Revista Exame

Não há agenda positiva no Brasil – nem no futebol

Está difícil oferecer ao público uma leitura animadora e que ajude a elevar a autoestima geral. Afinal, os fatos disponíveis sobre o país são uma tristeza


	Alexandre Tombini: entre o ruim e o ruim, o Banco Central optou por não fazer nada
 (Wilson Dias/Agência Brasil)

Alexandre Tombini: entre o ruim e o ruim, o Banco Central optou por não fazer nada (Wilson Dias/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2016 às 17h24.

São Paulo — Esta revista não está aqui para atrapalhar a vida de ninguém, pelo amor de Deus — e por isso mesmo o diretor de redação e seus principais colaboradores solicitam, com frequência, que os profissionais aqui em atividade colaborem quanto for possível para oferecer ao público itens de leitura que sejam animadores, afirmativos e favoráveis à autoestima geral.

É nossa maneira de propor uma agenda positiva, por assim dizer, como a que o ex-presidente Lula cobra da presidente Dilma Rousseff e os marqueteiros encarregados de socorrer a “imagem” do governo se dedicam diariamente a construir. O problema para a redação, neste esforço, é que os artigos animadores etc. etc. precisam, obrigatoriamente, se subordinar a outra exigência: têm de respeitar os fatos.

Aí fica difícil, porque os fatos disponíveis no momento são uma tristeza. A não ser que se invente alguma coisa (e a regra é clara: é proibido inventar nesta publicação). Em matéria de economia, por exemplo, não existe nada de bom a registrar. Na área de negócios é a mesma coisa. Política, talvez? Nem pensar. Questões da vida pública? Pior ainda.

Temas de interesse social, como saúde, segurança pública, saneamento básico? Esqueçam. A verdade é que não está dando para escrever nada de positivo nem sobre futebol.

De que jeito, se a China acaba de exterminar com seu talão de cheques meio time (e talvez mais ainda) do Corinthians, o último campeão brasileiro, como se estivesse comprando a garotada sub-20 do Brejo Morto F.C.? É demais: até nisso a China perturba a vida deste país.

Os acontecimentos na área da economia, que fazem parte das prioridades editoriais da revista, não mostraram nada de diferente nos dias que precederam a presente edição; ainda não foi agora, nem de longe, que apareceu alguma oportunidade decente para a aplicação de nossa agenda positiva.

O que mais chamou a atenção, pelo contrário, foi uma nova comprovação dos infortúnios que rolam na taxa de juro — resultado direto da armadilha especialmente malvada na qual o governo enfiou a política monetária do Brasil por causa dos desatinos que comete em tudo aquilo que faz hoje e tem feito nos últimos cinco anos.

O governo Dilma presenteou o país com uma recessão de 3,5% no recém-terminado 2015, isso depois de ter conseguido crescimento zero em 2014. Agora o FMI, repetindo o que os mercados já vêm dizendo há horas, previu que em cima desses dois desastres virá um terceiro: uma nova recessão de 3,5% em 2016.

É algo enorme. Nenhum governo brasileiro nos últimos 60 anos conseguiu produzir a calamidade de três anos seguidos de recessão, com a possibilidade de um quarto pela frente. Ao mesmo tempo, o que fazer com a desgraça suplementar da inflação, que já começa a roncar, excitada, na casa dos 11%?

Eis a armadilha. Aumentar os juros, que a 14,25% ao ano já estão entre os mais altos do mundo, seria uma medida realmente eficaz para combater a inflação? É duvidoso, pelos resultados obtidos até agora — e politicamente muito duro, diante do presente naufrágio econômico que os governos Dilma e Lula criaram. Não aumentar, diante da recessão, vai trazer o crescimento econômico de volta? É certo que não.

Resultado: é ruim com chuva e é ruim com sol. Entre o ruim e o ruim, o Banco Central optou pelo que pode ser o pior. Decidiu não fazer nada e esperar por “alguma coisa”, sabe-se lá qual, deixando os juros exatamente onde estavam — a cada dia a sua agonia.

Quem sabe a inflação vai embora sozinha? Quem sabe alguém encontra a chave que liga a “nova matriz econômica”? Quem sabe a população pare de usar tanto os hospitais, a luz elétrica e outros serviços que dão tanta despesa? De mais a mais, o presidente do BC sabe perfeitamente que Dilma não queria aumentar a taxa de juro — já quis, não quis mais, voltou a querer e hoje não quer de novo.

Na dúvida, preferiu optar pela manutenção de seu emprego. O que pode sair de bom disso tudo? Nada. Conclusão: dias difíceis à frente, para o trabalho aqui em EXAME.

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