Revista Exame

Mais pessimistas que os estrangeiros

Para o presidente da Brain, entidade que promove o Brasil como polo de negócios, os investidores acreditam no potencial do país, apesar da ação errática do governo

Paulo Oliveira, da Brain: "O governo precisa ter uma visão estratégica, não tática" (Reprodução/Febraban)

Paulo Oliveira, da Brain: "O governo precisa ter uma visão estratégica, não tática" (Reprodução/Febraban)

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Da Redação

Publicado em 17 de agosto de 2012 às 18h09.

São Paulo - O crescimento decepcionante do PIB desde 2011 deixou a sensação de que a lua de mel entre os investidores estrangeiros e o Brasil está chegando ao fim. Na avaliação de Paulo Oliveira, presidente da Brain, entidade privada que busca promover o Brasil como um polo global de negócios, esse não é o caso.

Para ele, os estrangeiros continuam achando o país atrativo. “Com algumas medidas simples, o ambiente de negócios poderia ficar ainda mais atraente”, diz.

1) EXAME - O Brasil saiu de moda?

Paulo Oliveira - Não. O país ainda oferece oportunidades de ganho no longo prazo, mas é natural que os investidores privilegiem a segurança e a rentabilidade em épocas de crise. Não vejo os estrangeiros duvidarem do nosso potencial. Nós, brasileiros, estamos mais pessimistas com o país do que eles.

2) EXAME - O senhor não tem ouvido parte dos estrangeiros dizer que o país promete e não entrega?

Paulo Oliveira - Depois de crescer mais de 7% em 2010, o mundo passou a enxergar o Brasil como a China ou a Índia. Por isso, o avanço de menos de 3% de 2011 deixou a sensação de que a rea­lidade não batia com o discurso. A reação ao resultado de 2010 é que foi otimista em excesso.

3) EXAME - O que diferencia o Brasil?

Paulo Oliveira - O país tem um conjunto de fatores difícil de encontrar em um só lugar. São recursos naturais, independência energética, mercado interno grande e uma cultura capitalista de negócios muito mais parecida com a dos Estados Unidos e da Europa do que os outros emergentes de grande porte, como China, Índia e Rússia. O que nos tem faltado é uma política estratégica de longo prazo.

4) EXAME - O que o senhor quer dizer com isso?

Paulo Oliveira - O potencial de retorno dos investimentos no Brasil é altíssimo, mas não dá para dourar a pílula. Não há alinhamento nas medidas do governo, que parecem erráticas. Se há problemas no câmbio, aumenta-se o IOF. Se a compra de carros cai, diminui-se o IPI. O governo passa a impressão de que trabalha em partes, sem pensar no todo.

5) EXAME - É a falta de uma estratégia que explica a posição vexatória do Brasil em rankings internacionais que avaliam o ambiente de negócios? 

Paulo Oliveira - Os relatórios que nos posicionam assim são mal construídos, inclusive o mais tradicional deles — o Doing Business, do Banco Mundial. Há anos nos dão a mesma nota em segurança jurídica, alegando que a chance de um acionista minoritário interpelar uma empresa na Justiça é baixa. Isso claramente está errado.

6) EXAME - Mas a complexidade burocrática que esses mesmos relatórios apontam é real, não?

Paulo Oliveira - Sim, claro, o ambiente de negócios no Brasil é travado por uma infinidade de razões, mas algumas delas poderiam ser revertidas facilmente. 

7) EXAME - De que forma?

Paulo Oliveira - Começar um negócio no Brasil leva quatro meses. Demora porque, em São Paulo, a licença de funcionamento de uma empresa passa 90 dias de secretaria em secretaria. Se o processo fosse integrado, ganharíamos duas posições no ranking do Banco Mundial.

Se as várias licenças exigidas para uma construção também fossem aprovadas em um único lugar, seriam mais sete posições. Só essas duas medidas nos levariam do 126º para o 117º lugar no Doing Business.

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