Galeria Verve: mudança do bairro de Pinheiros para uma sobreloja do icônico edifício Louvre, na Avenida São Luís (Romulo Fialdini/Divulgação)
GabrielJusto
Publicado em 21 de outubro de 2021 às 05h54.
Quando um amigo ligou para Márcio Botner para contar sobre um sobradinho numa vila operária da década de 1940 no bairro de Higienópolis, o marchand teve a certeza de que, finalmente, era o momento certo para abrir A Gentil Carioca, sua galeria, também na capital paulista. “Depois de 18 anos levando a arte brasileira para o exterior, era muito lógico ter um espaço fora do país. Mas, com a pandemia e esse achado de espaço, São Paulo se mostrou uma opção mais interessante”, explica Botner, que inaugurou a sucursal paulistana da Gentil em agosto. “Momentos de crise costumam gerar movimentações como essa, e isso é bom.”
Botner e seus sócios não estão sozinhos nesse movimento. Na expectativa de novos ares e da efervescência do pós-pandemia, em junho a galeria Verve deixou um sobrado em Pinheiros, cada vez mais engolido pela especulação imobiliária, para ocupar uma sobreloja do Edifício Louvre, icônico projeto de Artacho Jurado na Avenida São Luís, no centro. Com a mudança, a visitação quintuplicou, o que já exige uma expansão do espaço.
“Mais do que um ponto de venda, a galeria pode ser um ponto de encontro, o que torna toda a experiência muito mais rica”, explica Ian Duarte, sócio da Verve, que, além do público tradicional do centro, vê um movimento de clientes mais jovens deixando bairros mais tradicionais, como os Jardins, e indo para o centro. “Por aqui, fazemos parte de um programa maior, que é o bar com os amigos, o almoço do fim de semana e até mesmo nossos vizinhos, como o Pivô [centro cultural focado em arte e pesquisa]. É um circuito natural.”
Ecoando uma das propostas da Bienal, de dar voz a minorias historicamente escanteadas pelo circuito de arte tradicional, o centro ganhou também a galeria HOA, em um edifício de frente para o Minhocão, que também abriga a livraria Gato sem Rabo, especializada em títulos escritos por mulheres, e o restaurante Cora. Primeira galeria brasileira fundada e dirigida por pessoas pretas, a HOA representa 14 jovens artistas LGBTQIA+, indígenas ou pretos, que produzem de telas a NFTs. Com o sucesso, um escritório de representação em Londres já está nos planos de Igi Ayedun, artista e fundadora da galeria.
Na outra ponta do Minhocão, na vizinha Barra Funda, há ainda a Usina Maluf. Idealizada pelo galerista Luís Maluf, o projeto recebe artistas em início de carreira para uma residência de seis meses sob a batuta da curadora Carolina Lauriano, que comanda a primeira turma. Com um circuito tão rico em formação, espaço para eles certamente não faltará. “Definitivamente, é um momento de plena ebulição para a arte”, comemora Duarte.