Plataforma da Petrobras na Bacia de Campos: a revisão das licitações entre 2009 e 2010 atrasou as vendas da Lupatech (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 6 de abril de 2011 às 06h49.
Rezam os mais célebres manuais de negócios que uma das maneiras de uma empresa crescer de forma sustentada é antever tendências de mercado e se preparar para elas. Durante quase uma década, esse princípio funcionou extraordinariamente bem para a gaúcha Lupatech, uma das maiores fornecedoras nacionais da Petrobras. Fabricante de cabos e válvulas utilizados em plataformas de produção de petróleo, a empresa cresceu em média 26% ao ano de 2001 para cá, em grande parte graças às encomendas da Petrobras, de quem depende para gerar 64% de sua receita. O crescimento vigoroso e as enormes expectativas em torno do mercado brasileiro de petróleo transformaram a Lupatech, criada em 1980, numa promessa para os investidores. Em 2006, sua abertura de capital na bolsa rendeu 453 milhões de reais. Parecia o suficiente para transformar uma empresa média e regional numa grande companhia. Com o dinheiro do IPO, a Lupatech partiu para uma série de 15 aquisições, pelas quais pagou 400 milhões de reais. Em apenas 18 meses, suas ações valorizaram espantosos 170%. Era o mundo perfeito — até que veio a crise mundial, derrubando a receita da Petrobras em 17% em 2009. Num inevitável efeito dominó, a Lupatech foi imediatamente afetada e, ao contrário de sua principal cliente, que registrou lucro recorde no ano passado, até agora luta para se refazer do tombo. Em 2010, seu prejuízo foi de 73 milhões de reais. O faturamento, que chegou a 705 milhões de reais em 2008, caiu 18%, para 580 milhões de reais no período. A má fase, como era de imaginar, teve reflexo no mercado de capitais. Em março, os papéis da Lupatech valiam 13,70 reais, 78% menos que seu pico histórico há três anos. “Investimos pesado à espera da Petrobras, mas as encomendas não vieram”, diz o gaúcho Nestor Perini, de 58 anos, presidente e fundador da Lupatech.
Embora já tenha voltado a fazer investimentos pesados — foram 45 bilhões de dólares em 2010, o dobro do montante registrado em 2008 —, a Petrobras decidiu refazer todas as grandes licitações nos últimos dois anos. O objetivo era forçar uma baixa nos preços dos fornecedores, cuja matemática ainda refletia o preço do barril a 140 dólares (ao final de 2010, o barril estava cotado a 115 dólares). Com isso, as compras da estatal foram atrasadas em até um ano, obrigando a Lupatech a operar com apenas 40% de sua capacidade de produção na época. Ao mesmo tempo, a Petrobras retardou a operação de novos poços na bacia de Campos, no Rio de Janeiro, para centrar esforços em estudos do pré-sal na bacia de Santos. Com isso, a produção na região desacelerou, assim como a aquisição de novos equipamentos.
As questões conjunturais são parte importante dos problemas enfrentados pela Lupatech, mas não explicam totalmente a demora na sua recuperação — sobretudo em meio a um setor que cresceu 10% no ano passado. Entre 2009 e 2010, a Lupatech arcou com um aumento de 14% nos custos, justamente num período em que todas as concorrentes faziam cortes para sobreviver à crise. A maioria desses gastos deveu-se ao pagamento de dissídios salariais, ao pagamento de bônus a executivos e à incorporação das empresas adquiridas, além de juros da ordem de 130 milhões de reais ao ano, referentes aos empréstimos efetuados na época das aquisições. Numa tentativa de conseguir novas fontes de receita, meses atrás a empresa entrou numa licitação de fios metálicos utilizados no fundo do mar, uma área nova de atuação. Os preços oferecidos pela companhia foram 50% maiores que os apresentados pelos vencedores do processo. “A discrepância de preços mostrou o quanto a Lupatech está fora de foco”, diz um executivo de uma empresa concorrente.
Cortes e investimentos
Para melhorar os resultados, os três diretores da empresa passaram a se dedicar ao corte de despesas nas empresas adquiridas. Perini e seus sócios também estudam vender negócios pouco rentáveis — a metalurgia, que opera no vermelho, é um potencial descarte — e ampliar a carteira de serviços. Em junho, a Lupatech venceu um contrato de 1,5 bilhão de reais para alugar barcos para a Petrobras por um período de cinco anos. A iniciativa, no entanto, é vista com cautela por alguns analistas do setor. “A companhia precisa ocupar os 40% de ociosidade que está faltando antes de entrar em novas áreas, que exigem mais investimentos”, diz Marcos Saravalle, analista da corretora Coinvalores. A Petrobras, claro, continua sendo a grande esperança de que isso aconteça. No final do ano passado, a carteira de pedidos da Petrobras foi triplicada, para 3 bilhões de reais nos próximos cinco anos. O dinheiro, no entanto, só deve começar a entrar em 2012. Enquanto isso não acontece, os sócios da Lupatech se viram como podem. No dia 24 de março, tomaram 70 milhões de reais em empréstimos com o Bradesco para fazer novos investimentos. O desafio agora é equilibrar as contas até que os pagamentos da Petrobras finalmente voltem a encher seu caixa.