Aposentados em agência do INSS: menos braços para produzir e arcar com os crescentes custos da Previdência (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2017 às 18h00.
Última atualização em 30 de agosto de 2017 às 18h22.
São Paulo – Como a estagnação nas economias avançadas afeta o Brasil? Ela significa uma diminuição dos mercados para as commodities brasileiras ou de investimentos no país? Antes de se tornar avançado, o Brasil pode já ter estagnado? “Esses países não consomem tantas commodities há muito tempo”, diz o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central. “Eles dependem muito mais da China e da Índia, as grandes economias que estão crescendo.” Schwartsman lembra que o cenário foi favorável ao Brasil até 2013, pela combinação de preços altos das commodities com a liquidez abundante.
O risco representado pela estagnação, na visão de Schwarstman, é muito mais político que econômico. “Se os países desenvolvidos não conseguirem voltar a crescer, não poderão absorver, com salários decentes, os trabalhadores que perderam o emprego na indústria. O desemprego nos Estados Unidos está abaixo de 5%, mas os salários não cresceram e parte da força do populismo vem daí”, diz. “Na Europa, há situações mais graves, de gente desempregada em vários países. Começaram a aparecer movimentos antiglobalização. Isso me preocupa mais do que preços de commodities e investimentos.”
Para Armínio Fraga, o problema do Brasil é outro. “Nosso assunto é interno, porque não conseguimos nos organizar como sociedade para alcançar um padrão de convergência com o mundo. A estagnação é muito relevante para os países maduros. Para nós, não.” Em contrapartida, o ex-presidente do Banco Central diz que o Brasil não está mal na atração de investimentos. “Mesmo passando por um período turbulento, continua entrando bastante dinheiro. Falta poupar mais, educar melhor, conectar o Brasil ao mundo para aproveitar todos esses ganhos de produtividade disponíveis.”
Marcos Lisboa, presidente da escola de negócios Insper, concorda que a dificuldade não está em atrair investimentos. “O problema é que a produtividade é muito baixa e está indo para trás. Investimento é consequência de oportunidades que aparecem porque o ambiente está melhor. Fazer aqui no Brasil é muito mais custoso, complicado e caro do que em outros países.”
Antes mesmo de as reformas desandarem, com a Operação Lava-Jato pegando em cheio o presidente Michel Temer, o economista Samuel Pessôa já estava pessimista. “O Brasil escolheu a mediocridade. Isso não vai mudar. Vai ficar na armadilha da renda média.”
Os economistas divergem sobre se o envelhecimento da população aproxima o Brasil da estagnação, como nas economias avançadas — com menos braços para produzir e arcar com os custos crescentes da Previdência. “Não acho que a demografia seja um problema”, diz Armínio. “Não há quem me convença que ter mais gente na Índia seja bom. Enquanto a população está crescendo, eles podem ser mais frouxos na Previdência, mas um dia a conta chega.” Marcos Lisboa tem uma visão diferente. “O envelhecimento no Brasil é um dos mais rápidos. Perdemos o bonde no período em que a população com idade para trabalhar cresceu muito, dos anos 50 aos 80.” Ele diz que esse crescimento populacional vai se esgotar antes de o Brasil atingir o patamar de país desenvolvido. “Desperdiçamos o bônus demográfico com coisas que não dão certo. O Brasil ficou velho antes de ficar rico.”