Zuckerberg, do Facebook: de zero a 15 bilhões
Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2011 às 14h32.
Empresa de internet com nome bizarro mas crescimento explosivo no número de usuários apresenta sua idéia para um fundo, consegue alguns milhões de dólares de capital de risco -- e sai à procura de um modelo de negócios. Esta foi a receita da bolha da internet no final da década passada, e ao que tudo indica está acontecendo de novo.
Tome como exemplo a SayNow, uma companhia americana que criou um sistema para aproximar o público das celebridades. Em troca de uma pequena taxa, o fã pode ouvir um recado pré-gravado ou mandar um recado pelo celular para sua banda favorita. Não há garantia nenhuma de que os artistas vão ler a mensagem, muito menos respondê-la.
Mesmo assim, a SayNow obteve 7,5 milhões de dólares de investimento de risco do fundo Shasta Partners. Como ela, dezenas de outras companhias iniciantes que pipocam no Vale do Silício estão recebendo dinheiro sem oferecer muito mais do que uma promessa. O nível de atividade dos fundos de capital de risco é o mais alto em seis anos.
O índice da bolsa Nasdaq, na qual estão listadas as principais empresas de tecnologia, cresceu cerca de 20% neste ano. Embora ainda esteja distante dos fatídicos níveis do ano 2000, é a melhor performance da década. Mas nenhum desses sinais é tão poderoso quanto a foto do sorridente Mark Zuckerberg, o fundador da rede social Facebook.
Zuckerberg lançou o site em 2004, aos 19 anos, num dormitório de Harvard. No ano passado, recusou uma oferta de vender a empresa por 1 bilhão de dólares para o Yahoo! e deixou muita gente perplexa.
Na metade deste ano, as conversas já falavam num valor de 10 bilhões de dólares. Quando a Microsoft anunciou a com pra de uma participação de somente 1,6% no Facebook, por 240 milhões de dólares, foi definida a valorização da empresa: 15 bilhões de dólares. Essa cifra astronômica se explica em parte pela disposição da Microsoft de pagar o quanto fosse necessário para manter o Facebook fora das mãos do Google.
Mas ficou no ar a sensação de que a exuberância está de volta -- e a irracionalidade vem logo atrás. O Facebook é essencialmente um Orkut, mas muito mais sofisticado tecnologicamente. Sua receita vem da venda de publicidade em suas páginas. O problema é que o faturamento da empresa não deve passar de 150 milhões de dólares neste ano, apenas um centésimo de seu valor.
"Há muita coisa acontecendo, e isso não é racional", diz Tim O'Reilly, dono da editora que leva seu nome e autor do termo web 2.0. "Muita gente vai perder o emprego." O blog TechCrunch, que acompanha a movimentação de empresas novatas no Vale do Silício, contou 23 falências desde janeiro.
É verdade que a movimentação recente tem algumas diferenças importantes em relação ao que se viu nos anos 90. A primeira delas é no acesso ao mercado de capitais. A maior parte dos investimentos se concentra em empresas que só existem na internet e buscam criar ferramentas de interação, o que se costuma chamar de web 2.0.
Não se tem notícias da volta de empresas baseadas em idéias extravagantes, mas inexeqüíveis, como o site Priceline, que prometia vender de tudo em leilões online. A maioria das novas empresas se dedica a criar relacionamentos e comunidades, um tipo de serviço que exige investimentos muito menores do que criar uma loja virtual para bichos domésticos (como a Pets.com, uma das mais célebres idéias furadas da época da bolha). A urgência em abrir o capital para financiar o crescimento rápido deixou de existir, e com ela o risco de um estrago que tenha efeitos duradouros na economia "real".
Mas algumas das características da bolha permanecem inalteradas. Uma delas é usar a audiência como moeda. Uma das empresas mais bem-sucedidas da onda recente é o Twitter, espécie de miniblog em que os usuários enviam mensagens de até 140 caracteres pelo computador ou pelo celular.
Embora pouca gente saiba dizer qual é a finalidade do serviço, ele é extremamente popular. Um levantamento recente da empresa de pesquisas Forrester Research indicou que 6% da população adulta dos Estados Unidos troca mensagens por ali. Não há publicidade nenhuma no Twitter, e o serviço é gratuito. Mas o Twitter tem valor, diz Peter Kim, da Forrester: "Se você quer atingir uma audiência rica, bem-educada e antenada, não há outro canal de comunicação melhor". O que ainda não se sabe é se haverá alguma empresa disposta a pagar por isso.
Os otimistas, é claro, dizem que falar em bolha é um exagero. A população conectada à internet já chega a 1,3 bilhão de pessoas, e os lucros crescentes do Google são uma prova irrefutável de que é possível ganhar dinheiro com publicidade online. Marc Andreesen, fundador da Netscape, empresa cujo IPO é considerado o início da corrida especulativa da década passada, afirma que sem esses altos e baixos não há desenvolvimento.
"A psique humana parece ter necessidade de prever tragédias", escreveu ele recentemente em seu blog. "Se você der ouvidos a quem fala em bolhas ou quebras, tem de estar preparado para ficar completamente fora do mercado de ações e do mercado de tecnologia -- quase todos os anos da sua vida."
O veterano Andreesen não é um observador imparcial, muito pelo contrário. Ele foi um dos fundadores da Ning, empresa de tecnologia que desde sua fundação, dois anos atrás, já recebeu 44 milhões de dólares em capital de risco. A Ning fornece os instrumentos para que qualquer internauta crie a própria rede de relacionamentos. Em outras palavras, ele quer multiplicar os imitadores do Facebook, Orkut e MySpace. Pelo jeito, quanto mais cheia de ar estiver a atual bolha, mais Andreesen vai faturar
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