Usina na Rússia: o país depende da queima de carvão (Alexander Nemenov/AFP Photo)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2012 às 11h53.
São Paulo - Em uma frase: o desenvolvimento da economia verde não é possível sem a participação ativa do meio empresarial. Como criador e presidente da Fundação das Nações Unidas, entidade criada em 1998 para aproximar a população das discussões realizadas no âmbito da ONU, tenho sido testemunha da força da parceria público-privada para tratar dos desafios mundiais.
Questões como a pobreza são muito grandes para deixar apenas nas mãos do setor público. Precisamos de novas maneiras de pensar, de novas soluções. Sem o talento, a habilidade, a experiência e o financiamento das empresas privadas, não é possível vencer essa batalha.
Um dos papéis mais importantes dos governos ao redor do mundo é criar regras que tornem esse jogo justo. Em outras palavras, uma empresa que adote políticas sociais e ambientais responsáveis não deve ficar em desvantagem em relação a uma concorrente sem a menor consideração com a comunidade e o crescimento sustentável.
Quando uma empresa não respeita o meio ambiente, o cidadão é quem arca com os prejuízos, seja com rios poluídos, seja com a má qualidade do ar que respira. Então, como conscientizar as empresas? Com processos de licitação de compras públicas que levem em conta a responsabilidade socioambiental. Com a adoção de padrões voltados para a eficiência energética.
Os avanços dos últimos 20 anos nos incentivam a seguir adiante. Após a Rio 92, a transformação mais importante foi a ampla aceitação do conceito de desenvolvimento sustentável. É encorajador, apenas para citar um exemplo, ver que mais e mais companhias divulgam relatórios de sustentabilidade.
Empresas responsáveis reconhecem que, além das metas operacionais, precisam comunicar os impactos de suas atividades à sociedade. Essa transformação ocorre porque nós, os consumidores, demandamos esse novo foco. Conseguimos promover uma grande mudança, mas há muito mais a ser feito.
Acredito que a Rio+20 será uma grande oportunidade para progredirmos nos temas de energia e de mudanças climáticas. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, assumiu a liderança na definição de metas ambiciosas — e possíveis — para o mundo atingir até 2030.
Elas incluem garantir acesso à energia, aumentar a eficiência energética e, também, dobrar a participação das energias renováveis na matriz mundial. Esperamos que os líderes mundiais aproveitem a reunião no Rio de Janeiro para discutir como pretendem atingir esses objetivos.
Não se pode subestimar o poder de inspiração desses encontros. Mas, nesse debate, não cabe ter ilusões. A mudança climática é o maior desafio do século 21. Também temos muito o que fazer na área social. Atualmente, 1,3 bilhão de pessoas não têm acesso à eletricidade, e outro bilhão conta apenas com acesso precário.
Quatro em cada dez pessoas ainda usam lenha, carvão e resíduos de origem animal para cozinhar e se aquecer. Esses déficits são caros para o desenvolvimento econômico, a saúde e a igualdade de gêneros — sem falar, claro, na questão ambiental. Podemos combater essa situação de injustiça e, ao mesmo tempo, ter um planeta saudável.
Caso nos deixemos desviar dessa meta, vamos jogar fora todos os avanços que conquistamos nas últimas décadas. Isso sem falar que correremos o risco de ver uma catástrofe de grandes proporções.