Revista Exame

O passado. E o ar fresco 

O mundo avança aos solavancos. A boa notícia: a tecnologia tem transformado mercados e fomentado desenvolvimento e inclusão

A invasão talibã: mostra devastadora do atraso e da inoperância que jogam contra o progresso  (Anadolu Agency/Getty Images)

A invasão talibã: mostra devastadora do atraso e da inoperância que jogam contra o progresso (Anadolu Agency/Getty Images)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 19 de agosto de 2021 às 05h29.

Enquanto a equipe da EXAME terminava esta edição, o mundo acompanhava apreensivo os desdobramentos da tomada do governo afegão pelo Talibã. As consequências diretas eram as esperadas: burcas e repressão em cada esquina. As indiretas vão se descortinar nas próximas semanas, com um possível rebalanceamento de forças americanas, russas e chinesas na região. A tomada de Cabul é uma mostra devastadora de como o mundo avança aos solavancos, com um passo para trás antes de dar dois para a frente. O Brasil, por sorte, está distante das cenas dramáticas vistas no Afeganistão, mas também convive com o atraso e a inoperância em meio a lufadas de ar fresco. 

Na entrevista desta edição, o economista Gustavo Franco mostra o que deve ser feito para que o país saia da dobra do tempo em que se instalou nas últimas décadas após o Plano Real. A divisão política e a polarização precisam ser suplantadas, segundo ele, por um “new deal” que traga pujança à nossa economia.

Em uma coluna nesta edição, o economista André Perfeito explora outro eco de um passado que voltou neste 2021: a ameaça da inflação. Segundo Perfeito, a “alma indexada” do brasileiro é um desafio para a construção de relações mais modernas e construtivas. Somos, ainda, o país que reajusta o aluguel com base num índice que leva em conta até o preço do petróleo — é quando os militantes talibãs, indiretamente, invadem a sala de seu apartamento e influenciam no reajuste de seu aluguel. 

Contra os ecos do passado, temos cada vez mais tecnologia, e cada vez mais empreendedorismo. A reportagem de capa desta edição mostra como startups que já valem bilhões de dólares conseguiram revolucionar o crédito imobiliário e mudar um dos mercados mais atrasados do Brasil. Dados, tecnologia e ambição se combinaram para ampliar a oferta de imóveis para milhões de brasileiros e para alçar empresas como Loft e ­QuintoAndar ao grupo das maiores do mundo em seu segmento. 

Juros de primeiro mundo e inflação sob controle levaram a recordes de lançamentos e de vendas, mesmo durante a pandemia. Pequenos avanços podem trazer enorme diferença. No mercado de alimentação, a pandemia impulsionou as entregas e permitiu às grandes redes chegar a cidades menores há pouco tempo desatendidas. Mais uma vez, é a tecnologia que está puxando o desenvolvimento e a inclusão do consumo. O Brasil e o mundo têm mostras diárias de que o passado está sempre à espreita — nas pequenas complicações e nas grandes tragédias. Bons exemplos, neste mundo caótico, nos levam para a frente. Boa leitura!  

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