Revista Exame

O poder do propósito

Assim como no branding corporativo, a autenticidade da marca pessoal influencia diretamente a percepção do mercado

A apresentadora americana Oprah Winfrey constrói sua marca pessoal desde os anos 1980, e ficou conhecida como uma figura autêntica e transparente (Steve Jennings/Getty Images)

A apresentadora americana Oprah Winfrey constrói sua marca pessoal desde os anos 1980, e ficou conhecida como uma figura autêntica e transparente (Steve Jennings/Getty Images)

Publicado em 15 de agosto de 2024 às 06h00.

A construção de um branding pessoal sólido é fundamental para executivos C-level, que geralmente têm o nome associado a uma marca ou empresa. Marcas pessoais se deparam com uma tarefa difícil: construir uma imagem coerente e atrativa sem perder os valores centrais do indivíduo. A autenticidade da marca pessoal influencia diretamente a percepção do mercado, porém nem sempre a imagem apresentada condiz com a realidade da pessoa. Um branding pessoal bem-feito deve garantir que a percepção que os outros têm de você esteja alinhada com sua verdadeira identidade e propósito, e algumas etapas devem ser seguidas no início da construção da marca.

Gosto de partir de um ponto de vista antropológico, embasado em psicologia, para começar a construir marcas pes­soais. O primeiro passo é uma simples autorreflexão: como posso impactar a sociedade positivamente? A autenticidade da marca começa com o autoconhecimento, por meio da identificação de valores e propósito pessoal. A partir daí, inicia-se o desenvolvimento da imagem e do estilo de comunicação, definindo quem o executivo deve atingir e como expressar sua personalidade estrategicamente.

No trabalho de branding de líderes e empreendedores, construir e manter uma marca pessoal influente requer mais do que apenas presença online; é necessário um alinhamento estratégico entre quem a pessoa é, o que ela faz e o que ela fala. ­Assim como no branding corporativo, a marca pessoal não deve apenas entender e articular o propósito: o executivo deve viver de acordo com ele em todas as suas ações profissionais e pessoais. Isso cria uma percepção de consistência e integridade, importante para construir uma reputação sólida.

É justamente na construção inicial da marca pessoal que podemos detectar os principais erros cometidos por pessoas que não traçam uma estratégia sólida. A comunicação pelas mídias sociais, evidentemente, representa grande parte do desenvolvimento de uma marca pessoal em 2024. As plataformas digitais devem ser usadas para compartilhar conteúdos que reflitam a verdadeira identidade e o propósito da pessoa — é aí que surgem os erros mais comuns. Muitas vezes, na busca acelerada por reconhecimento, marcas pessoais com grande potencial de mercado cometem equívocos pontuais que podem atrasar todo o processo de comunicação. Normalmente, os erros estão relacionados à necessidade de engajamento rápido, que deixa de lado o lento processo de construção em prol de resultados imediatos.

É essencial desenvolver uma declaração clara e concisa que resuma o propósito e os valores que guiam as ações: esse alinhamento é fundamental para estabelecer credibilidade e confiança no mercado. Atributos de personalidade são construídos ao longo do tempo, analisando a reação do público. Entender as próprias características e assumi-las é um processo que naturalmente fortalece o perfil do executivo. Depois é necessário pensar em como melhorar seu ofício. Uma pessoa com um perfil mais artístico, por exemplo, deve explorar, desenvolver e trabalhar suas habilidades para se conectar com o público-alvo, enquanto uma marca pessoal com caráter assertivo deve se concentrar em transmitir uma imagem relacionada à praticidade.

Fora do Brasil, existem exemplos de marcas pessoais que foram trabalhadas lentamente e com maestria, mesmo antes do advento da internet. A apresentadora americana Oprah Winfrey, por exemplo, constrói sua marca pessoal desde os anos 1980, e ficou conhecida como uma figura autêntica e transparente, independentemente de onde sua carreira esteja focada no momento (além de apresentadora, ela é empresária, atriz, produtora, escritora e jornalista). O desenvolvimento inicial do branding da apresentadora deve-se muito a seu background antes da fama e às suas ações filantrópicas, aliadas à sua personalidade simpática e empoderada. A artista, indubitavelmente, faz o uso do storytelling com eficiência, com o desenvolvimento de uma narrativa sólida e efetiva.

Por falar em narrativa, podemos dizer que ela é uma ferramenta poderosa para comunicar sua jornada e seus valores, e consequentemente imprimir uma imagem autêntica. Exercícios de autoavaliação, a partir do feedback de colegas, subordinados e superiores, ajudam a construir uma visão completa de como você é percebido, e é importante estar preparado para adaptar sua abordagem conforme as circunstâncias mudem.

No Super Bowl 2023, Rihanna voltou aos holofotes depois de cinco anos afastada dos palcos. A cantora aproveitou a exposição para promover suas marcas e anunciar a gravidez do segundo filho (Roc Nation/Getty Images)

Com uma estratégia um pouco diferente da Oprah, a cantora Rihanna desponta como uma das celebridades que mais sabem trabalhar sua marca pessoal. A artista evoluiu seu personal branding para um personal business, utilizando sua imagem já estabelecida para mergulhar no mundo dos negócios. Em 2017, Rihanna fundou a Fenty Beauty, marca de cosméticos que levanta a bandeira da inclusão, expandindo seu business para o mercado de skincare. Evidentemente, a cantora é um exemplo extremo de sucesso, mas outros artistas têm dificuldade para fazer a transição de seu êxito artístico para o empreendedorismo. Na maioria das vezes, isso se deve à falta de planejamento e visão de mercado durante os processos fundamentais que constituem uma marca pessoal de sucesso.

No Super Bowl 2023, Rihanna voltou aos holofotes depois de cinco anos afastada dos palcos. A cantora aproveitou a exposição para promover suas marcas e anunciar a gravidez de seu segundo filho. Após o evento, a cantora aumentou suas vendas digitais em quase 400% e teve um crescimento de mais de 200% nos streams de suas músicas. Imediatamente após o show, Rihanna conquistou mais 3 milhões de novos seguidores no Instagram, e as buscas por sua marca de cosméticos cresceram mais de 800% depois de a cantora exibir um espelho compacto para retocar a maquiagem durante o espetáculo. A artista aproveitou para fazer a divulgação, pela primeira vez, de sua recém-lançada coleção de lingeries, a Savage X Fenty.

Em um ambiente onde a autenticidade é cada vez mais valorizada, explorar como os executivos podem ser verdadeiros consigo mesmos e com suas audiências adiciona um valor significativo à marca pessoal. Nunca é demais lembrar que investimento em aprendizado contínuo, mentoria e networking continuam sendo dicas valiosas para um plano de carreira alinhado com o propósito e, claro, com um branding pessoal vencedor.


Acompanhe tudo sobre:exame-ceo

Mais de Revista Exame

Aprenda a receber convidados com muito estilo

"Conseguimos equilibrar sustentabilidade e preço", diz CEO da Riachuelo

Direto do forno: as novidades na cena gastronômica

A festa antes da festa: escolha os looks certos para o Réveillon