Uma das empresas que apostam no modelo de fazendas verticais é a Pink Farms, de São Paulo. A startup fundada em 2017 montou um galpão de 140 metros quadrados na cidade onde planta mais de 15 variedades de vegetais, como alfaces e folhas em miniatura. A empresa atende cerca de 70 pontos de venda, além de restaurantes. As fazendas verticais vêm ganhando espaço no mundo, por aproximarem a produção do público consumidor. Segundo o cofundador Geraldo Maia, o controle de temperatura, iluminação e umidade permite uma produção mais eficiente e sustentável, com redução de 95% no uso de água. “Não é preciso desmatar e economizamos em transporte, água, fertilizantes. E não é preciso usar agrotóxicos”, diz. O plano agora é abrir novos galpões e aumentar a variedade de plantas. (Leandro Fonseca/Exame)
A preocupação com a sustentabilidade não é de hoje. Mas cada vez mais empresas — grandes e pequenas — têm percebido que é possível criar valor com base em modelos de negócios que têm, na origem, uma visão mais consciente de seus impactos. Gerar efeitos positivos para o meio ambiente, para as comunidades no entorno e para a sociedade pode, sim, ser um bom negócio.
Um estudo recente de pesquisadores da Universidade de Nova York, por exemplo, mostrou que 50% do crescimento do mercado de bens de consumo nos Estados Unidos veio de produtos classificados como sustentáveis.
O resultado está diretamente ligado a uma nova demanda do consumidor, que espera que as companhias sejam mais responsáveis e tenham práticas alinhadas a seus valores. De acordo com um estudo global da consultoria McKinsey, 70% dos consumidores estão dispostos a pagar um valor extra de 5% sobre produtos mais verdes do que outros equivalentes.
Segundo a consultoria, a estratégia ainda pode trazer outros benefícios, como redução de custos e melhoria da produtividade dos funcionários, que se sentem mais engajados. Nas páginas a seguir, conheça alguns exemplos de empresas e iniciativas que apostam em um modelo mais sustentável e buscam trazer impacto social e ambiental.
Bagaço da cana. Desde janeiro deste ano, essa é a matéria-prima do ecoálcool que vai em todos os itens de perfumaria do Grupo Boticário. A mudança é parte da meta da companhia de tornar sua produção cada vez mais sustentável. O resto da cana e outros resíduos de biomassa antes eram queimados ou descartados. O processo também garante a redução na pegada de carbono em mais de 30% em relação ao álcool tradicional. A tecnologia para essa produção foi desenvolvida pela parceira Raízen.
A iniciativa começou com a linha Nativa SPA, em 2019, e agora se estende a todas as marcas do grupo (O Boticário, Eudora, Quem Disse, Berenice?, Vult, Eume, Beautybox e Beleza na Web). “Ampliamos o aproveitamento da cana-de-açúcar de forma integral, em um processo mais tecnológico e ecologicamente correto”, diz Rafael Müller, gerente de pesquisa e desenvolvimento do Grupo Boticário.
Funciona assim. A cada par de Havaianas da coleção Pride, 7% do valor é destinado para a ONG All Out, um movimento global que luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA+. A verba destinada à organização ajudou em ações como apoio emergencial em Beirute depois da explosão que destruiu parte da capital do Líbano, um dos quase 70 países que ainda criminalizam a homossexualidade, e auxílio à Casa Frida, um abrigo para jovens LGBTQIA+ na Cidade do México.
A iniciativa arrecadou no ano passado 260.000 reais com a venda de 150.000 peças. “Somos uma marca democrática na essência. Para 2021, a parceria com a All Out se mantém, com novidades”, afirma Fernanda Romano, CMO da Alpargatas, empresa que controla a marca de chinelos.
A marca brasileira de produtos de limpeza sustentáveis Yvy é uma das que apostam numa revolução verde dos bens de consumo. Fundada em 2018 por dois ex-executivos do banco ABN Amro, a empresa desenvolveu um modelo inovador. No lugar das grandes embalagens, ela entrega os produtos concentrados em cápsulas de 40 mililitros, junto com um borrifador reutilizável. O consumidor enche-o de água, encaixa a cápsula, e o produto é misturado. Um limpador multiuso rende cerca de meio litro.
As cápsulas usadas são retornadas depois. “Conseguimos reduzir em 70% o consumo de plásticos e em mais de 90% a emissão de CO2 do transporte”, diz Marcelo Ebert, que fundou a empresa ao lado de José Luiz Majolo. A palavra de ordem é acabar com os “absurdos” da limpeza. Os produtos são feitos à base de terpeno, um ingrediente natural biodegradável. A Yvy trabalha num modelo de assinaturas flexível e entregas em casa. Hoje são cerca de 5.000 clientes, o triplo do ano passado.
Ter uma alimentação mais sustentável passa pela redução do consumo de carne, e uma parte das pessoas já busca substitutos à base de vegetais. Uma das empresas nessa frente é a Fazenda Futuro, marca lançada em 2019 por Marcos Leta, fundador da fabricante de sucos Do Bem, vendida à Ambev em 2016. Os produtos têm gosto e textura parecidos com carne, mas são feitos de beterraba, ervilha, grão-de-bico e soja. Hoje a empresa vende hambúrguer, linguiça, almôndega, “carne moída” e “frango”.
O faturamento cresceu três vezes em um ano. Em um grande varejista, a marca já responde por 23% das vendas de hambúrguer. O Brasil representa 90% do mercado, mas o plano é crescer na Europa. A entrada nos Estados Unidos está planejada para 2021. “Os vegetais são riquíssimos e temos custos menores no Brasil. É uma oportunidade de dar uma nova cara ao país e não sermos vistos apenas como exportadores de carne, mas de alimentos com valor agregado”, diz Leta.