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Nos Estados Unidos o preço do gás cai. Aqui, sobe

Com mercado livre e tecnologia, os Estados Unidos cortaram o preço do gás em 75% — e sua indústria renasceu. Já o Brasil vai no sentido contrário


	Exploração de gás nos EUA: em cinco anos, o país ganhou competitividade
 (Getty Images)

Exploração de gás nos EUA: em cinco anos, o país ganhou competitividade (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 5 de novembro de 2012 às 05h00.

São Paulo - Nos últimos cinco anos, o mercado de gás em dois países do continente americano trilhou caminhos praticamente opostos. Nos Estados Unidos, ocorreu uma história de sucesso. A oferta do produto aumentou 50%, ao mesmo tempo que o preço caiu 75% (de 12 para cerca de 3 dólares por milhão de BTUs, unidade usada para medir o gás).

Para as empresas consumidoras, a redução representou uma economia anual­ de 12 bilhões de dólares. É ganho de competitividade na veia. No Brasil, o que aconteceu foi um retrocesso. O preço do gás mais que dobrou desde 2007, de 4 para 9 dólares por unidade.

Segundo um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, esse encarecimento pode tirar meio ponto percentual da taxa de crescimento anual do produto interno bruto até 2025, abater 1,4 ponto percentual na taxa de investimento e aumentar a inflação 0,44 ponto.

Boa parte da diferença entre os dois países é explicada pela estrutura de mercado — aberta e competitiva lá, fechada e monopolizada aqui. “Nos Estados Unidos, há muitas empresas que podem entrar no mercado e competir”, diz Ashley Brown, especialista em energia da Universidade Harvard. “O Brasil tem um mercado fechado, burocrático e um campeão nacional monopolista, a Petrobras.”

Nos Estados Unidos, a cadeia do gás está pulverizada entre 6 000 empresas, a maioria delas pequenas e especializadas. Quem é responsável pelos gasodutos, por exemplo, não pode vender gás. A competição gerada pelo modelo permitiu um salto tecnológico em favor do gás.

Em 2007, quando a produção estava estagnada e o governo americano discutia a necessidade de importação, foi o setor privado que apresentou uma saída: a extração de gás de rochas de xisto, uma fonte já conhecida, mas economicamente inviável até então. Uma nova tecnologia permitiu multiplicar por 10 o volume de gás retirado das rochas, tornando a exploração rentável.

O anúncio que mudou os rumos do setor ocorreu em dezembro de 2007. A empresa texana Range Resources comunicou aos investidores que o novo método permitia a exploração do campo Marcellus, a maior reserva americana de xisto, situada entre os estados de Nova York e Kentucky.


As demais empresas do setor rapidamente aderiram à nova tecnologia e promoveram uma revolução. O país hoje extrai o gás de xisto em nove pontos, com uma garantia de fornecimento que pode chegar a um século. O efeito positivo do gás barato vai se estender pela economia nos próximos anos.

A projeção é que fará com que a indústria americana cresça à taxa média de 4,7% e gere 1 milhão de empregos até 2035, praticamente um renascimento para um setor que vinha migrando para a Ásia.

No Brasil, a cadeia do gás é quase toda dominada pela Petrobras. A estatal controla importação, produção e transporte. A falta de competição contamina a estrutura de custos. Como seu principal produto é o petróleo, a Petrobras impede que o preço do gás fique muito abaixo do cobrado pelo óleo combustível, porque os dois insumos são concorrentes.

Por meio de sua área de comunicação, a Petrobras confirma que o preço do gás natural acompanha o do óleo combustível e que “as cláusulas dos contratos (de fornecimento de gás) foram amplamente negociadas e consideradas adequadas pelos contratantes”. Para analistas, porém, o modelo beneficia a Petrobras. “Para o preço cair, é preciso rever o monopólio”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Os efeitos desse ambiente sobre a competitividade do Brasil são nefastos. A Unigel, produtora de compostos químicos, estuda gastar 300 milhões de dólares para erguer sua próxima fábrica no México, onde o preço do gás é nivelado com o americano. A fábrica poderia ser no Brasil? “Um investimento desses aqui não é mais viável”, diz Henri Slezynger, presidente da Unigel.

Em 2008, a empresa iniciou investimento similar em Candeias, na Bahia, para ampliar a produção de um insumo utilizado na fabricação de acrílicos. A decisão foi tomada com o preço do gás inferior a 10 dólares por unidade. Quando as obras foram concluídas, no ano passado, aproximava-se dos 16 dólares.

Hoje, cada tonelada fabricada no Brasil carrega um custo de 205 dólares, 155 a mais do que se fosse produzida no México ou nos Estados Unidos. As exportações da fábrica baiana minguaram.


“O que não podemos fazer no Brasil vamos fazer fora”, diz Slezynger. A Petrobras refuta que seja causadora dos problemas. Sua resposta formal: “Ao rotular os preços da Petrobras como responsáveis pela perda de competitividade da indústria nacional, não se considera que a competitividade do gás vem sendo mantida frente a seu substituto, o óleo combustível”.

A balança comercial dá outros indicadores de perda. Os seis setores que mais usam gás (vidro, cerâmica, papel e celulose, química, siderurgia e alumínio) saíram de um superávit de 5 bilhões de dólares em 2005 para um déficit de 16 bilhões no ano passado. As perdas se disseminam porque o gás no Brasil é mais caro também que o de competidores como China, Índia, Espanha e Turquia.

A abertura do mercado para investimentos privados é apontada como o caminho para dotar o país de competição e resolver problemas de infraestrutura, como a falta de gasodutos — outro monopólio da Petrobras.

Os Estados Unidos vivem hoje uma revolução na base de sua economia, com implicações globais — devem depender cada vez menos do petróleo do conturbado Oriente Médio. São, mais uma vez, exemplo para nós.

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