Alisher Usmanov, dono da maior mineradora russa: investimentos certeiros em algumas das maiores empresas de internet do mundo — como Facebook e Groupon — o alçaram ao topo do ranking dos bilionários russos (Iliya Pitalev/Ria Novosti/AFP Photo)
Da Redação
Publicado em 15 de abril de 2014 às 15h42.
São Paulo - Nos círculos empresariais de moscou, o magnata dos metais Alisher Usmanov, dono de uma das maiores empresas de minério de ferro do mundo, é conhecido como “o durão da Rússia”, pelo seu estilo de negociação.
Nas colunas sociais do país, o bilionário é tido como uma figura dada às extravagâncias — seja em tempos de bonança, seja nas crises, ele compra mansões, iates, aviões e coleções inteiras de arte. Mas é na Inglaterra, onde Usmanov também opera, que o magnata de 58 anos tem seu apelido menos lisonjeiro.
Quando começou a investir no Arsenal, um dos mais tradicionais clubes do futebol inglês, em 2007, a parcela dos torcedores insatisfeita com a chegada de um oligarca russo começou a chamá-lo de “Jabba”, o vilão corpulento do filme Guerra nas Estrelas. O fato de Usmanov ter passado seis anos numa cadeia por fraude e enriquecimento ilícito na década de 80, no Uzbequistão, ajudou a justificar o apelido — a sentença acabou sendo anulada anos depois por suposta falta de provas.
Até esse ponto, a história de Usmanov não chega a ser surpreendente — a paixão dos magnatas russos por iates, a origem pouco transparente de suas fortunas baseadas na exploração de recursos naturais e a ideia de investir em clubes de futebol ingleses são conhecidas no mundo todo.
O que faz o caso de Usmanov singular, e que o elevou recentemente à condição de homem mais rico da Rússia, com um patrimônio de mais de 18 bilhões de dólares, foram seus investimentos certeiros no setor de tecnologia americano. Desde 2008, Usmanov é sócio do Digital Sky Technologies (DST), um fundo de investimento que comprou fatias de algumas das maiores potências da internet.
O russo tem participação no site de compras coletivas Groupon e no site de relacionamentos LinkedIn. Em 2009, quando mal sabia o que era uma rede social, aceitou a proposta de investir no Facebook.
Três anos depois, os cerca de 900 milhões de dólares que ele e os outros investidores do DST injetaram na empresa de Mark Zuckerberg se transformaram em mais de 6 bilhões — calcula-se que somente a parte de Usmanov corresponda a 2 bilhões de dólares em ações.
Esses investimentos na área de tecnologia acabaram servindo como uma espécie de hedge. Enquanto o patrimônio de outros oligarcas russos encolhia com a queda dos preços de parte das commodities metálicas em 2011, a fortuna de Usmanov se manteve intacta.
“Usmanov é menos um empreendedor e mais um investidor. E um dos melhores da Rússia”, afirma Ruben Vardanian, dono do Troika Dialog, um dos mais conhecidos bancos de investimento do país. Confiante na sua estratégia de diversificação, o magnata decidiu comprar, em junho, seu mais novo brinquedo: um Airbus A340-300, para 375 pessoas, que usará como jato particular.
Nascido no Uzbequistão, Usmanov, quando jovem, estudou no Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou, um lugar conhecido na era soviética como centro de formação de diplomatas — e também de agentes da KGB.
Mesmo após a queda do muro, Usmanov parece ter mantido relações próximas com pessoas ligadas ao serviço de inteligência russo — uma acusação que ele não desmentiu quando a imprensa inglesa escrutinou sua vida após o investimento no Arsenal. Sua estreia como empreendedor foi nos anos 80, quando abriu uma fábrica de sacolas plásticas.
Nos anos 90, decidiu trocar o setor produtivo pelo financeiro. Foi diretor de banco, mas sua carreira decolou mesmo quando passou a responder pelo braço de investimento da Gazprom, companhia estatal de gás russa. Como um gestor se torna um oligarca em menos de 20 anos é um daqueles mistérios típicos da Rússia.
Pela versão de Usmanov, a Gazprom recebia, nos anos 90, participações em empresas como forma de pagamento de dívidas. Quando a estatal decidiu vender esse portfólio, Usmanov se endividou para comprar empresas do setor de mineração. A versão de seus críticos para seu primeiro grande salto são operações com um viés bem menos empreendedor.
Um exemplo é a acusação, segundo o jornal inglês The Guardian, de que Usmanov teria ajudado a Gazprom a fechar um acordo de exportação de gás com o Uzbequistão, país célebre pela corrupção — algo que o magnata nega veementemente.
Ainda que polêmico, Usmanov tem hoje em seu portfólio a Norilsk Nickel, maior produtora de níquel do mundo, a MegaFon, terceira operadora de celular da Rússia, e o Kommersant, um dos maiores grupos de mídia impressa de Moscou.
Não por coincidência, Usmanov é amigo do presidente Vladimir Putin. “Na Rússia, ter boas relações com o Kremlin é essencial”, afirma Alexander Klimment, analista da consultoria Eurasia Group, especializada em riscos políticos. Em dezembro, Usmanov demitiu o editor-chefe de uma de suas revistas por ter publicado uma reportagem denunciando fraudes na eleição presidencial.
“Me orgulho de conhecer Putin”, diz Usmanov. O magnata pode até atuar em alguns dos setores mais modernos do capitalismo — mas, em casa, nunca deixou de seguir as regras do pré-histórico capitalismo russo.