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Reforma tributária: o que acontece se o Brasil tributar dividendos?

A maioria dos países desenvolvidos tributa dividendos, enquanto têm carga menor sobre os lucros das empresas, mostram dados da OCDE. Brasil, por ora, está na contramão

Carolina Riveira
Carolina Riveira

Repórter de Economia e Mundo

Publicado em 20 de abril de 2023 às 06h00.

Última atualização em 25 de abril de 2023 às 07h36.

Que o sistema tributário brasileiro se destaca negativamente no mundo não há dúvidas. Mas, entre as exceções nacionais, uma chama a atenção na comparação com outros países: a tributação dos lucros e dividendos.

Dados da OCDE, que reúne as principais economias, mostram que o Brasil tributa pesadamente os lucros de empresas — e isenta os dividendos, o lucro distribuído a acionistas na pessoa física.

Dos Estados Unidos, Japão e Europa a países sul-americanos e asiáticos de renda média, essa divisão centrada totalmente na pessoa jurídica não ocorre em quase nenhum membro da OCDE ou associados. As exceções ficam para as pequenas Letônia e Estônia.

Na prática, segundo a organização Tax Foundation, a carga brasileira sobre o lucro da pessoa jurídica — de 34% — é hoje uma das maiores do mundo. Com a escolha do governo Lula de dividir a reforma tributária em duas frentes — primeiramente, sobre o consumo; depois, sobre a renda —, o tema só deve ganhar os holofotes de vez na segunda fase.

Enquanto isso, um relatório do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) estima como o Brasil ficaria na comparação internacional se uma reforma tributária via renda fosse aprovada. A base usada foi o que está proposto no PL 2.337/21, que já tramita no Congresso e que o atual governo deve usar como ponto de partida.

Tributação sobre dividendos, redução na pessoa jurídica

A proposta aumenta de zero para 15% a taxação de dividendos.

Na outra ponta, reduz o imposto de renda da pessoa jurídica e a contribuição social sobre o lucro líquido, entre outras medidas.

  • No agregado, a carga tributária total sobre o lucro aumentaria de 34% para 40%;
  • A entrada dos dividendos no bolo faria a tributação direta sobre a pessoa jurídica cair de 34% para 25%.

“Um dos argumentos a favor de uma taxação dividida entre lucros e dividendos é incentivar as companhias a reinvestirem seus lucros, em vez de distribuí-los”, explicam à EXAME Iana Ferrão e Fábio Serrano, autores do relatório do BTG.

Apesar de ser um passo crucial, eles também argumentam que o sistema tributário brasileiro precisa passar por mudanças mais amplas que reduzam a alta complexidade para as empresas, como a unificação de tributos que deve vir na “fase 1” da reforma.

A evidência do resto do mundo mostra que teremos muito a avançar.


Esta reportagem faz parte da seção Visão Global, disponível na edição 1.250 da EXAME. Leia também as outras notas da seção: 

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