Os advogados Junqueira e Mello (à dir.), do Lefosse: ataque aos talentos dos rivais (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2011 às 05h00.
São Paulo - É difícil encontrar algo de positivo no desempenho da bolsa brasileira nos últimos meses. A maioria das ações está em baixa, milhares de investidores estão deixando o mercado e 11 empresas desistiram de abrir o capital. Ainda assim, há quem tenha motivos para encerrar o ano comemorando.
O Lefosse, um novato em operações de mercado de capitais e tido como pequena força em meio à brutal competição entre gigantes como Pinheiro Neto e Machado Meyer, assessorou quase a metade das emissões de ações de 2011.
Seus advogados participaram de negócios que somaram 10,8 bilhões de reais, 12 vezes mais que no ano anterior. Assim, o escritório liderou, pela primeira vez, o ranking de bancas que mais atuaram em ofertas de ações no país — até 2010, nunca havia ficado sequer entre os dez primeiros.
A ascensão do Lefosse incomoda duplamente a concorrência. Primeiro, porque ninguém gosta de ver um concorrente novo ganhando mercado. Segundo, porque seus sócios têm uma polêmica parceria com um escritório internacional, o britânico Linklaters, um dos maiores do mundo.
O Brasil é um dos poucos países em que o mercado de advocacia ainda é fechado. Os escritórios de fora só podem montar uma filial aqui para funcionar como consultores, ou seja, para tirar dúvidas sobre a legislação internacional. Não podem, por exemplo, defender clientes nos tribunais ou assessorar fusões e aquisições domésticas.
Para ter essa atuação mais ampla, eles precisam ter um parceiro local. O Linklaters tem esse parceiro, o Lefosse, mas os críticos dizem que há, ali, bem mais que uma simples cooperação e que quem toma as decisões estratégicas são os britânicos — eles chegam a aprovar até a contratação de estagiários.
Nem o e-mail do Lefosse carrega o nome da banca brasileira — é apenas @linklaters.com. “Cumprimos rigorosamente o que a OAB determina, e nunca nos pediram para mudar o e-mail”, diz Rodrigo Azevedo Junqueira, sócio do Lefosse. “A concorrência está incomodada porque estamos ganhando mercado.”
A OAB, claro, chia. “Alguns escritórios desafiam os limites da legalidade”, diz Horacio Bernardes Neto, presidente da Comissão das Sociedades de Advogados da OAB de São Paulo.
Vitória de pirro
A liderança do Lefosse no ranking é fruto de uma ousada — e inédita no mercado brasileiro — política de recursos humanos. Um ano atrás, o escritório tirou 17 advogados especializados em ofertas de ações do Mattos Filho, uma das mais renomadas bancas do país. Para os concorrentes, o bolso fundo do Linklaters certamente ajudou.
O chefe da equipe, Carlos Mello, passou a receber anualmente 1,8 milhão de reais, garantido por três anos, o dobro do que ganhava antes. O time de Mello levou para o Lefosse clientes como Sonae Sierra, IMC, Autometal e TIM. O problema, para o Lefosse, é que esse investimento todo se deu num péssimo momento.
Esperava-se um recorde de operações na bolsa em 2011, mas o mercado virou e pouca coisa aconteceu. Grandes escritórios, como Mattos Filho, Machado Meyer e Pinheiro Neto, usaram seus times de mercado de capitais para fazer fusões e aquisições, segmento que, além de extremamente rentável, teve um ano aquecido.
O Lefosse, por sua vez, não aparece no ranking da Bloomberg de 20 escritórios líderes em fusões. “Ninguém ganhou o dinheiro que esperava com IPOs em 2011”, afirma o sócio de um grande escritório brasileiro.
E o ano de 2012 começa com a perspectiva de calmaria na bolsa e fusões em alta. Para o Lefosse, a liderança no ranking da discórdia é algo a comemorar, já que nunca havia acontecido nada parecido em sua história. A dúvida é se haverá motivos para celebrar no ano que vem.