Eric Schmidt, do Google: será o fim da imagem “do bem” da empresa? (Chip Somodevilla/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 17 de fevereiro de 2012 às 05h00.
São Paulo - "Busque a web usando o Google!” A frase, do tempo em que a ideia de buscar conteúdo na rede era algo que ainda precisava de explicação, foi uma das primeiras a estampar a página inicial do Google. Lançado em fins de 1998, o site pode não ter sido pioneiro entre os buscadores da web.
Mas foi de longe o que melhor se saiu na missão de dar sentido ao colosso de informações da rede. Entre as razões para o sucesso, destaca-se o algoritmo criado para classificar os resultados das pesquisas, que tornou as buscas na web mais precisas. Além de garantir o êxito do negócio, o invento serviu para criar a imagem de empresa “do bem”.
No Google, pela primeira vez a hierarquia dos resultados seguia a popularidade estabelecida na própria rede — contabilizando, por exemplo, os links que os sites criam entre si. Nada poderia servir melhor os usuários de internet, defendiam os fundadores, Larry Page e Sergey Brin. “Não seja do mal”, dizia a famosa máxima da companhia.
Uma onda recente de suspeitas, porém, tem colocado esse bom-mocismo em xeque. Nos últimos anos, o Google tomou a decisão de diversificar seus negócios. Exemplos disso são o Google+, rede social lançada em junho de 2011, e o Google Shopping, comparador de preços do comércio eletrônico.
Até aqui, nenhum problema. A grande questão é que a empresa, que fez fama justamente por listar, de forma decrescente, os conteúdos mais relevantes sobre determinado tema, é acusada em várias partes do mundo de favorecer os próprios sites. Ou seja, o Google, segundo seus acusadores, estaria furando a fila dos resultados de seu sistema de buscas.
Um dos eventos mais notórios ocorreu em setembro. Diante de reclamações de várias empresas, o Google foi convocado a se explicar ao comitê antitruste do Senado americano. Há hoje casos parecidos sob investigação na Europa.
No Brasil, uma representação semelhante foi protocolada em dezembro pelo BuscaPé, líder em comparação de preços no país, na Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (o pleito aguarda decisão sobre instauração de processo).
As queixas têm algumas variações entre si, mas, na maioria dos casos, o argumento de defesa do Google é mais ou menos o mesmo: a concorrência está a “um clique de distância”. “A grande questão da internet é que, se usuários não gostam de nossos serviços, eles podem facilmente passar para outro site”, disse Eric Schmidt, presidente do conselho do Google, em audiência no Senado americano.
Para os críticos, porém, as explicações do Google ignoram algo que estaria justamente no centro da questão: a evidente liderança da empresa. Apesar de ter perdido terreno nos últimos anos para concorrentes como o Bing, da Microsoft, o Google segue firme na frente.
No Brasil, segundo o instituto ComScore, a empresa detém quase 90% do mercado. Tamanha concentração coloca o Google em posição única. Para a maioria dos negócios de internet, sair-se bem no Google tornou-se questão de vida ou morte.
Nos últimos anos, a ciência de aparecer nas primeiras posições em pesquisas do site deu origem a uma indústria inteira, os serviços de otimização para sites de busca. “Os casos envolvendo o Google trazem fortes indícios de conduta discriminatória”, diz Gesner Oliveira, professor da FGV e ex-presidente do Cade, principal órgão de defesa da concorrência no país.
Expansão
Não resta muita dúvida de que o Google deve se lançar em novos mercados para encontrar outras fontes de receita e, assim, manter o ritmo de crescimento. Nos últimos cinco anos, as ações da empresa ganharam pouco valor se comparadas a outras gigantes de tecnologia, como a Apple.
Em janeiro, o presidente Larry Page entregou pela primeira vez resultados considerados pouco animadores desde que assumiu a empresa, no início de 2011. O valor médio que o Google recebe toda vez que alguém decide clicar em seus anúncios, que são fonte de mais de 90% do faturamento da companhia, caiu 8% no último trimestre.
A produção de conteúdo próprio vem sendo apontada como uma das novas apostas do Google. Um dos indícios mais fortes foi a primeira aquisição de uma companhia 100% de conteúdo, a empresa de avaliações de restaurantes Zagat, em setembro.
À medida que amplia seu raio de ação, porém, o Google passa a ser alvo do escrutínio da concorrência, em busca de indícios de práticas desleais. No início de fevereiro, na França, a empresa foi condenada em primeira instância a pagar 500 000 euros a um concorrente do segmento de mapas digitais por prática de preços anticompetitivos em posição dominante. Para a Bottin Cartographes, de Paris, não há dúvida: o Google é uma empresa maléfique.