Howard Schultz, da Starbucks: sem COO e com três novas diretorias (Mario Tama/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 25 de outubro de 2012 às 09h52.
Nova York - O time de altos executivos já foi bem mais restrito. Nas duas últimas décadas, a quantidade média de cargos subordinados ao presidente dobrou de cinco para dez nas empresas americanas, segundo pesquisadores da Universidade Harvard.
Em meio à profusão de novas posições na diretoria, no entanto, uma figura tradicional começa a desaparecer — o COO (ou executivo-chefe de operações), espécie de braço direito do principal executivo.
Nos anos 2000, ele estava em metade das companhias americanas. Hoje pode ser encontrado em cerca de 35% delas. Empresas como a rede de cafeterias Starbucks, a fabricante de cosméticos Avon, a montadora GM e a farmacêutica Eli Lilly eliminaram a posição nos últimos anos.
Uma das mais recentes foi a Discovery Communications, dona de canais de TV por assinatura, como Discovery Channel e Animal Planet, que extinguiu o cargo em janeiro.
Há pelo menos duas razões para o sumiço dos COOs. A primeira é justamente a tentativa de reduzir a superpopulação no topo — que, como qualquer medida de corte, torna-se ainda mais popular em tempos de crise.
“Ter um executivo para cuidar do dia a dia enquanto o presidente se dedica à estratégia pode ser um luxo insustentável, sobretudo quando um ambiente de negócios mais complexo exige a criação de novos cargos”, diz Stephen Miles, presidente da consultoria de recursos humanos The Miles Group.
Um fator adicional, também comum em meio à turbulência, é o esforço de manter a operação mais perto do executivo principal para acelerar decisões.
O caso da Starbucks retrata bem o novo contexto. O americano Howard Schultz, controlador e presidente da rede, reassumiu a presidência em janeiro de 2008, depois de uma temporada no conselho — em meio a uma dolorosa reestruturação. Uma de suas primeiras medidas foi acabar com o cargo de COO (nos meses seguintes, também demitiu mais de 18 000 funcionários).
De lá para cá, ninguém mais ocupou a posição. Em contrapartida, só neste ano três executivos assumiram novos postos diretamente subordinados a Schultz — o chief digital officer, para as estratégias digitais; o chief creative officer, para cuidar do relacionamento com clientes nas lojas; e o chief community officer, para cuidar de temas como diversidade e apoio a programas de educação em comunidades pobres.
Em meio às mudanças, as receitas voltaram a crescer — no terceiro trimestre as receitas foram de 3,3 bilhões de dólares, 13% acima em relação a igual período do ano anterior.
Segundo especialistas, a tendência é que o posto fique restrito a determinadas indústrias em que a projeção do futuro é particularmente crítica, como a de tecnologia — e dividir a atenção ao dia a dia com outro executivo pode ser mais crucial. Por esse motivo, empresas como Microsoft e HP têm mantido a posição em caráter permanente.
No Brasil, o COO só se tornou mais popular recentemente. Um levantamento da consultoria de recursos humanos Mercer mostra que eles estão em menos de 20% das empresas instaladas no país com receita anual acima de 1 bilhão de dólares.
Alguns críticos veem no fim do posto uma ameaça à linha de sucessão. Nos Estados Unidos, os COOs ainda representam uma etapa importante na formação de presidentes — 44% dos que assumiram o comando de empresas em 2011 ocuparam a posição. Algumas companhias buscam alternativas.
“Há a tendência de que outro diretor acumule a função”, diz Julie Wulf, professora de administração da Universidade Harvard. Na empresa de internet AOL, o cargo de COO, eliminado em 2008, ressurgiu neste ano — Arthur Minson, diretor financeiro, acumula a função. Pode-se também recriar o papel em momentos de transição, como na Intel.
O presidente, Paul Otellini, deve se aposentar em 2016, aos 65 anos, limite para sua permanência na operação. Em janeiro, ele anunciou o primeiro COO em seus sete anos na presidência — Brian Krzanich, um potencial sucessor. É uma concessão para evitar algo que a Intel definitivamente não pode se dar ao luxo de ter — um buraco no comando.