Bebê, matéria de capa da Exame 1150 (Evan Kafka/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de novembro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 17 de novembro de 2017 às 14h29.
O historiador grego Heródoto a descreveu, o homem medieval contou histórias a seu respeito e o explorador espanhol Ponce de León a teria procurado na Flórida no século 15. A fonte da juventude, capaz de curar todos os males e fornecer o vigor físico da melhor época da vida, nunca passou de um mito, é claro, mas sua presença em diferentes culturas e épocas históricas representa um dos maiores desejos da humanidade: uma panaceia com o poder de garantir a vida eterna. O remédio único está bem distante da realidade, mas os efeitos práticos dessa busca são palpáveis: estamos prolongando cada vez mais nossa presença na Terra.
No começo do século 19, alguém que passasse dos 35 anos já podia ser considerado um sortudo. Em apenas 150 anos, a expectativa de vida no mundo quase dobrou, marcando 62 anos em 1950. De lá para cá, o número cresce aceleradamente. Agora um novo conjunto de descobertas e técnicas que começam a despontar em empresas, startups e universidades — como remédios que tratam apenas as células doentes, edição genética, robótica e inteligência artificial — nos levará a um capítulo inédito na história: até o final deste século, segundo dados da ONU divulgados recentemente, o mundo terá mais de 21 milhões de pessoas com 100 anos ou mais, e o Brasil ampliará sua população de centenários em mais de 110 vezes, para mais de 1,5 milhão. Com as novas tecnologias, os bebês que nascem agora viverão cada vez mais e chegarão à velhice cada vez mais saudáveis.
O desenvolvimento de novos medicamentos terá um papel importante na criação dessa geração centenária. “Com o volume de novas tecnologias que estão por vir, seremos mais efetivos no tratamento de doenças e na redução de complicações médicas”, afirma Felipe Marques Gonçalves, médico e executivo para estratégia de medicamentos biológicos na farmacêutica americana AbbVie. As razões para o otimismo estão em evidências históricas. Em 1900, nos Estados Unidos, casos comuns de diarreia correspondiam à terceira causa de morte humana. É algo impensável nos dias atuais, com antibióticos disponíveis em qualquer farmácia. Estudos internacionais mostram que, de 1986 a 2000, 40% do aumento da expectativa de vida ocorreu em razão de remédios inovadores, que diminuíram em 33% a taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares e foram responsáveis por 83% do aumento do tempo de vida dos pacientes com câncer.
Os novos medicamentos representarão uma revolução na maneira como as doenças são tratadas. Os comprimidos e as soluções injetáveis atuais têm impacto em todo o organismo e provocam efeitos colaterais, como náuseas, dor de cabeça e alergias. A tática possível até aqui foi, para tratar uma área doente, atacar todo o corpo. No entanto, a indústria farmacêutica começa a colher frutos no desenvolvimento da terapia de precisão, por meio da qual apenas a área doente é tratada, reduzindo efeitos indesejáveis e aumentando a eficácia. Isso abre uma janela especial para os tratamentos contra o câncer, oferecendo uma nova opção aos atuais protocolos de tratamento, como a quimioterapia ou a radioterapia, que são altamente invasivos e têm muitos efeitos colaterais.
Uma das apostas da medicina é um tratamento que faz o próprio corpo atacar os tumores, uma área chamada de imuno-oncologia. O corpo humano tem moléculas que acionam o sistema de defesa quando necessário, mas as células do câncer, espertamente, conseguem desativar esse sistema de proteção. A nova técnica reativa as moléculas vigilantes, que dão um sinal verde para que as células de defesa ataquem as células cancerígenas. O mecanismo tem efeitos colaterais mais brandos, e com ele é possível tratar pacientes em que o câncer está em estágio avançado e se espalhou pelo corpo.
Os primeiros estudos sobre esse tratamento são de 1790, quando um grupo de cientistas começou a ativar o sistema imunológico contra tumores, mas só em 1980 uma medicação foi aprovada. Nos últimos cinco anos, as pesquisas levaram ao lançamento de novos remédios. Em 2016, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica elegeu a imuno-oncologia como o maior avanço do ano contra o câncer. Estudos mostram que, no caso de um câncer de pele avançado, em que 75% dos pacientes morrem um ano após o diagnóstico, o novo método de tratamento proporciona uma sobrevida ao paciente de quatro anos. “O outro lado da moeda é que, quanto mais a pessoa vive, mais câncer ela pode ter”, diz Roger Miyake, diretor médico da farmacêutica americana Bristol-Myers Squibb no Brasil. A ideia é que esse tratamento combata a maior quantidade de tumores possível, transformando o câncer em uma doença crônica.
Há outras iniciativas promissoras no combate ao câncer. A maioria delas vem da nanotecnologia, uma área vasta e de fronteira que permite diferentes abordagens no tratamento. Uma dessas possibilidades é o uso de pequenas moléculas desenvolvidas em laboratório como meio de transporte do medicamento até a célula doente, reduzindo a dose necessária do fármaco e o tempo necessário para que o remédio tenha efeito. Tratamentos desse tipo já são utilizados na terapia para os cânceres de mama, pulmão e pâncreas. Essa área, chamada de nanomedicina, tem papel central no Cancer Moonshot, uma iniciativa lançada pelo ex-presidente americano Barack Obama em 2016 para acelerar a descoberta de novos tratamentos contra o câncer. A ideia é conseguir resultados expressivos, que antes seriam esperados em dez anos, no prazo de apenas cinco anos.
O prazo pode parecer pretensioso, mas os americanos estão no caminho. O pesquisador James Tour, professor na Universidade Rice, no Texas, e eleito o cientista do ano em 2013 pela revista R&D, é um pioneiro otimista da nanotecnologia. Em agosto deste ano, ele descreveu, ao lado de sua equipe, uma técnica que destrói células cancerígenas por meio de moléculas com a aparência de um carro, as chamadas nanomáquinas. Quando ativadas, elas perfuram o tumor, eliminando-o em apenas 1 minuto (veja a entrevista com Tour).
Além do câncer, essas moléculas poderão ser usadas para combater infecções causadas por superbactérias, resistentes aos antibióticos atuais. “Tudo isso é muito novo. Publicamos apenas um artigo mostrando como essas nanomáquinas podem destruir células”, afirma Tour a EXAME. “Ainda temos de publicar cinco artigos para que as farmacêuticas prestem atenção nisso. Mas essa será a nova maneira de realizar o tratamento médico.” Segundo a consultoria Grand View Research, a nanomedicina deverá crescer, em média, 11% ao ano durante uma década. O mercado sairá de 138 bilhões de dólares, em 2016, para 350 bilhões, em 2025.
Os tratamentos com base na edição genética também terão um crescimento expressivo no período. Segundo um relatório divulgado no início do mês pela área de pesquisa do banco Citi, o mercado mundial desse setor sairá de 1 bilhão de dólares, em 2016, para 10 bilhões, em 2025. Novamente, os americanos lideram nessa frente. O financiamento de pesquisas relacionadas ao tema pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos foi multiplicado por 7 desde 2014, alcançando 603 milhões de dólares no ano passado.
A técnica de edição do código genético foi criada há cinco anos. O mecanismo, chamado de Crispr, surgiu com a observação do sistema de defesa das bactérias e funciona da seguinte maneira: uma proteína pode ser usada como um canivete para cortar o DNA num ponto específico. A área exata do corte é definida por outra molécula, o RNA, que atua como reconhecedor da sequência de DNA que deve ser rompida. O sistema é útil para que uma bactéria destrua um vírus invasor, mas para os humanos pode ser usado como um meio de contornar doenças hereditárias e degenerativas, como a de Huntington, além do câncer.
Após o corte, as extremidades do DNA tentam reconstruir o gene perdido. A melhor forma de fazer isso é procurando cópias inteiras da sequência na própria célula. Eis que surge o golpe de mestre: os cientistas adicionam à célula cópias alteradas, saudáveis e sem mutação, e assim a sequência é reconstruída de uma forma diferente da original. Seria como reconstruir parte de uma parede de tijolos de barro utilizando blocos de concreto somente porque esses blocos estão à mão — a resistência e a durabilidade seriam apenas consequências não planejadas.
No fim de 2016, a técnica de edição de genes foi usada por pesquisadores chineses para ativar o sistema imunológico e tratar um câncer, na primeira aplicação em um ser humano. Toda essa história se desenrola em meio a uma grande disputa de patentes. As pesquisadoras Emmanuelle Charpentier, do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, na Alemanha, e a bioquímica Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, entraram com pedido de patente da técnica em junho de 2012 por seus estudos em organismos simples, como bactérias. Já o chinês Feng Zhang, do Instituto de Pesquisas Broad, ligado à Universidade Harvard e ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts, entrou com pedido de patente seis meses depois, mas com base em estudos feitos em organismos mais complexos. A disputa está em análise nos tribunais americanos.
Outro benefício da genética é saber qual o melhor tratamento para cada tipo de paciente. Em 2013, um grupo de pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts publicou um estudo demonstrando que a quantidade de peso que se perdia após uma cirurgia gástrica estava relacionada a um gene específico no cromossomo 15. Indivíduos com duas cópias desse gene perderam, em média, 40% do peso, enquanto os que tinham uma cópia do gene apresentaram uma perda de 33%. O único indivíduo da pesquisa que não apresentava esse gene perdeu menos de 30% do peso.
A pesquisa, com base em 1.000 pacientes que passaram pelo procedimento de 2000 a 2011, foi realizada porque muitas vezes os candidatos adequados não tinham o emagrecimento esperado. “A ciência está mostrando que existe um componente de hereditariedade no fracasso dos tratamentos”, diz o cirurgião Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz, de São Paulo. “Com isso, estamos passando da medicina baseada em evidências para a era da medicina personalizada.”
O caminho para a longevidade passa, portanto, por uma alteração radical da medicina. “O hospital do futuro terá cada vez mais modelos preditivos com inteligência artificial para o diagnóstico e para o tratamento”, afirma Enrico de Vettori, sócio das áreas de life science e healthcare da consultoria Deloitte. Dois hospitais belgas, nas cidades de Liège e Ostend, por exemplo, estão firmes nessa corrente. Desde 2016, eles contam com o robô Pepper, fabricado pela empresa belga Zora Bots, na recepção das seções de pediatria e geriatria. Com 1,40 metro de altura e feições humanas, o robozinho consegue indicar o caminho até o consultório, reconhecer sintomas e entreter os pacientes mais entediados ou nervosos.
O Pepper é apenas um símbolo do poder de combinação da robótica com a inteligência artificial em prol de nossa saúde. Deveremos ver mudanças até mesmo dentro dos centros cirúrgicos dos hospitais. As primeiras cirurgias começaram a ser feitas um pouco antes de 1900 e foram necessários 100 anos para uma segunda fase começar: a da cirurgia por vídeo, a laparoscopia. A terceira fase, da cirurgia robótica, foi desenvolvida nas últimas duas décadas.
Um estudo de 2013 revela que a cirurgia robótica diminui em 20% o tempo de hospitalização do paciente em relação à cirurgia tradicional. A próxima onda será a da cirurgia digital. “Ela é a associação da robótica com a capacidade de análise de dados e imagens”, diz Adriano Caldas, presidente da empresa de instrumentação médica Johnson&Johnson Medical Devices no Brasil. Por exemplo: a máquina poderá analisar as características de um tecido para indicar ao cirurgião se aquele é um câncer ou não.
Atuar lado a lado com um médico foi o que pesquisadores da Universidade Stanford, na Califórnia, conseguiram neste ano ao treinar um algoritmo para reconhecer se uma mancha na pele é ou não um câncer maligno. Eles cruzaram 130.000 imagens da internet de várias doenças de pele com as imagens de biópsias feitas pela Universidade de Edimburgo. Com uma amostra das imagens, o algoritmo teve o mesmo desempenho de um painel formado por 21 dermatologistas. “Isso pode ser usado para diagnóstico precoce em áreas onde há poucos médicos”, afirma Roberto Novoa, professor de dermatologia e patologia em Stanford.
A ideia é que um app seja lançado e esteja disponível para pacientes, mas para isso é preciso superar um problema: o algoritmo tende a considerar como caso de câncer fotos de manchas tiradas junto com réguas. É curioso, mas mostra a capacidade de aprendizado da máquina: uma régua foi entendida como chance de câncer apenas porque as imagens de biópsia têm como padrão exibir o tamanho do tumor. “O app não eliminará a necessidade de uma visita ao consultório. O paciente pode ter manchas em lugares de difícil acesso, como nas costas, por exemplo”, diz Novoa.
O objetivo não é a máquina substituir os médicos. “Não vai haver tecnologia capaz de substituir compaixão”, diz Charles Al Odeh, diretor médico da rede de hospitais Americas Serviços Médicos/UHG Brasil. Mas os computadores prestarão um auxílio precioso. O Watson, plataforma de inteligência artificial da empresa de tecnologia IBM, tem entre suas soluções um serviço que analisa as pesquisas científicas mais recentes para oferecer uma lista com os tratamentos oncológicos mais adequados a cada caso.
O resultado é discutido pelo médico com o paciente, contando com mais segurança de que estão trilhando o melhor caminho para uma possível cura. “Se for publicado um estudo 5 minutos antes da consulta e esse estudo tiver uma relevância grande, ele aparecerá no Watson”, diz Mariana Perroni, coordenadora médica da área de healthcare transformation da IBM. “O tratamento não depende mais só do que o médico lembra da época de sua formação ou do que ele viu no último congresso em que conseguiu ir.”
Um estudo da GE Healthcare, fabricante de equipamentos médicos, aponta que até 2020 a quantidade de dados gerados pela área de saúde crescerá 50 vezes, informações que começam a ser exploradas de maneira inteligente. A GE lançou um aplicativo que captura a imagem de uma mamografia, faz uma análise com base em 14 variáveis e responde em tempo real para o técnico se o exame está apropriado para o diagnóstico médico. “Cerca de 60% dos exames de mamografia precisam ser refeitos, uma ineficiência que deve ser atacada”, diz Luiz Verzegnassi, presidente da GE Healthcare na América Latina.
A holandesa Philips desenvolveu uma máquina de patologia digital que posiciona 300 lâminas de exames ao mesmo tempo e faz o escaneamento de cada uma delas em apenas 1 minuto, comparando-as com a base de informações de um software. “Essa solução traz mais velocidade e qualidade para a análise. Além disso, os resultados estão formando um grande acervo global a ser consultado pelos patologistas”, afirma Renato Garcia Carvalho, presidente da Philips no Brasil.
Com a aplicação de big data e inteligência artificial, o setor de saúde assiste à chegada de novos competidores. A tecnologia possibilita que pequenas e grandes empresas do Vale do Silício entrem num mercado dominado por hospitais, grandes conglomerados de equipamentos e pela indústria farmacêutica. “A saúde é um campo fértil para as startups”, diz Renato Velloso Dias Cardoso, sócio-investidor e membro do conselho do Dr. Consulta, uma rede de centros médicos que utilizam um algoritmo para gerir a agenda de consultas. Os olhares se voltam para um segmento conhecido como saúde digital, que envolve software e inteligência artificial. Em 2024, o tamanho desse mercado será de 379 bilhões de dólares, segundo a consultoria Global Market Insights, num ritmo de crescimento anual de 26%. Os aplicativos de saúde vão corresponder à maior fatia desse setor, representando 200 bilhões de dólares.
Um desses aplicativos é o americano Gyant, uma interface disponível em português que faz uma anamnese virtual por meio da área de conversas do Facebook. Ao perguntar sobre peso, idade, altura, histórico médico e sintomas, o sistema é capaz de indicar se o paciente, por exemplo, está com suspeita de infecção pelo vírus zika — o repórter de EXAME, por outro lado, foi colocado no grupo de risco de diabetes e passou a receber avisos sobre clínicas mais próximas para fazer testes de glicemia, além de dicas sobre exercícios físicos.
Esse mercado oferece uma oportunidade não só para empresas pequenas mas também para as grandes companhias do Vale do Silício. A Alphabet, holding que controla o Google, é parceira desde 2015 da Johnson&Johnson na Verb Surgical, uma empresa voltada para o desenvolvimento de equipamentos de cirurgia digital — o primeiro protótipo de um robô foi apresentado em janeiro deste ano. O grupo tem uma iniciativa ainda mais arrojada: a Calico. Lançada em 2013 por Larry Page, cofundador do Google, ao lado de Arthur Levinson, presidente do conselho da Apple, a empresa conta com cientistas e desenvolvedores de software com o objetivo de entender a biologia que controla o ciclo de vida humano. No limite, a pretensão de Page e Levinson com a Calico é descobrir uma fórmula para a imortalidade.
O cofundador do Facebook Mark Zuckerberg e sua mulher, Priscilla Chan, seguem na mesma toada. Por meio da Chan Zuckerberg Initiative, o casal se comprometeu com 600 milhões de dólares para o financiamento de pesquisas de saúde, envelhecimento e longevidade na Universidade Stanford e nos campi da Universidade da Califórnia em São Francisco e em Berkeley. “Nosso objetivo é juntar um time de cientistas e engenheiros para construir ferramentas transformadoras que vão abrir uma nova era de progresso acelerado na ciência e na saúde”, disse em 2016 Priscila, que é formada em medicina e atua como pediatra. O casal Zuckerberg está particularmente interessado no potencial da edição genética para a cura de doenças, apoiando as pesquisas da professora Doudna com o Crispr.
A busca de soluções capazes de fazer viver mais seduz tanto os nomes mais badalados do Vale do Silício como também os investidores que antes atuavam nos bastidores. Em 2014, Joon Yun, sócio da Palo Alto Investors, fundo que já colocou 1 bilhão de dólares em empresas da área de saúde, lançou um prêmio de longevidade. Uma dezena de equipes de cientistas se inscreveu para tentar ganhar o cobiçado cheque de 1 milhão de dólares.
Para isso, há alguns desafios, como estender o tempo de vida de um mamífero qualquer e reverter os batimentos cardíacos de um animal idoso para o padrão de um jovem. “Começamos a procurar soluções de longevidade porque é o que de fato as pessoas querem”, disse Yun por telefone a EXAME, de seu escritório em Palo Alto. “Acredito que manter a resiliência do corpo tem de ser o foco das pesquisas. Essas são as tecnologias mais promissoras.” O prazo para a corrida entre os cientistas termina em 31 de dezembro de 2019.
No entanto, Yun, Page e os Zuckerberg sofreram um revés importante no início deste mês. Pesquisadores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, provaram que é matematicamente impossível evitar o envelhecimento. O corpo humano está preso entre duas situações antagônicas. Ao envelhecermos, nossas células perdem a função para a qual foram feitas — é por isso que ficamos com os cabelos brancos, por exemplo — e ficam mais lentas. Só que, ao mesmo tempo, elas começam a competir com outras células que mantêm uma taxa de multiplicação acelerada, aumentando os riscos de mutação e os casos de câncer pelo corpo. Bactérias e seres mais simples não apresentam essa condição. “Se tivéssemos de lidar com apenas um desses problemas por vez, conseguiríamos parar de envelhecer”, afirma Paul Nelson, um dos autores do estudo. “Isso não quer dizer que não seja possível aumentar a expectativa de vida. Mas, no estágio atual, não há solução possível.”
A questão será, portanto, sobre como envelhecer com a melhor qualidade de vida possível. Até 2100, a população mundial com 65 anos ou mais deverá corresponder a 22,3% do total. Atualmente, a terceira idade representa 8,5% dos 7,6 bilhões de habitantes do planeta. Isso acarretará mudanças profundas na sociedade. Os regimes de Previdência precisarão ser revistos, assim como a infraestrutura das cidades. A mobilidade é um aspecto-chave da qualidade de vida das pessoas mais velhas. “No geral, embora seja provável que vivamos mais anos com alguma deficiência, isso se dará com uma deficiência leve e moderada, e não com uma deficiência grave”, afirma Karen Glaser, diretora do centro de envelhecimento global do King’s College de Londres.
A multinacional de engenharia Arup, em relatório recente sobre o tema, lembra que os serviços relacionados ao transporte deverão ser planejados e entregues tendo em mente que os mais velhos necessitam de ambientes que compensem suas mudanças físicas. Pode parecer óbvio, mas sem a infraestrutura adequada será mais difícil manter a população idosa economicamente ativa. Mais da metade dos jovens em 18 países pensa em parar de trabalhar depois dos 65 anos. Uma parcela de 14% pretende se aposentar entre 75 e 79 anos, segundo dados do Oxford Institute of Ageing. Para boa parte desses idosos do futuro, ainda sobrariam 40 anos ou mais de aposentadoria. Tempo suficiente para colocar os pés para o alto, aproveitar a vida, curtir os tataranetos e esperar a morte chegar — talvez com quase 150 anos.