Revista Exame

Gerdau é a empresa do ano de Melhores e Maiores

A Gerdau vive uma das melhores fases da empresa centenária. Um dos principais clientes da siderúrgica, a construção civil sofreu menos do que outros setores com a pandemia

 (Divulgação/Divulgação)

(Divulgação/Divulgação)

LB

Leo Branco

Publicado em 20 de outubro de 2021 às 20h00.

Última atualização em 20 de outubro de 2021 às 20h49.

Um experimento nos primeiros meses de 2021 deu à ­siderúrgica Gerdau uma visão das oportunidades para uma multinacional brasileira de 120 anos de história. Em maio, a Brasil ao Cubo, startup catarinense investida pela Gerdau no ano passado, terminou a construção de um prédio de oito andares na zona central de Tubarão, cidade de 100.000 habitantes a 80 quilômetros de Florianópolis, Santa Catarina. A obra chamou a atenção pela praticidade: tudo ficou pronto em 100 dias. O canteiro registrou um consumo mínimo de água. A sujeira típica de uma empreitada dessas foi praticamente inexistente. Tudo isso porque o prédio é feito de blocos de concreto e aço pré-moldados a poucos quilômetros dali e encaixados na obra como peças de Lego. Trata-se do primeiro prédio da Brasil ao Cubo, especializada em construções horizontais.

A lógica desse tipo de construção é de serviço completo: o fornecedor dos blocos de concreto é também responsável pelo trabalho de erguer o prédio e fazer eventuais manutenções na sequência. Para a Gerdau, até pouco tempo focada na fabricação de derivados de aço, como vergalhões, arames, barras, chapas e por aí vai, o serviço completo é o futuro do negócio. “O cliente não quer mais preo­cupação com fornecedores diferentes em todas as etapas da obra”, diz Gustavo Werneck, CEO da Gerdau desde 2018, o primeiro executivo fora da família fundadora a ocupar o cargo. “Nossa visão é agregar cada vez mais serviços.”

Gustavo Werneck, CEO da Gerdau: foco em novos negócios e na agenda ESG (Leandro Fonseca/Exame)

Os experimentos da Gerdau vêm numa das melhores fases da empresa centenária. Um dos principais clientes da siderúrgica, a construção civil sofreu menos do que outros setores o baque das medidas de isolamento social na pandemia. No Brasil, boa parte das obras seguiu a toda. “Não paramos o funcionamento das usinas por falta de demanda no ano passado”, diz Werneck, para quem a demanda também ajudou. “No meio das incertezas, as famílias tiraram dinheiro de aplicações financeiras e foram colocar dinheiro no mundo real, em imóveis.” Tudo isso colaborou para um 2020 “excepcional”, nas palavras de Werneck.

­­A receita de 43 bilhões de reais foi quase 10% acima da registrada no ano anterior, segundo dados levantados pela escola de negócios Ibmec. O lucro antes de impostos cresceu 60% ante 2019 e fechou em 5 bilhões de reais. Ao que tudo indica, a boa fase segue em 2021. A receita líquida no segundo trimestre, de 19 bilhões de reais, é mais do que o dobro da registrada 12 meses antes. Pelos ótimos resultados financeiros e pelas conquistas em outras frentes, a Gerdau foi escolhida a Empresa do Ano por MELHORES E MAIORES, anuá­rio publicado pela EXAME desde 1974. É a primeira vitória da companhia fundada em Porto Alegre em 1901.

(Arte/Exame)

A boa fase da Gerdau se explica também pela guinada para uma empresa de serviços. Um marco dessa trajetória foi a criação da Gerdau Next, um braço da empresa para relacionamento com startups, em agosto do ano passado. É responsabilidade da Next conversar com empresas de tecnologia para projetos especiais, como o prédio em Santa Catarina, e eventualmente adquirir participação nesses negócios para diversificar as receitas. “A meta é chegar a 2030 com 20% da receita do grupo vinda de negócios para além da cadeia do aço”, diz Juliano Prado, vice-presidente da Gerdau contratado em julho do ano passado para tocar a Next após duas décadas de experiência em inovação em gigantes de energia como Shell, Cosan e Raízen. Até agora, 12 negócios receberam aportes da Gerdau. A julgar pela ambição por ali, mais anúncios estão na fila. “Falamos com 1.600 startups por ano”, diz Prado. “Além da construção civil, estamos de olho em inovações em mobilidade e no cuidado com o meio ambiente.”

A Next é resultado de uma mudança de estratégia, iniciada em 2014, com o objetivo de dar uma cara mais digital para a Gerdau. De lá para cá, equipes de departamentos diferentes acostumaram-se a trabalhar juntas em projetos específicos — um dos pilares da chamada “metodologia ágil”. Times com mais de 130 especialistas em tecnologia monitoram em tempo real o funcionamento das fábricas por meio de softwares de inteligência artificial. O intuito é prever futuras dores de cabeça, como acidentes causados por falha humana ou o mau funcionamento de máquinas. “Com processos inteligentes conseguimos prever melhor as datas de manutenção das máquinas e, com isso, reduzimos o custo dessas paradas em 20%”, diz Gustavo França, líder global de tecnologia na Gerdau. No espírito de convocar todo mundo a quebrar a cabeça em busca de soluções aos percalços diários do chão de fábrica, uma força-tarefa envolvendo boa parte dos 28.350 funcionários da empresa em dez países economizou 120 milhões de dólares desde 2020 com processos mais eficientes. 

Usina da Gerdau em Ouro Branco (MG): 11 milhões de toneladas de sucata recicladas por ano (Divulgação/Divulgação)

Economia circular

Em paralelo aos avanços no lado digital, a Gerdau tem tido o que mostrar na agenda ESG — um dos critérios para a seleção da empresa como a melhor do ano. A começar pelo fato de há sete décadas ela reciclar partes de carros e de eletrodomésticos e outros objetos de pouco valor. Atualmente, 73% da produção da Gerdau tem a sucata ferrosa como matéria-prima, o equivalente a 11 milhões de toneladas por ano. “A economia circular é nosso modelo de negócios”, diz Carolina Carpenedo, diretora global de RH e responsabilidade social. Nas últimas duas décadas, a empresa tem ampliado os esforços na parte S (de social) do ESG. A começar dentro de casa. Desde 2014, grupos de afinidade buscam ampliar a diversidade da mão de obra. Executivos têm metas de inclusão — e elas impactam no bônus. De 2017 para cá, o número de mulheres na liderança subiu de 17% para 23% (a meta é 30% até 2025). Além disso, funcionários negros ocupam 30% dos cargos de liderança. Da porta para fora, a Gerdau tem a meta de custear 50% da reforma de 13.000 casas de famílias pobres nos arredores das fábricas.

Sobram desafios para os próximos 120 dias, meses e anos. A demanda pelos derivados de aço pode cair com a escassez de peças por trás da paralisação de fábricas em setores como montadoras e fabricantes de eletroeletrônicos. O endividamento da Evergrande, maior construtora da China, pode causar uma ressaca global no setor. A pressão por metas ambientais mais ambiciosas pode colocar a siderurgia sob ataque de ambientalistas e políticos mundo afora. Até aqui, a Gerdau tem conseguido superar as incertezas pelo caminho. Resta saber como as bases sólidas de hoje vão ajudar a empresa a captar as oportunidades à vista.  

Fique por dentro das principais notícias do Brasil e do mundo. Assine a EXAME


Acompanhe tudo sobre:acoGerdauMelhores e MaioresSiderúrgicas

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025