Revista Exame

Lupatech apresenta a maior perda do ano

Pressionada por dívidas e sem dinheiro em caixa, a Lupatech tem a maior queda do ano entre as empresas listadas no país

Fábrica da Lupatech: entre as soluções está a entrada de um novo sócio (Germano Lüders/EXAME)

Fábrica da Lupatech: entre as soluções está a entrada de um novo sócio (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 21 de dezembro de 2011 às 08h27.

São Paulo - Conferências para a apresentação de resultados trimestrais de empresas abertas costumam se resumir a um ritual protocolar sem espaço para discussões acaloradas.

O encontro realizado em 11 de novembro pela gaúcha Lupatech, fabricante de válvulas e cabos utilizados em plataformas de exploração de petróleo, foi uma exceção.

A conversa ficou especialmente tensa quando os executivos da empresa divulgaram o quarto trimestre consecutivo de prejuízo, que chegou a 116 milhões de reais — 2 900% maior que o registrado no período anterior.

A preocupação dos investidores se transformou em irritação assim que eles tomaram conhecimento de uma dívida de 67 milhões de reais, com vencimento em dezembro.

Trata-se do dobro do valor hoje no caixa da Lupatech. Pressionados, os representantes da empresa sugerem a venda de uma operação de metalurgia, por 14 milhões de reais. “Isso é troco perto do que a companhia precisa”, disse um investidor europeu. 

A impaciência e o ceticismo do merca­do se refletiram na desvalorização dos papéis da Lupatech — cuja situação dramática contrasta com as expectativas que cercaram a empresa nos últimos anos. Para analistas e muitos investidores, a Lupatech, fundada em 1980 pelo gaúcho Nestor Perini, seria uma das grandes beneficiadas pela exploração do petróleo do pré-sal.

As coisas foram bem até a crise de 2008, quando a Petrobras, sua maior cliente, decidiu postergar projetos. De lá para cá, a situação financeira da Lupatech rapidamente se deteriorou.

Em 2011, suas ações sofreram a maior desvalorização entre as companhias mais negociadas da bolsa brasileira — 72,7% nos últimos 12 meses (encerrados em 5 de dezembro).

O último grande golpe ocorreu no final de novembro, quando a maior acionista da Lupatech, a Lupapar, holding controlada por Perini, teve parte de suas ações vendidas.


Os papéis foram vendidos pelo banco JPMorgan para liquidar as garantias — no caso, as próprias ações — de um empréstimo tomado por Perini no mercado para adquirir pelo menos 5 milhões de reais em ações da Lupatech­ em 2008.

Além de ajudar a derrubar o valor da companhia, a venda reduziu a participação de Perini no capital da Lupatech — até então de 25,1% — numa proporção que deverá ser conhecida até maio. “A operação indicou que o principal acionista está descapitalizado”, diz um executivo próximo à empresa. 

Dinheiro novo

Em agosto deste ano, Perini deixou a presidência executiva, ficando à frente do conselho de administração. A saída foi lida como um sinal de que as coisas iam mal — internamente Perini dizia que deixaria o comando da Lupatech apenas em 2013. Oficialmente, a antecipação foi anunciada como um avanço da governança. Segundo fontes próximas à empresa, porém, Perini saiu por pressão dos credores.

Em seu lugar, assumiu Alexandre Monteiro, que chegara à companhia cinco meses antes como vice-presidente de finanças. Entre suas tarefas estão aumentar a veloci­dade de integração de 17 empresas adquiridas nos últimos cinco anos e a urgente venda de ativos. “A Lupatech precisa de capital já”, diz Artur Delorme, analista da corretora Ativa.

Além dos 67 milhões em dívidas que vencem neste ano, outros 246 milhões de reais deverão ser pagos até setembro de 2012. (Em nota, a companhia informou que quase metade da dívida prestes a vencer em dezembro foi paga nos últimos dias.) Um pacote de ativos avaliados pela Lupatech em 200 milhões de reais está à venda desde o início deste ano.

A chegada de um novo acionista também é vista como uma solução possível — embora difícil. O novo sócio teria de ter estômago para colocar dinheiro num negócio cercado de incerteza. E, ao fazer isso, demandaria um poder que ninguém sabe se Perini estaria disposto a ceder.

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