Ambev conheceu Agourakis em uma palestra sobre o tema que o empreendedor deu na escola de negócios Insper, em São Paulo. “Os dados se tornaram fundamentais para as decisões do nosso cotidiano. Testamos muitas hipóteses para tomar as melhores decisões em cada situação”, afirma Thiago Lechuga, diretor de análise da Ambev. A J!Quant criou um algoritmo que otimizou o trajeto dos caminhões da Ambev. Um dos efeitos foi a redução de até 20% nos roubos de carga. A startup tem contrato sigiloso com outros clientes, mas entre as demandas mais comuns estão algoritmos para ajudar a vender mais com o mesmo número de vendedores e lojas. As empresas também perguntam como alocar adequadamente as verbas de marketing e propaganda em cada praça que atuam, para ter os melhores resultados.

A propaganda boca a boca ajudou a J!Quant a crescer. Em 2017, o faturamento chegou a 1 milhão de reais. No ano seguinte, dobrou. Por enquanto, a empresa tem poucos concorrentes. Segundo um estudo da KPMG, em 2018 existiam 64 startups do setor no país, em diversos estágios de crescimento e com modelos de atuação diferentes entre si: algumas fazem software, outras oferecem soluções para problemas pontuais, sem procurar ir muito fundo nas motivações da empresa-cliente e em outros desafios relacionados ao planejamento estratégico.

Nos Estados Unidos, já são mais de 500. A Alpine, fundada na Califórnia em 2011, recebeu mais de 25 milhões de dólares de fundos de investimento. A Thirdeye Data, criada em 2010, fatura mais de 35 milhões de dólares por ano. A expectativa é que, neste ano, o número de startups da área quadruplique no Brasil. Para se manter na dianteira, desde o início do ano a J!Quant convida gestores de empresas para grupos de discussão sobre problemas que podem ser solucionados com o big data. De calcular oportunidades, Agourakis entende.

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