O centro de distribuição da Dafiti (Leandro Fonseca/Exame)
A pandemia impulsionou as vendas pela internet, e as empresas de comércio eletrônico não tiveram outra opção senão investir. As estratégias são agressivas, mirando sempre a entrega mais rápida possível. Quem cumpre bem a tarefa avança sobre um mercado que deverá atingir faturamento de 314,8 bilhões de reais em 2024, ante os 202,2 bilhões de reais do ano passado.
Tome-se como exemplo a plataforma de moda Dafiti, que inaugurou no início do ano seu maior centro de distribuição na América Latina: um galpão de 54.000 metros quadrados, fruto de um investimento de 320 milhões de reais. A área localizada em Extrema, em Minas Gerais, com funcionários humanos e robôs, tem capacidade para separar 5.000 produtos por hora e já está ajudando a holding Global Fashion Group, que controla o marketplace, a avançar em participação de mercado no Brasil e nos países vizinhos, atendendo os 8 milhões de clientes da empresa.
COMPRE, LOGO RECEBA
Com o momento pujante do e-commerce, há galpão para armazenar tanto produto? É certo que sim. A rapidez vem exigindo mudanças no modelo de negócios, com investimento em espaço para estocagem e ritmo pesado de aquisição de tecnologias de logística. Segundo dados da consultoria imobiliária Colliers, 32% dos barracões industriais alugados em 2020 foram impulsionados pelo comércio online e 6% estão ligados a empresas de logística. Na lista dos que mais investem nessas frentes não há nomes novos.
No primeiro trimestre, a maior contratação de áreas de galpões em São Paulo, por exemplo, foi realizada pelo Magalu, que absorveu em suas instalações 21.500 metros quadrados em Jundiaí. A demanda é tanta que as principais empresas do setor reportam lotação máxima e resultados recordes, em 2020 e neste ano. Como resultado, são mais áreas contratadas do que devolvidas no país durante o segundo trimestre, equivalentes a 771.720 metros quadrados.
Com tanto espaço, ir às compras também foi importante. No caso do Magalu, entre as aquisições mais famosas estão empresas experientes em logística, como Sode, Netshoes e Logbee. Esta última deverá ajudar a varejista a chegar rapidamente aos lares dos clientes. Com ela o roteiro de entrega muda: o Magazine Luiza usa suas 1.200 lojas como centros de distribuição e, assim, só se preocupa com a última milha, que vai do estoque ao destino.
CRESCIMENTO ACELERADO
Com cerca de 12 milhões de vendedores em sua plataforma no Brasil, o Mercado Livre faz 91% das entregas de seus produtos usando da própria rede logística que desenvolveu e ampliou nos últimos dois anos. Atualmente são 51 carros elétricos, 260 caminhões, 10.000 vans, quatro aviões e oito carretas a gás.
A empresa também prepara um novo centro de distribuição em Betim, que se soma ao de Extrema, ambos em Minas Gerais, e a mais seis, além de 18 pontos de transferência de produtos, que devem elevar a malha de galpões de última milha das atuais 80 para 100 unidades. A meta desses investimentos é entregar a 2.100 cidades em até 24 horas. Nas entregas no mesmo dia, atualmente são 50 cidades, que representam 20% das compras. Do total de 16.000 funcionários que a empresa estima que terá até o final de 2021, 9.000 serão alocados em postos de envios.
O MAIS RÁPIDO GANHA
As entregas em até 24 horas respondem por metade das vendas do comércio eletrônico. Para os especialistas, a corrida por vendas ultrarrápidas é uma necessidade do próprio consumidor, que agora procura na compra de qualquer produto uma experiência similar à do delivery de comida.
Pensando no potencial desse tipo de atendimento, a Americanas anunciou, no segundo semestre, a entrega em 30 minutos em algumas regiões, com a intenção de chegar a até 100 cidades. Para conseguir um tempo tão curto, a empresa conta com 22 galpões distribuídos por 12 estados brasileiros, e com as 1.707 lojas físicas e as mais de 2.000 lojas de parceiros disponíveis. Há também entregadores conectados à plataforma Ame Flash, de delivery via moto ou carro, que atende cerca de 750 cidades brasileiras com entrega em 2 horas. Contudo, neste último ponto, quando as entregas passam a ser, em média, em 1 hora e incluem itens de conveniência, como de supermercados e farmácias, o avanço das varejistas inicia uma disputa com nomes já consagrados no setor de delivery, como Rappi e iFood.
O que pode, em uma previsão anedótica, caminhar para uma competição de “superapps”, nos quais as empresas vão aglomerar todos os tipos de produtos e serviços. A disputa para ser o mais veloz já é tanta que virou tema para o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que em julho pediu a alteração de anúncios de Magazine Luiza, Americanas e Mercado Livre. As três alegavam realizar “a entrega mais rápida do Brasil”.