Jorge Arduh, da Indra: poucas cidades estão preparadas para mudar (Indra/Divulgação)
Gustavo Gusmão
Publicado em 28 de fevereiro de 2019 às 05h10.
Última atualização em 28 de fevereiro de 2019 às 05h10.
O termo “cidade inteligente” está longe de ser novo. Mas o conceito de metrópole conectada ainda esbarra em limitações para decolar. Na liderança da consultoria de tecnologia espanhola Indra no Brasil desde 2015, o argentino Jorge Arduh conversou com EXAME sobre as dificuldades para a implementação das soluções desse tipo, as perspectivas em torno do conceito e a relação dele com novas tecnologias e legislações.
Apesar dos avanços ao redor do mundo, as cidades inteligentes ainda não parecem ter se disseminado. Por que a demora?
As tecnologias se desenvolvem de acordo com as necessidades das pessoas. Mas há casos em que a necessidade é maior do que a capacidade de desenvolvimento tecnológico. A história das cidades inteligentes é assim. Deseja-se criar uma solução que centralize e resolva as necessidades de um cidadão com o uso de tecnologia. Mas a ideia esbarra na implementação.
Por que é tão difícil colocar em prática essas soluções?
É preciso lidar com muitos dados e com a integração de sistemas. Além disso, cada cidade tem um tamanho e um nível tecnológico diferentes. Umas cresceram com um planejamento adequado. Outras, não. Pense em São Paulo e em seus muitos hospitais públicos. Eles se desenvolveram separadamente, com sistemas diferentes e dados guardados de formas distintas.
É possível criar tecnologias capazes de contornar essas dificuldades com o uso de sistemas diferentes?
Sim, e elas existem. Uma equipe nossa, de saúde, desenvolveu um modelo para acelerar a implantação de soluções inteligentes em hospitais. É uma estrutura que interage com sistemas distintos e permite a interoperabilidade. O modelo digital da Estônia, outro que integra sistemas, também é aberto e pode ser adotado por qualquer um. A implantação depende do nível de desenvolvimento de cada município, claro. Mas acredito que essa integração facilite o avanço das cidades inteligentes.
Quais outros países têm boas experiências nesse campo?
A Espanha é um exemplo. A região da Andaluzia já usa um sistema de saúde inteligente. As informações dos pacientes são centralizadas e todos os cidadãos têm um registro eletrônico. Isso praticamente eliminou as filas e reduziu o tempo de atendimento em clínicas e hospitais.
Qual é o papel da tecnologia 5G na área de cidades inteligentes?
O 5G deverá ser útil para dar conta da quantidade cada vez maior de dados trafegados. Acredito até que ele fará as operadoras de telecomunicações mudar de vez o foco, voltando a atenção para a oferta de serviços além de telefonia e dados.
Nesse contexto, onde entram as mais recentes legislações de proteção de dados, como a lei geral brasileira, aprovada em agosto do ano passado, e a europeia?
Essas leis são importantes porque nós estamos entrando na era da tecnologia cognitiva, que depende de cada vez mais dados. À medida que essas inovações avançam, torna-se cada vez mais necessário manter as informações delas protegidas. Mas, claro, será preciso regulá-las e fazê-las valer.
Sobre a lei local, o senhor tem acompanhado a preparação das empresas e dos setores do governo no Brasil. Como estão?
As empresas estão atentas e preocupadas. Temos recebido muita demanda delas, porque lidamos com isso na Espanha, por causa da lei europeia. Os setores do governo também estão cientes dos processos que têm de ser feitos.