Fábrica da Kimberly-Clark no interior de São Paulo: em 2015, a caldeira movida a gás natural será substituída por uma a biomassa (Germano Lüders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2014 às 07h00.
São Paulo - Em 2015, entrará em operação em uma das cinco fábricas da Kimberly-Clark, fabricante de artigos de higiene pessoal, como lenços de papel e fraldas descartáveis, uma caldeira movida a biomassa.
O equipamento que gera vapor — energia essencial à operação de várias indústrias — será instalado na unidade de Mogi das Cruzes, em São Paulo, e funcionará à base de uma mistura de matéria orgânica composta, entre outras coisas, de fibras de celulose que sobrarão do processo de fabricação do papel higiênico Neve.
Essa não é a primeira aposta da companhia na geração de vapor com fontes renováveis. Em 2008, a Kimberly-Clark trocou a caldeira que até então utilizava na fábrica de Correia Pinto, em Santa Catarina — movida a óleo diesel —, por uma a biomassa.
E foram os bons resultados dessa mudança que fizeram com que a liderança da empresa decidisse que, na instalação de uma nova caldeira, a fonte renovável seria a primeira opção a ser cogitada.
“A troca não só reduziu nossas emissões de gases causadores do efeito estufa como foi uma boa solução para nossos resíduos”, diz Janaína Rodrigues, gerente de sustentabilidade da Kimberly-Clark para a América Latina.
A empresa não é a única a adotar as caldeiras movidas a energia verde. A fabricante de papel e celulose Klabin, a fabricante de cosméticos Natura e a de bebidas Ambev, entre outras, vêm usando a biomassa em suas caldeiras, em vez de fontes fósseis, como o diesel, o óleo pesado, chamado de BPF, e o gás natural.
No caso da Kimberly-Clark, a adoção da biomassa diminuiu as emissões de gases do efeito estufa em 22% na fábrica de Santa Catarina. Isso fez com que a meta corporativa de 5% de redução de CO2 fosse atingida em 2013, dois anos antes do previsto.
Mas além dos ganhos ambientais, já esperados, a substituição alivia o bolso das empresas: estima-se que a economia gerada com uma caldeira a biomassa chegue a 20%. Para a Kimberly-Clark, a troca representou uma economia de 2 milhões de reais por ano na operação da fábrica.
No caso da Ambev, apenas em 2013, 24 000 toneladas de CO2 deixaram de ser emitidas graças às 28 caldeiras movidas a casca de coco de babaçu e de arroz e a cavacos de madeira que estão distribuídas em dez das 33 fábricas da empresa no Brasil. Se fosse compensar esse volume de emissões, a fabricante de bebidas precisaria plantar 147 000 árvores por ano.
Diferentemente da Ambev, que administra 26 de suas 28 caldeiras verdes, muitas indústrias têm optado por entregar a gestão desses equipamentos a empresas médias especializadas no assunto. Isso porque a matéria orgânica não é tão uniforme quanto o diesel ou o gás natural, e queimá-la exige cuidados.
“A qualidade da biomassa varia com o clima e, se ela estiver úmida, por exemplo, a eficiência da geração de vapor é afetada”, diz Fortunato Santoro, superintendente da Bioenergy, empresa paranaense que, numa espécie de regime de comodato, é dona da caldeira da Kimberly-Clark e ganha dinheiro ao vender o vapor para a empresa.
A complexidade da gestão das caldeiras a biomassa não é o único fator que as empresas levam em conta na hora de adotá-las. Há outro ponto crucial: a oferta da biomassa nas imediações da fábrica. Dependendo da distância, os gastos com transporte podem jogar por terra a economia obtida com o abandono dos combustíveis fósseis.
Apesar do interesse crescente das empresas pelas caldeiras verdes, a verdade é que esse mercado ainda é pouco conhecido — e números precisos relacionados a ele, inexistentes. Quantas caldeiras a vapor existem hoje no país e qual percentual exato delas já é movido a biomassa? Nenhuma associação empresarial se atreve a dizer. Há, porém, dois consensos entre os especialistas.
O primeiro é que a maioria desses equipamentos ainda opera à base de combustíveis fósseis. O segundo é que, por isso, esse mercado deverá crescer muito nos próximos anos à medida que os benefícios conquistados pelas empresas que fazem a troca se espalharem. Mas que ninguém espere que essa expansão ocorra num ritmo, digamos, avassalador.
E isso pelo simples motivo de que ele dependerá, pelo menos por enquanto, do voluntarismo das companhias. “Ao contrário dos Estados Unidos e da Europa, não temos aqui uma legislação que incentive as companhias a adotar fontes renováveis”, diz Celso Oliveira, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biomassa e de Energia Renovável.