Revista Exame

O escolhido de Buffett?

Ele acorda às 5 da manhã para correr e faz uma lista mensal dos funcionários que demitiria primeiro — e é também o favorito à sucessão do “Oráculo de Omaha”

David Sokol, candidato à sucessão de Warren Buffet: os dois trabalham juntos há dez anos (David Yellen/EXAME.com)

David Sokol, candidato à sucessão de Warren Buffet: os dois trabalham juntos há dez anos (David Yellen/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h38.

Construir seu próprio império, tornar-se um ícone reverenciado, entrar para a lista de pessoas mais ricas do mundo: tudo isso, sabe-se bem, é muito complicado, mas talvez nada seja tão difícil para um grande empresário quanto largar o osso após chegar ao topo. Muitas vezes, a relutância é tamanha que a decisão de deixar o poder e passar o bastão aos mais jovens acaba sendo tomada pela biologia. Quando o empresário em questão é Warren Buffett, porém, há mais um ingrediente envolvido: ele não quer largar o osso, e ninguém em sã consciência quer que ele o largue. É natural que seja assim. Buffett é o investidor mais admirado do mundo, um dos mais bem-sucedidos da história. Nos últimos 48 anos, transformou uma decadente fábrica de tecidos chamada Berkshire Hathaway num conglomerado que emprega 250 000 pessoas e vale quase 200 bilhões de dólares. No caminho, enriqueceu muita gente. Quem investiu 10 000 dólares no fundo de Buffett há quatro décadas tem hoje 80 milhões de dólares de patrimônio. Para os investidores, portanto, o melhor cenário possível seria aquele no qual Buffett segue administrando seu dinheiro por outras quatro, cinco, seis décadas. Mas esse, infelizmente, não é um cenário provável. Buffett completará 80 anos no dia 30 de agosto. E as regras da biologia também devem valer para o “Oráculo de Omaha”.

Buffett tem bons motivos para segurar ao máximo o anúncio de seu sucessor — além, claro, do desejo de manter seu poder à frente da Berkshire Hathaway. Sua saúde, diz ele, é nota 10 (“É incrível o que hambúrgueres e Cherry Coke podem fazer por você”). Assim, um possível anúncio colocaria o sucessor numa posição um tanto desconfortável. E se Buffett aguentar mais dez anos? Mas, por mais que elequeira empurrar o assunto para a frente, nunca se falou tanto em sucessão na Berkshire Hathaway quanto no último ano — e a pressão nunca foi tão grande para que alguma espécie de plano seja revelada logo ao mercado. Ao justificar o recente rebaixamento da classificação de risco da empresa, as agências Fitch e Standard & Poor’s citaram a ausência de um roteiro claro para o dia em que Buffett sair de cena. Buffett vem dizendo, há anos, que seu sucessor trabalha para ele, já está escolhido e seu nome foi guardado num envelope. Apenas os 12 membros do conselho de administração da Berkshire Hathaway sabem o nome que está lá dentro. Mas, nos últimos meses, um executivo tem despontado como o mais provável escolhido de Buffett — David Sokol, presidente da empresa de aluguel de aviões NetJets.


Buffett tem à sua disposição dezenas de presidentes de subsidiárias da Berkshire Hathaway, e entre os candidatos ao cargo estão Tony Nicely, presidente da seguradora Geico, e Ajit Jain, da área de resseguros da Berkshire. Por que Sokol é o atual favorito? Há um motivo principal para que as apostas se concentrem nele. Mais que um financista sagaz, o futuro presidente da Berkshire Hathaway terá de ser um executivo com enorme capacidade de gestão. A Berkshire é, afinal, um conglomerado industrial que controla cerca de 80 empresas em setores tão distintos quanto os de seguros, ferrovias e comunicação. O próximo Buffett, portanto, terá de ser um executivo que goste de sujar as mãos de graxa no dia a dia das empresas. Sokol se encaixa perfeitamente nesse perfil. Ele chamou a atenção de Buffett nos anos 90, quando comandava a ascensão de uma pequena empresa de energia, a MidAmerican. Em 1999, quando foi comprada pela Berkshire, a MidAmerican já valia 9 bilhões de dólares. Desde então, a companhia se tornou um dos principais negócios de Buffett, e a estrela de Sokol não parou de subir. “Ele é citado há anos como alguém que pode comandar uma empresa grande e complexa”, diz Alice Schroeder, biógrafa de Buffett. “E, quando Buffett fala das características que o sucessor deve ter, parece descrevê-lo.”

Embora suas biografias tenham algumas semelhanças — ambos foram criados em Omaha e entregaram jornais na infância —, Buffett e Sokol têm estilos totalmente diferentes. Enquanto um (Buffett) faz papel de tio-avô simpático, o outro (Sokol) não vê problema em alimentar uma fama de trator. Sokol acorda às 5 da manhã, corre 8 quilômetros e faz musculação antes de chegar ao escritório. Aos seus executivos, ele recomenda a leitura de obras sobre Átila, o Huno, e distribui seu livro de 129 páginas, intitulado Pleased But Not Satisfied (“Contente, mas não satisfeito”, numa tradução livre). Um de seus hábitos é fazer um ranking mensal de seus funcionários: no topo da lista, aqueles que demitiria primeiro. “Ele faz mais em um dia do que eu consigo fazer em uma semana”, disse Buffett certa vez. “E não é brincadeira.” O favoritismo de Sokol ganhou ainda mais força no segundo semestre do ano passado, quando ele foi designado por Buffett para sua missão mais difícil — fazer a NetJets, empresa de aluguel de aviões comprada pela Berkshire em 1998, dar lucro. Desde que chegou, Sokol fez o que se esperava dele. Demitiu 10% dos funcionários, vendeu aviões velhos e escanteou o fundador da empresa. A NetJets, que teve prejuízo de 711 milhões de dólares em 2009, está no azul.


Divisão de poder

Por mais estrelado que seja seu currículo, nada pode preparar Sokol — nem ninguém, a rigor — para substituir Warren Buffett. O conselho de administração da Berkshire Hathaway sabe disso e diminuirá o poder nas mãos do sucessor de Buffett. Hoje, ele acumula os cargos de presidente do conselho, presidente executivo e principal responsável pelos investimentos da Berkshire (CIO, na sigla em inglês). O próximo presidente terá de responder ao filho de Buffett, Howard, que comandará o conselho. Além disso, não acumulará o posto de CIO. O mais provável é que a Berkshire contrate de dois a três financistas para dividir o cargo. Em entrevista ao Wall Street Journal no fim de julho, o velho sócio de Buffett, Charlie Munger, defendeu que o chinês Li Lu, um dos líderes dos protestos estudantis da Praça da Paz Celestial, seja um deles. Li Lu ganhou fama ao investir na montadora chinesa BYD há oito anos. Em 2008, Buffett fez o mesmo, com resultados fantásticos. Em apenas dois anos, o investimento de 230 milhões de dólares passou a valer 1,5 bilhão. Caso seja o escolhido, portanto, Sokol comandará uma das empresas mais complexas do mundo, dividirá o poder com outros executivos e, o pior de tudo, será diariamente comparado a um dos investidores mais geniais da história. Buffett, sabedor do tamanho do problema, já divulgou qual é a primeira instrução da carta contida no famoso envelope. “Verifique meu pulso mais uma vez.”

Acompanhe tudo sobre:Edição 0974[]

Mais de Revista Exame

Aprenda a receber convidados com muito estilo

"Conseguimos equilibrar sustentabilidade e preço", diz CEO da Riachuelo

Direto do forno: as novidades na cena gastronômica

A festa antes da festa: escolha os looks certos para o Réveillon