Gim Vitória Régia: prêmios internacionais e expectativa de crescimento de 100% neste ano (Leo Cavazzana/Divulgação)
GabrielJusto
Publicado em 19 de agosto de 2021 às 05h19.
Última atualização em 23 de agosto de 2021 às 15h52.
Pode confessar: por muitas vezes, se não todas, você escolheu a segunda opção ao ouvir do bartender a pergunta do título desta reportagem. Seja para pedir um coquetel mais elaborado, seja para um simples gim-tônica, ainda que o preço esteja um pouco mais salgado. Em 2020, um levantamento da consultoria Nielsen concluiu que, pelo menos em relação às bebidas destiladas, apenas 15% dos brasileiros preferiam marcas nacionais.
Se você formou seus hábitos etílicos há mais de dez anos, provavelmente faz parte dos outros 85%, os que preferem os importados. Na época, os destilados produzidos no Brasil eram raridade em um mercado dominado por conglomerados como Diageo e Pernod Ricard. Na última década, porém, a versatilidade do gim conquistou o paladar brasileiro, impulsionando um mercado que cresce vertiginosamente e deve continuar nesse ritmo.
Em 2017, a International Wine & Spirits Research (IWSR) registrou um crescimento de 111% no consumo de gim no Brasil. Três anos depois, mesmo em meio à pandemia, só a Diageo cresceu 33% no país — resultado puxado pelas marcas de uísque, é verdade, mas também pelas vendas de dois dígitos com Tanqueray e de três dígitos com Gordon’s, os dois gins que a companhia comercializa por aqui. E até 2025 o consumo mundial da bebida deverá crescer 4,5% ao ano, impulsionado principalmente por qual país? Isso mesmo, o Brasil.
Com uma demanda crescendo vertiginosamente em um território de tradição cachaceira, com mais de 25.000 alambiques registrados, o resultado é uma enxurrada de novas marcas independentes. Entre as mais bem-sucedidas novidades nacionais está a Amázzoni. Comandada pelo italiano Arturo Isola e seu sócio, Alexandre Mazza, a destilaria instalada em Resende, no Rio de Janeiro, foi lançada em 2017 e, um ano depois, eleita Produtora Artesanal do Ano no World Gin Awards, em Londres. “Esse prêmio foi uma injeção de confiança. Mesmo sem tradição, ali nós vimos que poderíamos ser protagonistas mundiais”, conta Isola, que viu sua produção saltar de 500 para atuais 15.000 garrafas por dia, a maior da América Latina.
Apostar no reconhecimento internacional, aliás, é a principal estratégia das marcas nacionais para convencer o público. Quando lançaram sua primeira vodca, em 2013, depois de muitos cursos, viagens e testes, os irmãos Kalvelage sabiam que tinham um produto de ótima qualidade. “Resolvemos mandar uma garrafa para o San Francisco World Spirit Awards (SFWS) e acabamos empatados com a Belvedere. Entendemos aí que participar de campeonatos no exterior poderia ser um meio de comunicação efetivo”, conta o sócio Márcio Kalvelage. De lá para cá a marca acumula 20 medalhas de diferentes premiações, incluindo uma prata e um ouro no Cathay Pacific Hong Kong International Wine & Spirit Competition, o maior campeonato de bebidas da Ásia.
A chancela dos concursos internacionais cacifa as marcas brasileiras no mercado externo. Entre Estados Unidos e Europa, a Amázzoni já exporta para 16 países e espera, até o fim do ano, ter 10% de seu faturamento vindo de fora do Brasil. Orgânico e sustentável, o gim Vitória Régia também foi premiado com ouro, no SFWS e no World Gin Awards, e viu suas vendas crescer 70% em 2020. Atualmente, já pode ser encontrado na Itália, França, Polônia e no Reino Unido, o que deve ajudar a marca a alcançar 100% de crescimento neste ano.
“Temos milhares de gins na Inglaterra, mas nós encontramos um gap: não existia uma opção de gim orgânico e sustentável em uma faixa de preço mais acessível”, explica o inglês Hamilton Lowe, sócio da Carmosina, que fabrica o Vitória Régia, a cachaça Yaguara e já prepara lançamentos para o segundo semestre — no Brasil e no exterior. “Os gringos amam os produtos brasileiros. Muitos jovens brasileiros passaram a acreditar que poderiam fazer produtos de extrema qualidade e estão fazendo. E o câmbio atual favorece esse movimento.”
Entre esses jovens estão os amigos Guilherme Junqueira e Nick Walker, que em 2020 lançaram nos Estados Unidos a Cãna, uma cachaça tipo exportação — mas também disponível no Brasil. Ao dar falta de uma cachaça “que desse orgulho de apresentar aos amigos gringos”, a dupla resolveu desenvolver uma bebida que, de fato, representasse o Brasil no exterior, além de mostrar para os brasileiros que a nossa pinga também pode ser refinada. “O brasileiro preferia os importados porque não havia bons produtos nacionais. Agora vamos trazer a galera que bebe caipirosca para beber caipirinha”, brinca Walker.