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Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
São Paulo - Em junho de 2011, quatro meses antes de morrer, um debilitado Steve Jobs foi à Câmara de Vereadores da pequena e abastada Cupertino, na Califórnia, para apresentar o projeto da nova sede de sua empresa, o Apple Campus 2.
O sucesso do iPhone e do iPad, que levou o faturamento da companhia às alturas, havia obrigado Jobs a contratar milhares de funcionários. “Estamos crescendo feito capim”, disse. O fundador da Apple explicou que precisava de uma estrutura para abrigar 12 000 pessoas e que alugar prédios dispersos pela cidade, como estava fazendo, prejudicava a produtividade da empresa.
Ele concluiu a apresentação do projeto, que recebeu a aprovação dos vereadores, com a tradicional modéstia: “Faremos o melhor prédio de escritórios do mundo”. Os números são mesmo superlativos. A área da nova sede conta com 71 hectares, o equivalente à metade do parque do Ibirapuera, em São Paulo.
O prédio principal, em formato de anel, terá apenas vidros côncavos — lembrará uma nave espacial pousada em meio a uma paisagem formada por 7 000 árvores de 300 espécies. No papel, o projeto parece maravilhoso. Na realidade, porém, a execução da obra vem enfrentando reveses que mais lembram os problemas na construção de estádios da Copa do Mundo no Brasil.
O cronograma está atrasado. O início da obra, previsto para o ano passado, só deve acontecer em junho. Com isso, a data de entrega também foi mudada. Em vez de 2015, a promessa agora é 2016.
O projeto ainda nem saiu do papel, mas a previsão do custo total já foi revisada para cima — bem para cima. Segundo a revista americana BusinessWeek, o valor do projeto, estimado em 3 bilhões de dólares em 2011, já supera 5 bilhões.
A Apple não comenta, mas especialistas afirmam que parte do atraso e do aumento da previsão dos custos ocorre porque a demolição das antigas estruturas no terreno deverá ser mais trabalhosa do que se previa. Atrapalha ainda a recente elevação do custo da mão de obra na Califórnia. O projeto encareceu também porque foi aumentado.
De acordo com os papéis entregues pelo escritório de arquitetura Foster + Partners à prefeitura de Cupertino, a academia de ginástica terá quatro vezes o tamanho planejado e o auditório será 20% maior.
À primeira vista, para uma empresa com mais de 140 bilhões de dólares em caixa, um aumento de 3 bilhões para 5 bilhões de dólares nos custos de sua sede não deveria assustar investidores. E, de fato, enquanto a Apple estava vivendo seu auge, até meados de 2012, o mercado pouco se importava com os custos do “melhor prédio de escritórios do mundo”.
Mas as notícias negativas sobre a obra vêm à tona num momento delicado para a companhia. Nos últimos meses, a coreana Samsung vem roubando da Apple a aura de empresa de tecnologia mais inovadora do mundo, fama que parecia inabalável enquanto Jobs era vivo.
O impacto não é só na percepção da qualidade dos produtos. Segundo um estudo do banco de investimento americano Jefferies, as vendas de iPhone, o produto mais rentável da Apple, teriam atingido o pico no ano passado. “Os ganhos da Apple caíram pela primeira vez em uma década e não há indícios de recuperação nos próximos trimestres”, afirma o analista Walter Piecyk, da corretora americana BTIG.
De certa forma, as reclamações de investidores em relação ao projeto da Apple são reflexo do desempenho ruim das ações da empresa nos últimos meses. O valor dos papéis caiu mais de 40% desde setembro de 2012.
A queda, que colocou o preço da companhia abaixo dos 380 bilhões de dólares, fez com que a petrolífera Exxon Mobil recuperasse o posto de empresa mais valiosa do mundo no último dia 17 de abril. Mesmo com os percalços, a Apple não perdeu seus defensores. O romeno Horace Dediu, analista da consultoria Asymco, considerado um dos maiores especialistas em Apple no mundo, diz que falta visão de longo prazo aos críticos da companhia.
Segundo ele, a fabricante precisa da nova sede não só para ter um “prédio legal” mas também porque a estrutura da empresa, baseada na mobilidade de funcionários de acordo com projetos, ganha eficiência ao reunir todos num só lugar.
“O mecanismo de criação da Apple está intacto. Eventualmente ele pode parecer fora dos trilhos, mas em breve surgirão produtos revolucionários”, diz. Dediu refere-se à iTV, televisor que a Apple deve lançar em 2014, e ao iWatch, relógio com recursos de smartphone previsto para 2015.
“Os investidores que acreditaram nesse mecanismo de criação no passado foram recompensados.” Se estiver certo, ninguém vai se lembrar do Maracanã da Apple.