Bolsonaro e seu vice, na diplomação: as propostas econômicas estão na direção certa, e ele tem apoio da população, mas ainda precisa demonstrar capacidade de negociar com o Congresso (Valter Campanato/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2018 às 05h32.
Última atualização em 20 de dezembro de 2018 às 05h32.
Já havia muito tempo que os brasileiros faziam insistentes, por vezes até estridentes, pedidos de mudança. Perto do final de 2018, tiveram a oportunidade de formalizar seus pedidos. Os votos para o ano novo não foram exatamente de congraçamento, mas, feitas as contas, o país ganhou o que a maioria de seus cidadãos pediu. Haverá mudança de governo, mudança de rumos, possivelmente até uma revisão de valores da sociedade.
Se a história acabasse aí, pareceria um típico roteiro de Natal. Só que ela não acaba aí. A história está apenas começando. No universo mágico dos desejos, as mudanças se dão sem sobressaltos, da noite para o dia, da água para o vinho. Na vida real, elas têm de ser construídas dia a dia, enfrentam resistências, perdem-se em desvios. Cumprir promessas demanda um trabalho consistente.
As dificuldades começam em alguns paradoxos. Os brasileiros elegeram lideranças novas porque têm urgência de reformas, mas, justamente por ser novas, as lideranças precisarão passar por uma curva de aprendizado. A população tem um desejo genuíno por uma agenda positiva para o país e sente repulsa aos efeitos dolorosos que essa agenda possa trazer. O dilema, em resumo, é que os que se elegeram com um discurso antipolítico precisam se tornar políticos, de preferência sem parecer que exista aí alguma contradição. É nesse contexto que se insere a decisão do presidente Jair Bolsonaro de negociar com bancadas temáticas em vez de tratar com partidos. Seria uma forma diferente de atuar, para escapar das armadilhas de negociação com um Congresso ainda visto como movido a interesses escusos.
Há chance de funcionar. Mas não é muito provável. A nova matriz política de Bolsonaro não chega a ser uma catástrofe como a nova matriz econômica da ex-presidente Dilma Rousseff, mas pode causar embaraços e recuos na adoção das reformas de que o Brasil tanto precisa. Reformas costumam demorar, como aponta um estudo do banco BTG Pactual. A média, para emendas constitucionais, é de três anos e um mês. Um dos fatores para esse tempo diminuir é o apoio popular do presidente. Nesse quesito, Bolsonaro está bem, com 63% de aprovação, segundo uma pesquisa da corretora XP Investimentos, e 75% de aprovação às medidas anunciadas até aqui, de acordo com o Ibope. Outro fator é a capacidade de negociar bem com o Congresso.
Para isso, é preciso que o governo se concentre no que é essencial, não em questões laterais, como a caça a fantasmas ideológicos e alinhamentos automáticos em conflitos em que não há o que ganhar. Também é preciso que os dois responsáveis pela articulação política se articulem, que o presidente abandone o tom de palanque e assuma postura conciliadora e que a conduta dos novos governantes seja condizente com o discurso de moralidade e eficiência que os levou ao poder. Aí, sim, aumentam as nossas chances de ter um próspero ano novo.