Usuário de celular na Itália: a menor oferta levou
Da Redação
Publicado em 15 de março de 2011 às 11h13.
O mexicano Carlos Slim Helú acumulou nos últimos anos uma série incrível de sucessos. A partir dos anos 90, quando comprou a maior operadora de telefonia fixa de seu país, a Telmex, Slim construiu um império que se espalhou rapidamente pela América Latina.
No Brasil, com a aquisição de BCP e Embratel e a entrada no bloco de controle da Net, ele conseguiu algo que todos os empresários de telecomunicações almejam, mas poucos alcançam -- explorar a convergência entre as telefonias fixa e móvel, a internet e a televisão.
Após a seqüência de vitórias, Slim deixou o mundo de queixo caído em abril, quando tirou do investidor americano Warren Buffett o posto de segundo homem mais rico do globo na lista anual da revista Forbes -- ele só perde para Bill Gates, fundador da Microsoft. No mesmo mês, lançou-se ao que seria um dos mais ousados passos de sua carreira, a compra da Telecom Italia, quinta maior operadora da Europa.
Caso fosse bem-sucedida, a operação serviria para catapultar seu poder de fogo no xadrez global das telecomunicações, mas faltou combinar com os espanhóis. No final de abril, a Telefónica e um consórcio de empresas italianas anunciaram a aquisição da Olimpia, holding que controla a Telecom Italia, por 4,1 bilhões de euros. Slim, desta vez, perdeu.
A briga entre espanhóis e mexicanos para entrar no bloco de controle da Telecom Italia é o último capítulo da mais barulhenta disputa do momento no mercado de telecomunicações. O palco dessa briga vai do rio Grande, na fronteira entre Estados Unidos e México, à Terra do Fogo, na Argentina.
As empresas de Slim -- Telmex e América Móvil -- e o grupo Telefónica tornaram-se nos últimos anos os maiores investidores do mercado latino-americano. A briga começou a esquentar em 2000, quando a Telefónica decidiu investir no México. Foi quando Slim partiu com mais agressividade para encarar a rival em outros países. Em comum entre os dois conglomerados está o hábito de crescer rapidamente por meio de aquisições.
Os espanhóis desembolsaram mais de 200 bilhões de reais em compras e desenvolvimento de infra-estrutura desde 1990. A América Latina já representa mais de 40% de seu faturamento. Já os mexicanos con trolam mais de 20 empresas na região. O leilão da Telecom Italia, portanto, deve ser lido nesse contexto.
O maior interesse dos dois grupos era adquirir o controle dos ativos italianos na América Latina -- e, com isso, impedir o fortalecimento do concorrente. "Essa aquisição representa, principalmente, a possibilidade de barrar o avanço de nosso rival em mercados estratégicos", diz um alto executivo do grupo Telefónica, que pediu para não ser identificado.
A venda da Telecom Italia desencadeou uma onda de especulações sobre novas aquisições no mercado brasileiro. Duas delas ganharam força. A primeira é a possível fusão da Brasil Telecom com a Oi, movimento que criaria um opositor nacional com forças para enfrentar mexicanos e espanhóis.
Momentos após o anúncio da venda, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, voltou a defender publicamente a idéia. A outra especulação é sobre o futuro da Vivo. Nesse caso, é impossível encontrar entre os especialistas um consenso sobre a conclusão mais provável -- se os espanhóis compram a fatia dos portugueses ou o contrário.
Espera-se, porém, que Carlos Slim não assista passivamente ao fortalecimento de seu rival. Entre seus alvos mais prováveis estão a Telemig Celular e a Amazônia Celular, empresas colocadas à venda desde 2005. Em meio a tanta indefinição, uma certeza -- a disputa entre espanhóis e mexicanos está longe de terminar.
E, SEGUNDO OS ANALISTAS, o mais estratégico desses mercados é o Brasil. Ao fazer uma oferta pela Telecom Italia, Slim tinha como principal objetivo ganhar o controle da segunda maior operadora de celular do país, a TIM, controlada pelos italianos -- e, com isso, dominar quase 50% do mercado local de telefonia móvel.
Slim havia tentado comprar a TIM separadamente no fim do ano passado, mas sua oferta foi recusada. O flerte de Slim com a Telecom Italia acendeu a luz amarela em dois lugares. O primeiro foi Roma. O governo italiano via com indisfarçável mau humor a possibilidade de ter sua empresa de telecomunicações nas mãos de um investidor de fora da Europa.
O outro lugar, claro, foi Madri, onde o presidente da Telefónica, César Alierta, decidiu, em parceria com investidores italianos, barrar o caminho de Slim. A união de interesses deu certo. Mesmo com uma oferta 400 milhões de euros menor que a de Slim, a proposta da Telefónica levou a melhor. Com a compra, Alierta ganha poder no mercado brasileiro.
Somadas, TIM e Vivo (empresa da qual os espanhóis têm metade das ações, em sociedade com a Portugal Telecom) atingem uma participação de mercado de 54,2% na telefonia móvel (veja quadro). Para evitar problemas regulatórios, os dois representantes da Telefónica no conselho de administração da Telecom Italia não opinarão sobre a estratégia da TIM no Brasil. Os espanhóis, porém, ganham um poder de veto que pode se provar crucial caso Slim volte a fazer ofertas pela operadora.