Kathy Calvin, presidente da Fundação das Nações Unidas (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 12 de agosto de 2015 às 14h31.
São Paulo - A conferência internacional COP 21, que reunirá representantes de quase 200 países em dezembro, em Paris, terá o objetivo de construir o mais abrangente acordo global de redução de emissão de gases de efeito estufa já feito. Seu sucesso, no entanto, dependerá da participação voluntária dos países ao apresentar as próprias metas, que deverão vigorar a partir de 2020.
Espera-se que não apenas os países desenvolvidos apresentem suas contribuições, mas também os emergentes, como o Brasil. Para a americana Kathy Calvin, presidente e diretora executiva da Fundação da ONU, braço filantrópico da Organização das Nações Unidas, as próximas decisões sobre o tema só serão efetivas se tomadas espontaneamente por todas as partes.
Há pelo menos uma razão para otimismo: no fim de 2014, o presidente americano, Barack Obama, e o líder chinês, Xi Jinping, comprometeram-se a desacelerar suas emissões de carbono até 2030. “Não se trata mais de um acordo apenas entre ricos, mas de uma responsabilidade compartilhada por todos”, disse Kathy a EXAME em visita ao Brasil no início de maio.
EXAME - Há quase 20 anos as tentativas de traçar uma meta global de redução das emissões de gases de efeito estufa fracassam. O que torna a COP 21 mais promissora?
Kathy Calvin - Pela primeira vez teremos uma abordagem multilateral construída com base nos compromissos firmados por cada país, segundo os interesses deles, sem perder de vista a meta de impedir que a temperatura do planeta suba 2 graus Celsius neste século. Quando os países concordaram em criar um novo tratado climático internacional no fim deste ano, eles também aceitaram traçar publicamente medidas a ser tomadas a partir de 2020.
EXAME - Quais países já têm planos prontos?
Kathy Calvin - Andorra, China, União Europeia, Gabão, Liechtenstein, México, Noruega, Rússia, Suíça e Estados Unidos já apresentaram ou descreveram seus planos.
EXAME - O governo brasileiro parece engajado?
Kathy Calvin - Realmente há um esforço em garantir que o país tenha uma meta climática clara. Há muita gente interessada no uso de etanol, por exemplo.
EXAME - Mas a indústria de etanol encolheu, sobretudo devido à política de controle de preços de combustíveis empreendida pelo governo.
Kathy Calvin - Ainda assim o Brasil é o segundo maior produtor de etanol, atrás dos Estados Unidos. A cadeia de distribuição já está estruturada, há veículos movidos a combustíveis limpos rodando. Mesmo com altos e baixos, a experiência do Brasil fornece lições sobre o uso de energia limpa. Vejo uma oportunidade de parceria entre o Brasil e os Estados Unidos com as maiores montadoras do mundo, de modo a alavancar o uso desse tipo de combustível.
EXAME - Após um longo período de queda nos índices de desmatamento no Brasil, temos visto o cenário piorar de novo. Como a senhora avalia isso?
Kathy Calvin - Parece haver um consenso entre o governo, líderes do setor privado e cidadãos de que metas de redução do desmatamento são fundamentais. E isso coloca o Brasil à frente de muitos países onde o debate gira em torno da necessidade ou não de proteger o meio ambiente, e não em como fazer isso. O Brasil tem uma chance única de exercer um papel de líder global nessa discussão ao tornar isso uma prioridade.
EXAME - Estados Unidos e China fecharam um acordo inédito em novembro para reduzir suas emissões de carbono. Essa iniciativa pode motivar outros países a fazer o mesmo?
Kathy Calvin - É importante que Estados Unidos e China, agora em acordo, encorajem outros países a estabelecer metas internamente. O mundo inteiro quer saber como a União Europeia vai se posicionar e há também uma expectativa muito grande sobre a Índia, devido a seu rápido crescimento populacional, com taxas maiores do que as registradas pela China.
EXAME - Como os resultados dos esforços de cada país serão medidos?
Kathy Calvin - Esse é um ponto crítico e será amplamente discutido em Paris. Para ver mudanças reais, temos de contabilizar e registrar o desempenho dos países, de modo que possa ser acompanhado e avaliado pela sociedade. Uma possibilidade é criar uma nova agência climática, semelhante à Agência Internacional de Energia, para auxiliar os países a implementar seus compromissos e acompanhá-los de perto.