O problema aqui não é desejar o reconhecimento e buscar conquistas de destaque, e sim transformar tudo isso na única medida de valor de uma carreira (iStockphoto/Getty Images)
Fundadora e Presidente do Conselho Cia de Talentos/Bettha.com
Publicado em 20 de março de 2025 às 06h00.
Vi uma entrevista recente da Fernanda Torres — sim, esse nome tão comentado nos últimos tempos — e gostaria de compartilhar com vocês a resposta da atriz à pergunta sobre o que é sucesso profissional. Segundo a famosa, ela não pensa tanto nessa questão; seu foco é estar em bons projetos, dedicar-se e empenhar-se neles, além de atuar com profissionais competentes. Para ela, não faz muito sentido depositar todas as energias nessa meta; em vez disso, ela busca trabalhar direito e, quem sabe, o “tal do sucesso” venha.
Se fosse na boca de outra pessoa, pode ser que dissessem que essa é uma fala típica de alguém que ainda não chegou lá. Uma profissional que não tem tantas conquistas das quais se orgulhar e que, por isso, diz que não se importa tanto com o sucesso — algo que é o objeto de desejo de muita gente.
Porém, sabemos que não é esse o caso; principalmente depois dos eventos recentes na indústria do cinema. Fernanda já foi indicada a alguns prêmios importantes ao longo da sua história e venceu seu primeiro em 1986 — o de Melhor Atriz no Festival de Cannes. Agora, ela conquistou o Globo de Ouro de Melhor Atriz por sua atuação em Ainda Estou Aqui, mesma produção que levou o Oscar de Melhor Filme Internacional.
Então, dá para dizer que a artista está minimamente familiarizada com os “símbolos do sucesso”. Foi por causa desse fato, inclusive, que um trecho da sua entrevista à Vogue Brasil me chamou a atenção. Ao ser perguntada sobre o sucesso, ela não se concentrou em listar as conquistas que acumulou ao longo da carreira, tampouco no status alcançado na campanha de divulgação do filme de Walter Salles. Em vez disso, ela preferiu falar da jornada.
Pode parecer um detalhe, algo quase insignificante, mas acredito que esse ajuste de foco faz toda a diferença. Quando nos concentramos única e exclusivamente nos símbolos de sucesso, há um risco grande de que nos percamos no processo. O que quero dizer com isso é que deixamos de aproveitar a trajetória e desperdiçamos oportunidades de nos conectarmos verdadeiramente com as pessoas, criarmos fortes vínculos profissionais, nos desenvolvermos de maneira ampla, incluindo aspectos técnicos e comportamentais.
Se, por um lado, o foco é importante para manter a motivação durante a caminhada e a concentração no alvo, por outro, a obstinação com o “prêmio” pode prejudicar a nossa jornada. Passa-se por ela com desinteresse e pressa porque tudo o que se deseja é alcançar o pote dourado no fim do arco-íris. Nesses casos, o sucesso torna-se apenas um objeto de desejo vazio, que nada agrega à trajetória profissional e que, não raras vezes, é usado como uma medalha reluzente a ser exibida. Trata-se de pura vaidade.
Veja bem, o problema aqui não é desejar o reconhecimento e buscar conquistas de destaque, e sim transformar tudo isso na única medida de valor de uma carreira. Pior ainda é condicionar a sua satisfação profissional a somente tais símbolos, sem dar importância ao caminho percorrido.
Isso porque, quando o sucesso se torna o único parâmetro de realização, qualquer obstáculo vira uma frustração desproporcional, qualquer erro é visto como um fracasso absoluto, e a jornada perde sentido se não houver um troféu no final. Criamos uma relação frágil e desgastante com o trabalho, em que o valor de cada experiência é medido apenas pelo reconhecimento externo, e não pelo aprendizado, pela evolução ou pelo impacto gerado.
Assim, em vez de encontrarmos satisfação no que fazemos, passamos a viver em um estado constante de descontentamento, sempre em busca da próxima grande conquista que, na maioria das vezes, não preenche o vazio deixado pela falta de significado no percurso.
Além disso, essa mentalidade de sucesso a qualquer custo pode gerar uma pressão excessiva e até contraproducente. Quando estamos obcecados pelo resultado final, corremos o risco de perder oportunidades valiosas de crescimento, ignorando aprendizados fundamentais que só se revelam no dia a dia do trabalho.
Há ainda a armadilha do individualismo: a busca desenfreada pela própria medalha de ouro pode levar uma pessoa ao isolamento, pois tudo o que importa é a corrida individual para conquistar o prêmio. Porém, em uma empresa, assim como em tantos outros contextos, não deveríamos andar sós — a colaboração, a troca e a construção de algo maior importam e muito.
Por isso, meu conselho é: redefina o que sucesso significa para você. Em vez de enxergá-lo como um ponto fixo no horizonte, experimente vê-lo como um processo contínuo de aprendizado, contribuição e evolução. Pergunte-se não apenas “aonde quero chegar?”, mas também “como quero percorrer essa trilha?”.
Mais do que valorizar só as conquistas individuais, pense no impacto gerado, nas relações construídas, e no seu processo de crescimento e de amadurecimento ao longo do trajeto. Grandes carreiras não são feitas apenas daquele momento em que recebemos um troféu em mãos e o erguemos orgulhosamente. Na verdade, elas são construídas a partir de histórias bem vividas, de desafios superados com resiliência e de conexões autênticas que tornam a jornada realmente significativa.
O verdadeiro sucesso não é um destino final, mas um equilíbrio entre propósito, crescimento e impacto. Portanto, aproveite o caminho.