Bart Van Ark: "Um corte de impostos sozinho não vai gerar vagas de emprego" (Divulgação)
Filipe Serrano
Publicado em 28 de novembro de 2016 às 05h55.
Última atualização em 28 de novembro de 2016 às 05h55.
São Paulo — A redução da força de trabalho devido ao envelhecimento da população será uma barreira para Donald Trump fazer a economia americana crescer além de 2% ao ano, o nível atual. A avaliação é de Bart Van Ark, economista-chefe do Conference Board, um dos mais importantes institutos de pesquisa econômica americano.
Exame - O senhor mudou suas projeções após a eleição americana?
Bart - A verdade é que não. Mesmo que Donald Trump consiga aprovar um programa de infraestrutura em 2017, as grandes obras só devem começar em 2018. Isso leva tempo. Uma mudança significativa só vai ocorrer se as reformas aumentarem a produtividade das empresas no médio prazo. Aí podemos esperar um crescimento maior, de 3% ou 4%, como diz Trump. Isso é possível? Sim. É provável? Não. É por isso que não mudei as projeções.
Exame - Faz sentido cortar impostos para gerar empregos?
Bart - Se você falar com as empresas, é claro que elas vão dizer que gostariam de pagar menos impostos. Mas a redução sozinha não vai criar empregos nem atrair investimentos. Ela tem de ser acompanhada de uma grande reforma fiscal para simplificar o sistema de impostos. Os republicanos tradicionais, como o presidente da Câmara Paul Ryan, têm algumas propostas sobre uma reforma fiscal. Mas ela pode levar bastante tempo para ser aprovada.
Exame - O investimento em infraestrutura, defendido na campanha, poderá estimular a economia?
Bart - É muito difícil fazer a economia americana crescer acima de 2%, por causa de fatores estruturais. A população está envelhecendo e a oferta de mão de obra está decaindo. A única coisa que tem impulsionado o PIB é o consumo. Se Trump cortar impostos e investir em infraestrutura, não vai acrescentar muito ao crescimento porque teremos os mesmos problemas. É preciso ser cauteloso.