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Não se pode elogiar Dilma Rousseff...

Falar bem da presidente Dilma Rousseff virou um problema — para Lula, para José Dirceu, para o PT e talvez para a própria Dilma

Lula e Dilma na festa do PT: antes, ruim era falar mal; agora, o problema é falar bem (Evaristo Sá/AFP)

Lula e Dilma na festa do PT: antes, ruim era falar mal; agora, o problema é falar bem (Evaristo Sá/AFP)

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Da Redação

Publicado em 16 de junho de 2011 às 13h07.

Vai ficando cada vez mais difícil, nos dias que correm, dizer alguma coisa de positivo sobre a presidente Dilma Rousseff ou sobre o seu governo sem criar um problema — ou, mais exatamente, sem criar um problema para Dilma.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gosta. O ex-ministro José Dirceu não gosta. Este ou aquele grupo do PT não gosta. Não está claro, nem mesmo, se a própria presidente gosta. O fato é que falar bem das decisões que vêm sendo tomadas no Palácio do Planalto passou a incomodar.

Suspeita-se, por trás dos julgamentos favoráveis, a intenção de estabelecer uma comparação maligna entre Dilma e Lula: elogia-se a presidente ou o que ela faz, segundo quem pensa assim, para estabelecer um contraste com o antecessor e mostrar o quanto ele era pior que a sucessora.

As manifestações a favor, na verdade, seriam um vasto exercício de intriga — teriam o objetivo disfarçado de criar um clima de hostilidade entre Dilma e Lula para acabar jogando um contra o outro. Haveria nessa conspiração, enfim, a tentativa de atrair a nova presidente para uma “agenda de direita” ou uma “agenda da mídia”, ou para as duas, não se sabendo qual delas seria a pior. Encantada com os aplausos que tem recebido da elite conservadora deste país, Dilma passaria a governar para a elite conservadora deste país.

O raciocínio é bem ruinzinho, mas está longe de ser incomum no PT. Faz parte de sua natureza reagir com desconfiança hostil a qualquer manifestação de apoio dirigida a qualquer pessoa que não seja Lula; falar bem de Dilma não se encaixa no evangelho segundo o qual o ex-presidente é o princípio e o fim de todas as coisas.

Vêm, então, com as perguntas de sempre. O que há, no fundo, por trás desses elogios? A quem interessam os aplausos? Quais são os seus verdadeiros motivos? Quem sai ganhando com isso tudo? Pouco importa, aí, que os comentários favoráveis à presidente envolvam questões objetivas, em relação às quais existe amplo consenso.


Dilma é festejada por ter adotado uma abordagem racional na decisão sobre o salário mínimo ou por ter defendido a estabilidade fiscal ao manifestar a intenção — só isso, a intenção — de cortar gastos públicos não indispensáveis. É aplaudida por comparecer a seu local de trabalho todos os dias.

Foi elogiada por dizer que não concorda com a condenação à morte, a pedradas, de uma mulher acusada de adultério no Irã — ou por chefiar um governo que já completou um mês e meio sem qualquer discurso de apoio a ditaduras de Terceiro Mundo. O que haveria de mau nisso tudo?

No tempo de Lula, como todos se lembram, a mídia era perversa porque fazia críticas a ele e a seu governo; agora, no tempo de Dilma, é perversa porque faz elogio. Talvez o melhor, para o seu sossego, seja que ninguém fale mais nada de bom a seu respeito.

O ex-presidente Lula parece estar se tornando um especialista na prática de atirar nos feridos. Dias atrás, numa visita à África, abriu fogo contra o atribulado ex-presidente-ditador do Egito, Hosni Mubarak, que lutou para agarrar-se ao cargo diante de furiosas manifestações de rua e da má vontade da comunidade internacional.

Tudo bem, mas em 2003, em viagem ao Egito, Lula endeusou Mubarak, que na ocasião era tão ditador quanto era há uma semana, como um estadista dedicado à “paz no mundo, ao desenvolvimento e à justiça social”.

Pior que isso: ainda em 2009, junto ou enrolado por seus ministros de Relações Exteriores, apoiou para o cargo de diretor-geral da Unesco um cidadão que ocupava há 22 anos o cargo de “ministro da Cultura” do Egito — como se fosse possível a alguém defender educação, ciência e cultura e, ao mesmo tempo, estar há mais de 20 anos no ministério de uma ditadura.

Para agradar ao Egito, Lula conseguiu o prodígio de ficar contra o brasileiro Márcio Barbosa, respeitado funcionário da Unesco e também candidato ao cargo. Mas hoje Mubarak já não vale nada — é página virada no folhetim lulista. Pau nele.

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