Sergio Pancini de Sá, presidente da Mahle: investimento em pesquisas para aumentar a eficiência dos motores de combustão com etanol (Leandro Fonseca/Exame)
Da Redação
Publicado em 16 de agosto de 2018 às 11h20.
Última atualização em 16 de agosto de 2018 às 13h57.
A alemã Mahle é uma gigante do setor de autopeças que surgiu em 1920 e hoje tem 170 fábricas espalhadas por todos os continentes. Estima-se que seus produtos estejam instalados em pelo menos metade dos veículos que circulam no mundo. Presente desde a década de 50 no Brasil, onde adquiriu em 1996 o controle da Metal Leve, o grupo sempre seguiu à risca a essência de seu negócio: atuar na fabricação de componentes de motores a combustão. Porém, uma mudança recente no mercado está fazendo a companhia rever sua atividade-chave. Os automóveis elétricos já são uma realidade e chegam como alternativa de motorização. Uma pesquisa nos Estados Unidos aponta que 20% dos consumidores americanos têm interesse em comprar um carro elétrico nos próximos anos. No Brasil, embora de forma mais tímida, a venda de veículos movidos a eletricidade também começa a ganhar corpo — a comercialização de carros elétricos ou híbridos por aqui subiu 65% de janeiro a maio deste ano em comparação com o mesmo período de 2017. Para acompanhar essa tendência que parece irreversível, a Mahle vai, aos poucos, remodelando o negócio.
No comando da subsidiária brasileira há pouco mais de um ano, o executivo Sergio Pancini de Sá diz que sua principal meta é dar continuidade aos investimentos em inovação. A companhia tem um plano de investimentos para 2018 no valor de quase 100 milhões de reais. “O desafio é construir uma transição para um futuro em que o motor a combustão, base de nosso sucesso, dividirá espaço com uma crescente eletrificação nos veí-culos”, afirma Sá. Para isso, a empresa trabalha em duas frentes: localmente, no aumento da eficiência do motor de combustão com o etanol, e, em conjunto com a Alemanha, na eletrificação dos motores. Ambas as frentes buscam reduzir as emissões de dióxido de carbono e de outros gases poluentes. “O etanol mostra-se uma excelente solução para o Brasil e para outros países, pois recicla o CO2 e pode dar uma longa sobrevida ao motor de combustão, isoladamente ou em soluções híbridas”, diz Sá.
Recentemente, a empresa lançou o MBE2 (Mahle Bio Etanol 2), uma tecnologia que aumenta o rendimento da produção de etanol nas usinas em cerca de 10%, sem a necessidade de expandir a área plantada de cana-de-açúcar. O MBE2 foi desenvolvido no centro tecnológico da Mahle em Jundiaí, no interior paulista, um dos 16 centros de pesquisa e desenvolvimento do grupo alemão no mundo. A ideia é que, enquanto os veículos exclusivamente elétricos não ganham escala e não têm um preço mais competitivo, o etanol tem um papel importante no mercado brasileiro de automóveis.
Enquanto aposta no desenvolvimento de novos produtos, a Mahle comemora o respiro que obteve em 2017. Após três anos seguidos de queda, a produção de veículos no Brasil cresceu 25% no ano passado. Isso ajudou a Mahle a faturar 582 milhões de dólares e obter lucro de 71 milhões, gerando um retorno de 16% sobre o patrimônio líquido. Outro ponto positivo no ano foram as exportações, responsáveis por 44% da receita total. Além do ganho decorrente da desvalorização cambial, a Mahle tirou proveito das vendas para os mercados americano e europeu de veículos pesados. No segundo semestre deste ano, porém, a empresa enfrenta um cenário mais complicado em razão da indefinição política no Brasil e da crise na Argentina, um importante destino de suas exportações. “Para contornar as dificuldades, temos de buscar maior eficiência por meio da melhoria de nossos processos”, diz Sá.